Foto de Stijn te Strake no Unsplash
Por Alana Almeida de Souza – Imaflora | A pecuária brasileira, de um setor tradicionalmente associado a desafios ambientais, tem se reinventado para atender a um novo cenário, onde a sustentabilidade e a transparência são elementos essenciais para garantir acesso a mercados e a confiança do consumidor. Mas como chegamos até aqui e o que ainda precisa ser feito?
A história dessa mudança começou a ganhar força em 2009, quando os maiores frigoríficos do Brasil – JBS, Marfrig e Minerva – assumiram acordos de monitoramento da origem do gado adquirido na Amazônia Legal, como o TAC da Carne Legal e o Compromisso Público da Pecuária. Os documentos estabelecem diretrizes para evitar que a carne bovina comercializada esteja associada ao desmatamento, invasão de terras indígenas, áreas embargadas ou autuadas por trabalho análogo ao escravo. O objetivo era criar um sistema rastreável, monitorável e verificável, capaz de garantir a conformidade socioambiental na cadeia de fornecimento.
O setor de varejo também seguiu essa tendência. A partir de 2013, grandes redes supermercadistas, como Carrefour, Grupo Pão de Açúcar e Walmart (atualmente Grupo BIG, integrado ao Carrefour), assumiram compromissos para eliminar o desmatamento de suas cadeias de fornecimento. Essas empresas passaram a monitorar seus fornecedores diretos e a desenvolver ferramentas de controle para garantir que suas compras estivessem alinhadas a critérios ambientais cada vez mais exigentes.
Desde a assinatura dos primeiros Termos de Ajustamento de Conduta (TACs) com o Ministério Público Federal (MPF), frigoríficos e varejistas avançaram na criação de sistemas de monitoramento e auditoria. No entanto, como os procedimentos foram desenvolvidos individualmente por cada empresa, surgiram inconsistências nos critérios de avaliação de conformidade. Um mesmo fornecedor poderia ser aprovado por um frigorífico e reprovado por outro, por exemplo, gerando insegurança na cadeia produtiva.
Diante desse desafio, o setor, chancelado pelo MPF, passou a trabalhar na padronização dos protocolos de monitoramento, com isso, o “O Protocolo de Monitoramento de Fornecedores de Gado da Amazônia”, trouxe mais uniformidade e transparência ao processo e passou a ser uma referência para o mercado.
A partir de 2022, o 1º Ciclo Unificado de Auditorias da Amazônia avaliou transações de compra de gado em cinco estados da Amazônia Legal (Pará, Mato Grosso, Rondônia, Acre e Amazonas), cobrindo um período de 18 meses. Com a participação dos procuradores da República dos estados envolvidos, os resultados desse ciclo foram apresentados em outubro de 2023, e o 2º Ciclo já está em andamento, analisando transações de 2022.
O Programa Boi na Linha promove a implementação do Protocolo de Monitoramento 2.0, para que frigoríficos, produtores e varejistas busquem estar alinhados às exigências impostas pelos TACs.
Nosso trabalho é conectar os diferentes elos da cadeia produtiva, orientando frigoríficos e empresas na adoção de boas-práticas de rastreamento e monitoramento. Aderir ao Protocolo 2.0 significa estar na vanguarda da sustentabilidade, garantindo acesso a mercados exigentes e fortalecendo a confiança do consumidor.
Além de apoiar auditorias e avaliações periódicas, buscamos estimular a adoção de soluções inovadoras que transformam desafios em oportunidades. A rastreabilidade do gado é uma delas, que se apresenta como um diferencial competitivo que agrega valor ao produto brasileiro no mercado global.
O Protocolo 2.0 está em vigor desde a virada do ano, trazendo novas diretrizes e avanços no monitoramento. O caminho para uma pecuária sustentável ainda exige esforço conjunto e comprometimento, mas os avanços são inegáveis.
Se você atua nos setores de produção, frigoríficos ou varejo, agora é o momento de fortalecer suas estratégias de sustentabilidade e conformidade. Conheça as boas práticas que podem transformar desafios em oportunidades e garantir que a pecuária brasileira continue evoluindo com responsabilidade socioambiental e competitividade.
Este texto foi originalmente publicado pela Imaflora, de acordo com a licença CC BY-SA 4.0. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.
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