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Carne de laboratório é vegana? Entenda o que a diferencia da carne convencional
A partir do desenvolvimento de carnes artificiais e cultivadas, a questão de se a carne de laboratório é vegana ou não veio à superfície. Principalmente através das promessas de uma produção de carne mais sustentável e que dispensa o abate animal, muitas pessoas começaram a considerar essa uma alternativa de carne vegetal.
Porém, para entender se a carne de laboratório pode ser vegana, é importante entender como funciona o seu processo de produção e qual a origem desse alimento.
Como é feita a carne em laboratório?
A carne de laboratório, também conhecida como carne artificial ou carne cultivada, é produzida a partir de células animais, que são obtidas através da biópsia de um animal — vivo ou recentemente abatido — ou de um óvulo fertilizado. Essas células são transportadas a um meio de cultura, em que são incentivadas a se multiplicar para a produção da carne.
O resultado dessa cultura é um produto similar a carne — com o mesmo gosto, textura, aparência e cheiro da carne de abatimento.
A primeira carne de laboratório foi produzida em 2013, quando um farmacologista holandês apresentou o primeiro hambúrguer in vitro. Contudo, sua produção em massa e consumo só foi aprovada anos depois.
Foi em 2022, por exemplo, que a FDA (Food and Drug Administration, ou Administração de Alimentos e Medicamentos, em português), dos Estados Unidos, declarou a carne de laboratório segura para o consumo no país.
Qual é a vantagem de produzir carne em laboratório?
No mundo inteiro, cerca de 70 bilhões de animais são abatidos anualmente para o consumo humano. A indústria de carne animal contribui para cerca de 15% de todos os gases de efeito estufa globais e também é um fator de desmatamento e destruição de habitat, bem como poluição da água e zonas mortas oceânicas.
Portanto, uma mudança na produção de carne pode ser considerada um grande benefício ao meio ambiente. De fato, uma pesquisa de 2011 realizada pela Oxford University comprovou que a produção de carne cultivada pode reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 96%.
Além disso, algumas células podem se reproduzir talvez de 30 a 50 vezes antes que uma nova biópsia seja necessária, o que reduz significantemente o número de abates animais para o consumo de carne.
No entanto, a produção de carne a partir de células tronco de animais não pode ser considerada exatamente sustentável. Isso se deve a grande quantidade de energia necessária para a sua confecção que, para ser considerada uma aliada na redução da produção global de carbono da agricultura global, precisa ser de origem renovável.
Porém, esse passo ainda não foi tomado na maioria dos países que impulsionaram a carne de laboratório.
Mas, afinal, a carne de laboratório é vegana?
É importante notar que o veganismo, em geral, não é uma dieta — e sim, um estilo de vida que isenta o consumo de todo produto de origem animal ou que resultou do seu sofrimento. E, embora a carne de laboratório reduza significativamente o número de abates na indústria, ela ainda é um produto de origem animal. Por isso, a carne de laboratório não é vegana.
Diferentemente de outras alternativas de carne, como as carnes vegetais, a carne cultivada depende do produto de origem animal.
Em um e-mail ao escritor freelancer Jude Whiley, Ella Marshall, vice-gerente de marca registrada da Vegan Society, a associação vegana mais antiga do mundo, disse que “não podemos apoiar oficialmente a carne cultivada, pois ainda são usados animais em sua produção […] não poderíamos registrar tais produtos com o Selo Vegano”. (1)
Isso espelha o posicionamento de grande parte da comunidade vegana em relação à carne de laboratório. Entretanto, algumas pessoas que se nomearam como “utilitárias”, acreditam que o potencial da tecnologia como um redutor do sofrimento animal na produção de carne pode ser uma coisa boa.
Em geral, pessoas que adotam o estilo de vida vegano não precisam consumir carne de laboratório. Porém, desencorajar “carnistas” desse ato pode ser contraintuitivo para a redução do sofrimento animal.
Se a produção da carne artificial aumentar como preveem os números da Research and Markets — que indicam que toda a indústria pode chegar a quase 2 bilhões de dólares até 2035 — , e a carne de abate seja substituída por esse método, o meio ambiente e os animais podem se beneficiar dessa mudança.
