Foto de Chris LeBoutillier na Unsplash
Carbon washing é uma estratégia empresarial de greenwashing na qual fabricantes alegam que seus produtos ou serviços são “carbono zero”, “carbono neutro” ou “net zero”, mesmo não sendo. Em outras palavras, as empresas enganam consumidores ao anunciar que alguma parte de sua cadeia produtiva, ou ela inteira, é livre de emissões de CO2 e outros gases do efeito estufa (GEE).
Essa estratégia se intensifica com a falta de uma definição concreta e mais estabelecida sobre o que é ser “carbono neutro”. Assim, esses termos são vagos, fazendo com que empresas se aproveitem da terminologia para enganar os consumidores. Isso dá a impressão de que seus produtos e serviços não contribuem para as emissões e que, às vezes, ajudam a reduzi-las.
Quando uma empresa declara ser mais sustentável do que realmente é, a prática é conhecida como greenwashing. Porém, à medida que os consumidores começaram a aprender a identificar o greenwashing, as estratégias empresariais começam a ficar mais sofisticadas e discretas. Assim, as empresas que têm o objetivo de camuflar suas práticas poluentes encontram novas maneiras de enganar o público.
O carbon washing, portanto, faz parte de uma lista de diversas práticas empresariais que prejudicam o meio ambiente. Confira mais sobre os outros tipos de greenwashing:
O carbon washing acontece, principalmente, em algumas empresas que utilizam métodos de compensação de carbono e, por isso, alegam ser carbono neutro. Essa compensação é um processo em que empresas ou indivíduos neutralizam as suas emissões de gases do efeito estufa por meio de investimentos em remoções equivalentes às próprias emissões da empresa na atmosfera.
Alguns exemplos de técnicas de compensação incluem reflorestamento, energias renováveis, captura e combustão de metano e conservação de energia.
Quando feitos corretamente, a compensação de carbono pode diminuir as emissões ou aumentar o armazenamento de carbono. Entretanto, segundo um artigo publicado pela ONG Earth, esse processo pode ser considerado uma solução de curto prazo. Isso porque ele não trata de forma definitiva as fontes das emissões, como o uso de combustíveis fósseis.
Além disso, quando uma empresa implanta um projeto de compensação de carbono mas não trabalha em reduzir suas emissões internas de GEE, a compensação torna-se ineficaz. Isso porque as emissões totais não diminuíram. Assim, apenas uma pequena parcela foi compensada.
Outra maneira de praticar o carbon washing é investir em projetos de compensação que não ajudam de fato. Para que sejam eficazes, os projetos não devem investir em programas de redução ou remoção de emissões que aconteceriam independentemente do investimento da empresa.
Como exemplo, uma empresa pode investir em compensação de carbono pela conservação de uma floresta. No entanto, essa floresta nunca esteve em perigo de ser cortada. Quando isso acontece, o projeto não tem qualquer adicionalidade real na redução das emissões de uma empresa.
Devido á falta de consenso sobre a definição de alguns termos no mercado de carbono, muitas empresas praticam o carbon washing usando esses rótulos de forma inadequada.
Uma empresa de construção, por exemplo, pode afirmar que é net zero em termos do carbono emitido no uso de seu estabelecimento, mas não em relação ao carbono emitido pela construção e pela cadeia de fornecimento de materiais.
Entretanto, isso significa que a empresa não cumpre os requisitos para ser net-zero. Isso porque o termo é amplamente compreendido como uma característica de algo que não há contribuições líquidas para o carbono atmosférico durante todo o ciclo de vida de um produto, edifício ou empresa.
Um artigo do professor de Oceanografia na Universidade do Havaí em Manoa, publicado na revista Nature, compara a captura de carbono com uma máquina do tempo ineficaz. Para tanto, o professor levou em conta os centros de captura de CO2 dos Estados Unidos. Espera-se que cada instalação capture 1 milhão de toneladas de CO2 da atmosfera por ano.
Em 2022, o mundo emitiu cerca de 40,5 bilhões de toneladas de CO2 na atmosfera. Neste ritmo, cada centro de captura de carbono levaria a atmosfera de volta ao tempo em apenas 13 minutos. No entanto, no tempo utilizado para remover essa quantidade de CO2, o mundo já teria emitido gases do efeito estufa equivalentes a um ano de volta para a atmosfera.
No caso do reflorestamento, se cada pessoa no mundo plantasse uma árvore (8 bilhões de árvores), essa captura voltaria no tempo apenas 43 horas de CO2 a cada ano.
Essa analogia serve para mostrar a importância de investir em outras tecnologias e técnicas de redução de emissões. Dessa forma, a compensação de carbono consegue fazer seu papel de forma eficaz. Isso porque, enquanto as emissões de empresas que praticam carbon washing por meio da compensação de carbono não forem reduzidas, produtos e serviços intitulados como carbono neutro não serão neutros de verdade.
Como qualquer prática de greenwashing, desmascarar o carbon washing requer muita atenção e exigência por parte dos consumidores. É preciso investigar empresas envolvidas com compensação de carbono, por exemplo, e confirmar se há também estratégias de redução de emissões.
Também é importante monitorar a transparência, registros e relatórios de sustentabilidade de empresas. As descrições e medidas devem ser bem definidas, com protocolos e sem presença de terminologias vagas que podem ser falsas.
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