O caranguejo-ferradura é uma espécie de artrópode que vive na Terra há cerca de 400 milhões de anos, quase 200 milhões de anos a mais que os dinossauros. A estrutura do caranguejo-ferradura permitiu que o animal sobrevivesse todas essas Eras, intacto. No entanto, a exploração da espécie realizada pelo ser humano pode determinar o seu fim.
Apesar do nome ser caranguejo-ferradura, o artrópode não tem muitas semelhanças com os crustáceos. Na verdade, ele está mais próximo de aranhas e escorpiões. Ao todo, ele tem dez pernas, cinco de cada lado do seu corpo. Porém, ele possui dois pares de pernas extra que ficam posicionadas perto da sua boca. Elas são usadas para que ele leve o alimento até o orifício.
Cabeça: a cabeça do caranguejo-ferradura é arredondada e semelhante à ferradura de um cavalo, por isso o nome. Ela é a maior parte do corpo do artrópode e contém a maior parte dos órgãos nervosos e biológicos. O coração, o cérebro, a boca, o sistema nervoso e as glândulas ficam na cabeça, todos protegidos por uma carapaça grande. O animal tem, ao total, nove olhos, sendo dois deles usados para encontrar parceiros;
Abdômen: essa região do corpo se parece com um triângulo com espinhos nas laterais, que são usados para a autodefesa do caranguejo-ferradura. Na parte inferior do seu abdômen, se encontram os músculos utilizados para a respiração e movimento, como as pernas e as brânquias;
Cauda: pontuda e longa, a cauda do caranguejo-ferradura pode parecer intimidante devido a sua aparência perfurante. Mas diferente do que parece, a cauda desse animal tem esse formato para ajudá-lo a se virar caso acabe de cabeça pra baixo na areia. Ou seja, ela não é venenosa ou perigosa.
Outra curiosidade sobre o caranguejo-ferradura é que o macho pode chegar até 38 centímetros de largura, enquanto a fêmea chega a 48 centímetros. Assim como seus parentes, os escorpiões, essa espécie apresenta florescência, brilhando sobre a luz ultravioleta. Os cientistas ainda não conseguiram informações para explicar o porquê desse fenômeno.
O caranguejo-ferradura se alimenta de minhocas, moluscos e algumas vezes de algas. Devido à ausência de mandíbula, esses animais quebram o alimento com as patas antes de o ingerir.
Existem quatro espécies do caranguejo-ferradura no mundo todo, três delas ficam na Ásia e uma nos Estados Unidos, mais precisamente no golfo do México. Os que vivem no Oriente são o caranguejo-ferradura tri-espinha (Tachypleus tridentatus), o caranguejo-ferradura costeiro (Tachypleus gigas) e o caranguejo-ferradura dos manguezais (Carcinoscorpius rotundicauda).
Já o caranguejo-ferradura do Atlântico, o Limulus polyphemus, é conhecido por habitar a costa dos Estados Unidos. Esses animais sobem para a baía de Delaware todos os anos, nas noites de lua da primavera do hemisfério norte, com intuito de reproduzir. Neste momento, são expelidos mais de 4 mil ovos na areia da praia.
Grande parte desses ovos não chegam nem a eclodir, já que são devorados por pássaros que visitam a costa praieira. Porém, aqueles que sobrevivem se direcionam ao mar. Ficam morando próximo a beirada até completarem dez anos de vida, quando atingem a vida adulta e se mudam para o fundo dos oceanos.
Diferente do sangue humano, o caranguejo-ferradura tem sangue azul. Isso acontece porque a proteína que transporta oxigênio para as células é diferente da que tem essa mesma função nos seres humanos. Chamada de hemocianina, a proteína tem mais cobre do que ferro em sua composição, o que faz com que o sangue desses animais seja azul.
O sangue do caranguejo-ferradura é importante para a indústria farmacêutica. Dele é extraído uma substância chamada lisado de amebócitos do limulus (LAL), ou limulus amebocyte lysate, que é usada nos testes de vacinas. O intuito do uso da substância é verificar se a vacina não está infectada com a bactéria endotoxina, que causa diversos problemas à saúde.
Desta forma, diversas empresas ao redor do mundo trabalham retirando o sangue do caranguejo-ferradura para poder vendê-lo a grandes farmacêuticas. Todos os anos, quando o artrópode sobe para a superfície para reproduzir, funcionários dessas empresas recolhem pelo menos meio milhão de caranguejos e levam para que seja colhido o seu sangue.
Apesar de serem devolvidos à natureza depois da prática, uma parte desses animais acaba morrendo. No ano de 1994, estimava-se que um total de 1,24 milhão de caranguejos-ferradura subiam para reproduzir na baía de Delaware. No entanto, com o avanço da indústria das vacinas, esse número caiu para 333,5 mil em 2002, e se manteve até o ano de 2019 – última vez que foi realizada a contagem. O que aponta uma séria redução da espécie, que pode causar a sua extinção.
Já existe uma alternativa sintética para o lisado de amebócitos do limulus. O seu nome é fator C recombinante (rFC), que já foi aprovada em vários locais do globo, como na Europa e na Ásia. Mas, os EUA continuam relutantes em aderir este tipo de alternativa, com seus órgãos regulatórios negando os pedidos de aprovação devido à falta de confiança no produto.
Além da indústria farmacêutica, o caranguejo-ferradura também tem desaparecido das costas devido à pesca ilegal e ao aumento do nível do mar. Em países da Ásia, como a China, esses animais têm sofrido riscos de extinção devido ao aumento da poluição marítima e à rápida evolução dos níveis dos oceanos. No Taiwan, o animal já foi localmente extinto.
A falta de caranguejos-ferradura causa a perda de biodiversidade local, já que as espécies locais que costumavam predar o caranguejo vão se extinguindo lentamente.
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