Carbono azul: o que é e importância

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Carbono azul, ou blue carbon, é um conceito que engloba todo o carbono que é capturado da atmosfera e oceano. Em contraposição ao “carbono verde”, associado principalmente aos ecossistemas terrestres, o carbono azul é armazenado nos ecossistemas costeiros, que são reconhecidos como algumas das regiões mais produtivas do planeta. Esses ecossistemas costeiros desempenham um papel fundamental ao fornecer serviços ecossistêmicos essenciais, tais como:

Assim, os ecossistemas costeiros são importantes no contexto das mudanças climáticas. Eles são formados pelos manguezais, pântanos e angiospermas marinhas.

Esses ecossistemas sequestram e armazenam grandes quantidades de carbono presente nas plantas e em sedimentos de rocha. Mais de 95% do carbono presente nos prados de angiospermas marinhas é armazenado nos solos. Usando apenas 2% da área total do oceano, os habitats costeiros armazenam 50% de todo o carbono capturado nos sedimentos oceânicos.

Entretanto, os manguezais estão sendo eliminados a uma taxa de 2% ao ano. Especialistas estimam que essa destruição leva a emissões de carbono que representam até 10% das emissões provenientes de degradação ambiental. Isso levando em conta que os manguezais cobrem apenas 0,7% da cobertura da terra.

Os pântanos salgados estão sendo perdidos a uma taxa de 1-2% ao ano, tendo já perdido mais de 50% de sua cobertura original. Enquanto as angiospermas marinhas cobrem menos de 0,2% do fundo do oceano, mas armazenam cerca de 10% do carbono oceânico por ano. Elas estão sendo perdidas a uma taxa de 1,5% ao ano, tendo já perdido 30% de sua cobertura original.

Por que é importante preservar ecossistemas costeiros?

A preservação dos ecossistemas costeiros desempenha um papel crucial na mitigação das mudanças climáticas e na manutenção do equilíbrio ambiental. Estudos realizados pela Universidade Federal de Santa Catarina, por exemplo, têm demonstrado a relevância dessas áreas para a captura e o armazenamento de carbono azul.

Quando os ecossistemas costeiros são protegidos ou restaurados, eles se tornam verdadeiros “sumidouros” de carbono, capturando e armazenando quantidades significativas desse elemento. Caso não fossem armazenadas, essas quantidades estariam presentes na atmosfera, agravando ainda mais as mudanças climáticas.

No entanto, quando esses ecossistemas são degradados ou destruídos, ocorre a liberação do carbono que eles armazenavam há séculos. Isso resulta em uma emissão significativa de gases de efeito estufa, contribuindo para o aumento das concentrações atmosféricas desses gases e intensificando o aquecimento global.

Estima-se que anualmente 1,02 bilhão de toneladas de dióxido de carbono sejam liberadas de ecossistemas costeiros degradados. Essa quantidade representa aproximadamente 19% das emissões provenientes do desmatamento tropical em todo o mundo. Esses números ressaltam a urgência em proteger e preservar essas áreas valiosas, a fim de evitar a liberação descontrolada de carbono e mitigar os impactos das mudanças climáticas.

Manguezais

Os manguezais, os pântanos salgados e as angiospermas marinhas estão distribuídos ao longo das costas do mundo (seja na floresta amazônica ou mesmo em outros biomas), contribuindo para a qualidade da água costeira, a pesca saudável e a proteção costeira contra inundações e tempestades, ou seja, beneficiando o meio ambiente.

Os manguezais, por exemplo, fornecem o valor equivalente a pelo menos 1,6 bilhão de dólares a cada ano em serviços ecossistêmicos – que suportam meios de subsistência costeiros e populações humanas do mundo inteiro.

O encontro de águas doces e salgadas, combinado com o ar da atmosfera, gera a zona costeira, um local onde vive uma alta diversidade de animais e plantas e também grande parte das comunidades humanas que geram ricas culturas e práticas de uso dos recursos naturais importantes para a vida entre a terra e o mar.

Restingas

As restingas, por sua vez, com mais de 5 mil quilômetros fragmentados, ocupam cerca de 79% da costa brasileira. As principais formações ocorrem no litoral de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia. Elas começaram a surgir com o recuo do mar e permanecem em transformação com vegetais de praias arenosas; vegetação herbácea arbustiva; arbórea inundável e mata seca.

Os habitats costeiros representam metade do carbono total capturado nos sedimentos oceânicos, cobrindo menos de 2% da área total do oceano.

Segundo uma pesquisa da National Science Review, só os pântanos – apesar de ocuparem apenas 0,1% da área global – já podem compensar pelo menos 0,6% das emissões antropogênicas de CO2. Isso representa uma eficiência espacial 15 vezes superior à terrestre. Por isso é tão importante preservar os ecossistemas costeiros. Trata-se de uma grande medida para combater as mudanças climáticas.

A importância dos peixes

Os próprios peixes atuam como estoque de carbono azul. Um estudo revelou que quanto maiores os peixes deixados no mar, maior é a redução de CO2 liberado na atmosfera terrestre.

Quando um peixe morre no oceano, ele afunda nas profundezas, sequestrando todo o carbono que contém. Diferente da maioria dos organismos terrestres, que liberam seu carbono na atmosfera após a morte, as carcaças de grandes peixes marinhos afundam e sequestram o carbono nas profundezas do oceano.

Além disso, as próprias fezes dos peixes constituem cerca de 16% do carbono total sequestrado no fundo dos oceanos.

O problema é que a atividade pesqueira é responsável por extrair uma grande quantidade de carbono azul. Essa prática, portanto, contribui para emissões atmosféricas adicionais de CO2. O estudo estimou que, somente em 2014, foram emitidas 20,4 toneladas de dióxido de carbono, um valor equivalente à emissão anual de 4,5 milhões de carros.

The Blue Carbon Initiative

Imagem editada e redimensionada de Heris Luiz Cordeiro Rocha, está disponível no Wikimedia e licenciada sob CC by 3.0

A The Blue Carbon Initiative (Iniciativa Internacional Carbono Azul) é uma organização global coordenada, focada na mitigação das mudanças climáticas. Ela realiza esse objetivo por meio da conservação e restauração dos ecossistemas costeiros e marinhos. Isso é importante devido ao papel desses ecossistemas na redução dos impactos das mudanças climáticas globais.

Para apoiar este trabalho, a iniciativa está coordenando o Grupo Internacional de Trabalho Científico do Carbono Azul e o Grupo Internacional de Trabalho sobre Políticas do Carbono Azul. Eles fornecem orientações para a pesquisa necessária, implementação de projetos e prioridades políticas. Projetos estão sendo desenvolvidos em locais do mundo todo para proteger e restaurar os ecossistemas costeiros por seu valor “azul” de carbono.

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

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