Cegueira botânica é um conceito desenvolvido pelos biólogos Wandersee e Schussler para descrever a incapacidade humana de reconhecer as plantas e valorizar sua importância.
Cientistas alertam para o fato de que ela pode colocar em risco a segurança alimentar, mas pode ser amenizada com a exposição à natureza e o contato próximo com espécies vegetais por meio de atividades como a coleta de alimentos silvestres.
Com o avanço do sistema capitalista no campo, o surgimento das monoculturas e a crescente urbanização, a cegueira botânica, que também pode ser reconhecida como um fenômeno de desaculturação, tem crescido mundialmente. Basicamente, ela é um tipo de alienação.
A maioria das pessoas não é capaz de identificar os elementos vegetais de uma paisagem natural. Entretanto, o mesmo fenômeno não se aplica aos animais, que costumam ser reconhecidos facilmente por pessoas comuns.
Nos anos 1980, esse fato foi descrito como zoochauvinismo, mas, nos anos 2000, passou a ser definido pelos botânicos americanos mencionados como cegueira vegetal.
Wandersee e Schussler definem a cegueira botânica em quatro aspectos:
A cegueira botânica é uma forma desaculturação que se manifesta quando as pessoas não conseguem reconhecer a importância das plantas no meio ambiente, levando a uma desconexão entre os seres humanos e seu ambiente natural.
Essa desconexão pode levar a uma falta de apreço pelo papel crucial que as plantas desempenham em nossas vidas e nos ecossistemas que habitamos, o que coloca em risco a segurança alimentar.
Como resultado, as pessoas são menos propensas a tomar medidas para proteger as plantas e o meio ambiente, levando à perda da biodiversidade e à degradação ambiental.
Sem as plantas, os seres humanos e outras espécies não conseguiriam sobreviver. Portanto, é essencial desenvolver uma compreensão da diversidade vegetal, da importância das plantas em nosso meio ambiente, e dos riscos da cegueira vegetal.
Estudos sugerem que as gerações mais velhas tinham melhor conhecimento sobre plantas porque eram mais propensas a ter atividades cotidianas relacionadas à natureza.
Pesquisadores descobriram que os principais agentes causadores desse fenômeno são a modernização e a urbanização. A crescente dependência de serviços urbanos e a economia monetária distanciaram as pessoas do contato com a terra e seus frutos.
De modo semelhante, a carga horária nas escolas e o trabalho reduziram o tempo disponível para se estar no ambiente natural.
Esses fatores também reduziram o tempo gasto com a família, impactando negativamente na transmissão oral do conhecimento da planta entre filhos e parentes mais velhos, principalmente mulheres.
Uma análise de 18 estudos sugeriu que as mulheres possuem maior conhecimento tradicional sobre as plantas do que os homens.
Entretanto, em um dos estudos, homens mapuche (povo indígena da região centro-sul do Chile e do sudoeste da Argentina) exibiram maior conhecimento botânico em comparação às mulheres.
Isso pode ser explicado pelo fato de que apenas os homens participavam da transumância de verão, tendo mais contato direto com as espécies silvestres. Os resultados da análise chamaram atenção para a importância do contato direto com as plantas no desenvolvimento da capacidade de reconhecimento das plantas.
No mundo, há aproximadamente 30 mil espécies de plantas cultiváveis e comestíveis. Entretanto, no sistema predominante do agronegócio mundial, 95% dos produtos alimentícios são compostos por apenas 30 culturas. O arroz, trigo, milho, milheto e sorgo respondem por 60%.
A “Revolução Verde”, ocorrida logo depois da Segunda Guerra Mundial, foi o fenômeno responsável por esse declínio na biodiversidade das culturas, trazendo consequências negativas socioambientais significativas.
“Isso representa um enorme risco para a segurança alimentar porque as plantas são vulneráveis a ataques de pragas agrícolas, por exemplo, e cada uma das variedades locais de cultivares perdido tinha desenvolvido defesas especiais para o tipo de ambiente em que eram cultivadas”, disse Carneiro da Cunha, à revista Fapesp.
As pessoas que vivem em países altamente industrializados têm um déficit de conhecimento botânico devido ao declínio no contato com as plantas.
Entretanto, em algumas comunidades indígenas e assentamentos rurais, o conhecimento botânico tradicional ainda se mantém, o que mostra como é importante a preservação dessas culturas.
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