Saiba como a Camellia sinensis dá origem a vários tipos de chás e conheça seus benefícios
No Brasil e em Portugal, qualquer bebida feita por meio do processo de infusão de frutos, folhas, raízes e ervas é chamada de chá; mas o “verdadeiro” chá é uma bebida produzida a partir das folhas da Camellia sinensis. O que é popularmente conhecido como chá deveria ser denominado “tisana” – ou seja, o seu chazinho de camomila, cidreira, tília, menta, limão ou flor de laranjeira não passa de uma tisana.
O que é a Camellia sinensis?
Pois é, te enganaram por todos esses anos! É hora de descobrir mais sobre o “verdadeiro” chá. A Camellia sinensis, também chamada de chá-da-índia, é uma planta nativa de regiões subtropicais com clima de monções, mas também se adapta bem a climas tropicais, especialmente em altitudes elevadas. A planta é perene, do tipo arbustiva, da família das teáceas (Theaceae).
No Brasil e em Portugal são popularmente chamadas de chá também bebidas feitas através da infusão de frutos, folhas, raízes e ervas contendo ou não folhas de chá (lembrando que o nome correto dessas bebidas seria “tisana”). Ex.: camomila (que, para além da bebida, também pode ser usada como essência aromática), cidreira, tília, menta, limão, flor de laranjeira.
Breve histórico da Camellia sinensis
A Camellia sinensis é originária do sudeste asiático. O primeiro registro escrito sobre o uso do chá data do século III a.C. O primeiro tratado com caráter técnico conhecido sobre o chá foi escrito no século oitavo da nossa era, na China. Isto definiu o papel deste país como responsável pela introdução do chá no mundo.
No início do século IX, a cultura do chá foi introduzida no Japão por monges budistas que importaram a planta da China. Acredita-se que os primeiros contatos da Europa com esta bebida tenham acontecido através dos portugueses no século XVI.
A Camellia sinensis é cultivada no Brasil desde o início do século XIX. Atualmente, o Vale do Paraíba, região do estado de São Paulo, é o maior produtor de chá do país e a produção é voltada para a exportação.
Substâncias presentes na Camellia sinensis e para o que serve
1. Teofilina
Essa substância presente na Camellia sinensis pode ser usada nos tratamentos de asma e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), além de ser estimulante do sistema nervoso central (ela age antagonicamente à adenina, que é um neurotransmissor depressor).
Ela também estimula a secreção de ácido e enzimas pelo estômago, estimula a contração cardíaca (aumentando a taxa de batimentos cardíacos), aumenta a vigília, a ansiedade e os tremores. Em doses altas provoca convulsões.
Por fim, também tem papel broncodilatador, estimula os movimentos do diafragma e a contração do músculo esquelético cardíaco.
2. Cafeína
Entre outras funções, a cafeína presente na Camellia sinensis aumenta a produção de suco gástrico e estimula o sistema nervoso central. Em excesso, causa agitação, ansiedade, dor de cabeça, insônia, contração dos vasos sanguíneos e aceleração dos batimentos cardíacos.
A cafeína também ajuda no aumento da concentração, melhora o humor, diminui a fadiga e, em alguns casos, também é usada no tratamento de dores de cabeça, porque ela age contraindo os vasos sanguíneos que normalmente são os causadores desta moléstia. Além disso, provoca um aumento discreto na frequência e intensidade da respiração.
Há estudos relacionando o consumo da cafeína com o controle do aparecimento e/ou agravamento da doença de Parkinson.
Outro uso terapêutico desta substância é no controle dos sintomas da TPM.
Por fim, ela é bastante diurética, o que significa que, se por um lado preparar o chá e consumí-lo pode ajudar a emagrecer e controlar o peso, por outro lado a cafeína presente nele pode agravar quadros de desidratação do organismo.
3. Tanino
O tanino presente na Camellia sinensis tem diversas características:
- Antídoto em intoxicações por metais pesados e alcaloides;
- Adstringente, ou seja, contrai ou recobre tecidos orgânicos diminuindo secreções ou formando camadas protetoras. Através da contração de tecidos combate inflamações na boca, garganta, intestinos e órgãos genitais. Provoca a contração das mucosas, vasos (inclusive os sanguíneos) e tecidos.
- Cicatrizante;
- Antidiarreico;
- Antisséptico, ou seja, pode desinfetar ferimentos;
- Antioxidante;
- Diminui a capacidade de absorção do ferro;
- Uso dermatológico: limpeza e equilíbrio de peles oleosas.
4. Flavonoides
Eles auxiliam na absorção de vitamina C. Também têm ações: anti-inflamatória, antialérgica, anti-hemorrágica e antioxidante, combatendo os radicais livres. Há estudos estabelecendo a relação do uso terapêutico dos flavonoides com a prevenção do câncer e doenças cardiovasculares.
