Especialistas defendem que o evento é “fundamentalmente insustentável”
O Catar, país sede da Copa do Mundo de 2022, anunciou esse ano que o evento que ocorrerá no mês de novembro seria a primeira Copa carbono neutro do mundo. No entanto, frente às afirmações, especialistas rebatem as informações divulgadas pelo país, declarando-o como um ato de greenwashing — uma tática de promoção às custas do meio ambiente, prometendo mudanças e ações eco-friendly, que acabam não sendo realizadas.
Em resposta, a campanha Badvertising, do New Weather Institute, conferiu aos organizadores da Copa do Mundo da FIFA deste ano um “Bad Sports Award” — que pode ser traduzido como “Prêmio de Esporte Ruim”.
A iniciativa do New Weather Institute tem o objetivo de ressaltar a falsa publicidade ecológica de projetos de alto carbono, com uma bancada de jurados composta por cientistas e defensores do clima.
De acordo com Freddie Daley, pesquisador associado do Centro de Economia Política Global da Universidade de Sussex, a promoção do evento como sustentável pode ser mais efetiva devido à conexão emocional dos fãs, e, desse modo, ainda mais prejudicial.
Especialistas acreditam que o evento é “fundamentalmente insustentável”, uma vez que contribui direta e indiretamente para os danos ambientais.
Além de propagandas financiadas por empresas como a QatarEnergy, que deve gastar 56 bilhões de dólares na expansão de campos de gás e outras indústrias responsáveis por emissões de gases do efeito estufa, a Copa do Mundo possui diversas outras áreas de altas emissões. Entre o transporte e acomodações de jogadores e espectadores, a construção de estádios e a infraestrutura geral do evento, é quase impossível alegar sua sustentabilidade ou ação dentro do movimento de neutralização de carbono.
Representantes da FIFA publicaram uma “promessa climática” em seu site oficial, alegando seu compromisso na redução das emissões de carbono relacionadas ao evento. Entre as medidas para combater essas emissões, foi declarado que o evento deste ano será a Copa do Mundo “mais compacta” que já existiu. Além disso, a organização prometeu realizar a compensação de todas as emissões dos voos, acomodações e alimentação de todos os titulares de ingressos e dos próprios times de futebol.
No entanto, um relatório do Carbon Market Watch de maio deste ano, afirma que o Catar não está a caminho de alcançar a neutralidade de carbono — o país ainda precisa comprar 3,6 milhões ou mais de créditos para compensar todas as emissões do projeto, de acordo com a estimativa que o país emitirá 3,63 milhões de toneladas de poluentes na preparação e na realização da Copa do Mundo.
Outra medida implementada pelo país foi a construção do maior viveiro de árvores e grama do mundo no deserto, com o objetivo do sequestro e armazenamento de carbono. Contudo, o relatório afirma que levará de 200 a 300 anos até que a fazenda mitigue o carbono eficientemente.
Frente às alegações, os representantes do Comitê Supremo do Catar confirmaram que o evento será carbono neutro, ressaltando que torcedores não precisarão viajar de avião durante o torneio e que as viagens contarão com um sistema de metrô e 800 novos ônibus elétricos. Além disso, o país foi responsável pela construção de uma usina de energia solar de 800 megawatts que continuará ativa após do torneio.
Em relação aos créditos de carbono, foi concluído que as discrepâncias de compensação serão resolvidas após o final do torneio.
Em geral, especialistas ainda acreditam que a neutralização de um evento dessas proporções seria difícil.