O capitalismo verde, ou eco-capitalismo, é uma ideologia e perspectiva econômica em que o mercado livre é usado para atenuar as alterações climáticas antropogénicas. Sendo assim, o conceito é baseado na ideia de que o capitalismo pode ser usado como forma de mitigar os impactos ambientais, causados pelo próprio.
Organizações mundiais, como as Nações Unidas, têm chamado a atenção para a importância da indústria e do mercado no que diz respeito às mudanças climáticas e aos impactos ambientais que assolam a Terra nas últimas décadas. Desse modo, a responsabilidade deve cair em cima das grandes empresas capitalistas, uma vez que as emissões de gases de efeito estufa (GEE) estão historicamente relacionadas à industrialização e ao crescimento econômico.
Sendo assim, o capitalismo verde, ou eco-capitalismo, defende a ideia de que é possível reduzir o impacto do homem no meio ambiente através de ações mercadológicas. Para isso, o mercado funciona aplicando as seguintes práticas:
Compensação de carbono: prática em que um sistema promove o intercâmbio entre quem gera créditos de carbono por reduzir emissões e aqueles que precisam compensar as suas emissões residuais. O crédito é uma unidade de medida que corresponde a uma tonelada de dióxido de carbono equivalente. Desta forma, uma compra os créditos da outra, como forma de investimento;
Inovação tecnológica: uso de novas tecnologias para reduzir as emissões de GEE ou para o sequestro de carbono da atmosfera;
Consumo consciente: empresas desenvolvem produtos “ecológicos” e oferecem eles ao consumidor como a melhor alternativa de consumo para a redução dos impactos ambientais antropogênicos;
Energia renovável: investimento em fontes de energia sustentável para reduzir o impacto do uso de combustíveis fósseis, como o petróleo — grande contribuinte para as emissões de GEE;
Ecoturismo e aproveitamento de terra: consiste na ideia de que para salvar a natureza é preciso vender terras, com o intuito de preservá-las. Um exemplo é o ecoturismo e a criação de estruturas sustentáveis, como moinhos de vento, para aproveitamento da população;
Para muitos especialistas no assunto, o capitalismo verde pode ser visto como um paradoxo. Isso porque o conceito é idealizado de forma que o seu objetivo seja reduzir a expansão comercial e a produção em prol do meio ambiente. No entanto, em tese, esse sistema econômico se baseia na expansão, consumo e crescimento econômico, através da exploração de recursos e ecossistemas naturais.
Para Adrienne Buller, escritora do livro “O valor de uma baleia: sobre as ilusões do capitalismo verde”, o capitalismo verde é o ato de “espremer a crise climática e de biodiversidade através da lente da economia neoclássica”. Em seu livro, ela exemplifica o conceito com o exemplo das baleias que são vistas em sua cidade natal, Vancouver, Canadá.
Segundo a autora, todos os anos esses animais traziam milhares de turistas para a cidade, em uma espécie de ecoturismo. Ao analisar os dados de 2019, a escritora percebeu que todos os anos, cada uma dessas baleias geraram um lucro de dois milhões de dólares canadenses para o capitalismo local.
Desta forma, ela argumenta que essa versão descarbonizada do capitalismo preserva desigualdades enquanto cria novas oportunidades de lucro, o que não é uma resposta viável e justa para o desenvolvimento sustentável.
Além das táticas do capitalismo verde citadas acima, Buller cita mais uma, em que as grandes empresas, como meio de fazer a manutenção do sistema, moldam a política climática do governo. Assim, elas conseguem obter opções que sejam mais agradáveis para o seu bolso, gerando privilégio. Adrienne ainda pontua que: “nem toda política climática é uma boa politica”.
Já existem evidências acadêmicas de que o capitalismo verde pode ser apenas uma tentativa de “empurrar a sujeira para debaixo do tapete”. Estudiosos entendem que a situação do meio ambiente poderia ser bem pior do que é sem as ações do ecocapitalismo. E que, além disso, as novas tecnologias têm tido um resultado considerável na redução dos danos ecológicos.
Entretanto, eles pontuam que essas ações não são o suficiente para mitigar as emissões de carbono e os impactos ambientais antropogênicos. Ou seja, apesar de estarem postergando estragos maiores, a longo prazo, elas não vão gerar benefícios realmente importantes para as próximas gerações.
Isso é ainda mais perceptível quando se fala de técnicas como o greenwashing. Devido a natureza consumista do capitalismo, tudo aquilo que se enquadre como “ecológico”, se torna um produto. As pessoas, cada dia mais preocupadas com o futuro da humanidade e do planeta, passam a consumir produtos vendidos como sustentáveis, sem se preocupar se a empresa responsável realmente se encaixa neste conceito.
Ai que entra o greenwashing. Algumas empresas se vendem como “eco-friendly”, apesar de não contribuírem em quase nada com a luta. Essas organizações comumente tentam “conscientizar” o cliente, colocando toda a culpa do declínio ambiental neles, sem realmente dedicar sua produção para algo com menos pegada ecológica.
Por exemplo: empresas que investem em energia renovável, porém se beneficiam do trabalho forçado para a sua produção. Por esse motivo, o cliente final vai precisar dobrar seu conhecimento sobre o que é ou não eco-friendly e quais organizações realmente estão engajadas no movimento.
São esses motivos que levam alguns especialistas a crença de que a sustentabilidade e o capitalismo não conseguem ter uma relação mútua. Afinal, um dos lados sempre vai ser prejudicado, com base em seu conceito e objetivos.
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