Cação: crueldade, extinção e malefícios à saúde

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Cação é o nome comercial da carne de elasmobrânquios, a família de peixes cartilaginosos que conta com os tubarões e as raias. Esse produto representa um risco para essas espécies de animais aquáticos, mas também para a saúde alimentar do ser humano.

Uma pesquisa, publicada pela revista científica Marine Policy, apontou que o Brasil está em primeiro lugar no ranking de importadores de carne de tubarão no mundo todo, na frente de países asiáticos onde o consumo da carne é algo tradicional. No entanto, muitas pessoas compram o cação sem saber qual é o peixe que estão comendo.

Tubarão internacional 

A caça de tubarões no Brasil é proibida, mas a carne do animal aquático pode chegar ao país de outras formas. Para que seja vendida como cação, a carne de tubarão chega no Brasil por meio da importação de países asiáticos. Nessas regiões, o consumo da barbatana do tubarão em sopas é um sinal de luxo e riqueza.

Antigamente, para colher a barbatana do animal era praticado o finning, técnica que consistia em retirar essa parte do corpo e depois jogar o tubarão de volta ao mar. De qualquer forma, o peixe cartilaginoso acaba morrendo, sem contar que a prática chega a ser cruel com a espécie.

Por isso, realizar o finning virou crime em certas localidades, e o mercado teve que encontrar outro destino para a carne do tubarão. A resposta foi vender esse produto para países como o Brasil, que se beneficia do comércio de peixes. 

Cação é tubarão?

Na teoria, o cação deveria ser um nome para a carne de tubarão, mas nem sempre é o que acontece. Em um estudo, uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) avaliou a procedência de 63 amostras de cação de barcos pesqueiros do Sul do país. Ao final da análise, os estudiosos descobriram que as carnes analisadas correspondiam a 20 espécies diferentes de peixes. 

O mais chocante para os pesquisadores era que algumas “cações” não eram nem mesmo peixes cartilaginosos, eram apenas uma peça aleatória de peixe sendo vendida como cação. Além disso, a pesquisa também mostrou que das 20 espécies encontradas, 40% estão sofrendo com o risco de extinção.

O consumo de carne de cação já preocupava a comunidade ambientalista anteriormente, afinal, peixes cartilaginosos têm boa parte de sua família em risco de extinção, mas a preocupação aumentou. Isso porque não são apenas o tubarão-martelo ou a raia-viola que estão sendo caçados de forma irresponsável, mas várias outras espécies de fora da família dos elasmobrânquios. 

Especialistas culpam essa prática pela falta de informação e de regulamentação por parte do poder público. Se a população tivesse conhecimento sobre quais espécies fazem parte da denominação “cação”, talvez houvesse uma redução considerável do produto na indústria pesqueira

Imagem de Andrea Bohl por Pixabay

Por que não comer cação?

Você deve estar se perguntando: por que não comer peixe vendido como cação? A resposta é simples e diversa. A produção de cação é cruel e traz desequilíbrio para a natureza. Além da morte de espécies ameaçadas de extinção, essa pesca pode estar interferindo na balança de ecossistemas essenciais para a sobrevivência humana. 

Algumas espécies de elasmobrânquios têm um processo longo de reprodução, que é impactado negativamente pela caça. Muitas vezes, quando se tem uma alta demanda por qualquer tipo de cação, a pesca aumenta, e as espécies sofrem, pois o número de animais mortos pode ser maior do que de possíveis filhotes, o que aumenta os riscos de extinção.

De forma simples, a quantidade de elasmobrânquios não é suficiente para existir uma pesca equilibrada. Para além disso, a falta desses animais nos ecossistemas pode significar desequilíbrio na cadeia alimentar, já que não existirão mais predadores para as presas, e muitas populações animais poderão enfrentar a superpopulação e escassez de comida.

Biomagnificação

Outro fator que deve ser levado em consideração na hora de comprar o cação é que a carne desses animais, principalmente de tubarões, são cheias de metais pesados que fazem mal à saúde. 

Os tubarões estão no topo da cadeia alimentar aquática, logo, eles se alimentam de presas que têm acúmulo de outros alimentos. Essa escada de animais, que vão se alimentando um do outro, vai acumulando metais pesados nos organismos, e consequentemente, a espécie no fim da cadeia alimentar vai ter a maior concentração de substâncias tóxicas – esse processo é conhecido como biomagnificação.

Por isso, você precisa evitar o consumo desse tipo de carne. A presença de metais pesados no corpo humano pode causar problemas como doenças neurológicas, como o mal de Alzheimer e o mal de Parkinson. Sem contar que, ao parar de comer cação, você também para de contribuir com a indústria de crueldade animal

Regulamentação

Alguns ambientalistas e especialistas em biologia marinha acreditam que para tentar evitar os impactos nocivos do consumo do cação é preciso ficar de olho nas vendas do alimento. Ou seja, é preciso de regulamentação sobre como deve funcionar o mercado da carne, quais são os componentes necessários para garantir que ela possa ser vendida e o mais importante é a denominação de qual espécie está sendo oferecida como cação.

Só assim o poder público teria controle do que está sendo comercializado, e aí poderia  buscar formas de combater a pesca ilegal, a caça, e a extinção de espécies que são importantes para o ecossistema. 

Ana Nóbrega

Jornalista ambiental, praticante de liberdade alimentar e defensora da parentalidade positiva. Jovem paraense se aventurando na floresta de cimento de São Paulo.

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