Especificamente quanto à planta Camellia sinensis, dermatologistas estudam seu possível uso na proteção aos efeitos nocivos do Sol, porque reduz a inflamação da pele. E o tipo de flavonoide encontrado nesta planta são as flavanas, que são incolores.
Qual chá tem Camellia sinensis?
Todos os tipos de chá obtidos a partir da Camellia sinensis possuem praticamente as mesmas substâncias, mas em concentrações diferentes por causa dos processos de preparação. Os mais conhecidos são:
Chá branco
O chá branco é caracterizado por ter as folhas jovens que não sofreram os efeitos da oxidação.
Chá verde (ou green tea)
A oxidação das folhas do chá verde é interrompida pela aplicação de calor.
Oolong
No chá oolong a oxidação é interrompida em um ponto intermediário entre o de origem ao chá verde e ao chá preto, resultando em um chá vermelho ou um chá amarelo.
Chá preto
A oxidação é em grande quantidade.
Produção do chá da camellia sinensis
Há dois métodos: o ortodoxo e o CTC (Cortar, Triturar, Concentrar). Eles seguem basicamente cinco etapas bem parecidas, sendo a maior diferença o fato de que a maneira ortodoxa é geralmente manual, já a CTC é feita em máquinas. A produção do chá preto após o transporte das folhas, da plantação para a fábrica, costuma ser a seguinte:
1. Drenagem
As folhas são separadas em grandes porções e drenadas para liberar umidade;
2. Rotação
No método ortodoxo, as folhas inteiras são giradas para liberar umidade. No método CTC, as folhas em pedaços pequenos passam pelo mesmo processo, resultando um aspecto de pó;
3. Oxidação
As folhas são separadas em um ambiente frio e úmido. Sua coloração inicial é verde, mas à medida em que o oxigênio reage com o tecido celular, a coloração fica acobreada (parecido com o que acontece às folhas no outono);
4. Secagem
As folhas são secas com ar quente. Sua cor passa de cobre para marrom ou preto;
5. Triagem
Seleção das folhas de acordo com seu tamanho e qualidade.
Impactos ambientais e alternativas
No cultivo de chá, alguns impactos podem ocorrer, principalmente em produções em larga escala pouco preocupadas com riscos ambientais:
- Perda de habitats e efeitos sobre a biodiversidade;
- Como o cultivo é geralmente feito em terrenos montanhosos, há um efeito de erosão;
- Poluição da água e do solo pelo uso de agroquímicos;
- Desmatamento.
Já no processamento, o principal dano é a eliminação de resíduos. A lavagem das folhas produz águas residuárias biologicamente contaminantes que, lançadas em cursos d’água, podem contaminar as águas superficiais e a fauna aquática.
Algumas alternativas para Camellia sinensis
No entanto, é possível dar preferência ao chá produzido organicamente, sem utilização de agrotóxicos, o que evita a erosão, não afeta a saúde do solo e não polui a água.
Caso não haja essa variedade orgânica, dê preferência ao produto que contou com herbicidas seletivos (eliminam somente certos tipos de ervas daninhas). As empresas que fazem uso de qualquer tipo de agrotóxico devem fazer o tratamento de água industrial.
Como fazer chá a partir da Camellia sinensis:
- Aqueça a água em um recipiente de alumínio. Para um sabor melhor, use água filtrada ou mineral não destilada. A água deve ser fervida uma única vez para que seu nível de oxigênio não caia muito e a bebida tenha um gosto mais agradável;
- Preaqueça a caneca para que a água não perca muito calor quando for despejada. Canecas de cerâmica e porcelana retêm melhor o calor;
- Coloque a erva no fundo da caneca na proporção: um sachê ou entre uma e duas colheres de chá para uma caneca;
- Despeje a água na caneca. Para o chá preto, água fervente, para os chás branco e verde, o ideal é que a temperatura da água esteja entre 75 °C e 85 °C. O oolong precisa da água na temperatura entre 85°C e 98°C. Quando usar sachê, não deixe a água ferver, pois a planta está em fragmentos minúsculos, o que aumenta a superfície de contato com a água, portanto, a água deve estar ligeiramente mais fria.
- Deixe a bebida descansando em um recipiente coberto (para preservar o calor). O tempo de infusão varia de dois a cinco minutos. Se passar muito disso, o tanino é liberado e a bebida fica com um gosto mais amargo. Pelo mesmo motivo, não se deve agitar a bebida enquanto é preparada, se quiser um chá mais forte, use mais sachês ou folhas.
- Ao ser servido, costumeiramente o chá é acompanhado de açúcar, limão, entre outros.