O Cerrado constitui a segunda maior formação vegetal brasileira em extensão. Caracterizado como vegetação de savana na classificação internacional, a extensão desse bioma se entende por cerca de dois milhões de quilômetros quadrados, representando 22% do território brasileiro. Ele também é considerado o segundo maior bioma brasileiro em extensão territorial.
Por estar em uma área de transição com outros biomas, o Cerrado apresenta fitofisionomias variadas. Ao norte, faz divisa com o bioma Amazônia; a leste e a nordeste, com a Caatinga; a sudoeste com o Pantanal; e a sudeste com a Mata Atlântica.
No Brasil, a área contínua do Cerrado incide sobre os estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná, São Paulo e Distrito Federal, além de encraves no Amapá, Roraima e Amazonas (juntos, eles constituem o Cerrado brasileiro). Nesse espaço territorial encontram-se as nascentes das três maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Amazônica/Tocantins, São Francisco e Prata), o que resulta em um elevado potencial aquífero e favorece sua biodiversidade.
Além de estar presente no nosso país, o bioma Cerrado também inclui parte do nordeste do Paraguai e leste da Bolívia. Este bioma também localiza-se em uma região em que existem grandes aquíferos, como o Guarani e o Bambuí. Por isso, esse bioma é considerado berço das águas.
As formações florestais do Cerrado são resultado de uma mistura de fatores temporais e espaciais. Na escala temporal, grandes alterações climáticas e geomorfológicas teriam causado expansões e retrações das florestas úmidas e secas da América do Sul, originando-o. Já na escala espacial, essas formações seriam influenciadas por variações locais na hidrografia, topografia, profundidade do lençol freático e fertilidade e profundidade dos solos.
Os solos do Cerrado são antigos, profundos e drenados, com predominância de latossolos, podzólicos e areias quartzosas. O teor de matéria orgânica na maioria desses solos é pequeno, variando de 3 a 5%. Além disso, os solos do Cerrado são ácidos, pouco férteis e apresentam altos níveis de ferro, manganês e alumínio.
De acordo com estudiosos, a baixa fertilidade dos solos do Cerrado é agravada pelo transporte do cálcio às regiões profundas, aumentando a deficiência desse nutriente na superfície. Essa falta de cálcio é responsável por limitar o crescimento das plantas da região.
O clima do Cerrado pode ser considerado tropical sazonal. Isso significa que ele possui duas estações bem definidas, sendo os invernos secos e os verões chuvosos. Esse bioma apresenta média pluviométrica anual de 1500 mm, variando entre 750 a 2000 mm (na estação chuvosa).
As temperaturas médias neste bioma, por sua vez, variam de 20 a 26 °C. Além disso, a umidade relativa do ar atinge níveis muito baixos no inverno e muito altos no verão.
O Cerrado possui uma grande variedade biológica. Apresenta cerca de 837 espécies de aves, 185 espécies de répteis, 194 espécies de mamíferos e 150 anfíbios. Os principais representantes da fauna do Cerrado são: tucano, tamanduá-bandeira, lobo-guará, onça-parda e veado-campeiro. Apesar da grande variedade, a fauna deste bioma não é totalmente conhecida, principalmente em relação ao grupo de invertebrados.
Em relação à flora, estudiosos estimam que há cerca de dez mil espécies de plantas que já passaram por identificação, sendo a grande parte representada pelo estrato herbáceo. Muitas espécies são usadas para fins medicinais e para alimentação. Os principais representantes da flora do Cerrado são ipê, cagaita, angico, jatobá, pequi e barbatimão.
O Cerrado apresenta vegetação distribuída em formações savânicas, florestais e campestres. As espécies variam entre plantas arbóreas, herbáceas, arbustivas e cipós. Além das árvores de troncos tortuosos, existem também cactos e orquídeas neste bioma brasileiro. A vegetação do Cerrado apresenta tonalidades de verde, amarelo e tons amarronzados, que são resultado da descoloração causada pela incidência solar na região.
Apesar da riqueza biológica do Cerrado, diversas espécies de animais e plantas correm risco de extinção. Estima-se que 20% das espécies endêmicas e nativas já não ocorram em áreas protegidas e que pelo menos 137 espécies típicas de animais do bioma estão ameaçadas de extinção, incluindo a onça-pintada. Depois da Mata Atlântica, o bioma Cerrado é o segundo que mais sofreu alterações com a ocupação humana, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente.
Vale ressaltar que o Cerrado é o bioma que possui a menor porcentagem de áreas sobre proteção integral. O bioma apresenta apenas 8,21% de seu território legalmente protegido por unidades de conservação; desse total, 2,85% são unidades de conservação de proteção integral e 5,36% de unidades de conservação de uso sustentável, incluindo uma Reserva Particular de Patrimônio Natural (0,07%). Por isso, é necessária a implantação de políticas públicas que busquem a preservação da grande biodiversidade da região.
A abertura de novas áreas para incrementar a produção de carne e grãos tem causado um progressivo esgotamento dos recursos naturais da região. Nas três últimas décadas, o Cerrado vem sendo degradado pela expansão da fronteira agrícola brasileira. Além disso, este bioma sofre uma intensa exploração de seu material lenhoso para produção de carvão.
Parte da expansão agropecuária é feita através de queimadas, o que oferece uma grande ameaça à biodiversidade local. De fato, acredita-se que o Cerrado seja o bioma que mais sofre com incêndio florestais na América do Sul — uma situação que constantemente se agrava devido às mudanças climáticas.
Pensando nisso, pesquisadores criaram um sistema on-line capaz de prever a propagação de incêndios na área. Ele foi nomeado como FISC-Cerrado, sendo o termo FISC resultante da expressão em inglês “fire, ignition, spread and carbon cycling” (fogo, ignição, propagação e ciclagem de carbono).
O sistema carrega automaticamente pixels e dados de satélite para calcular mapas de cargas de combustíveis, umidade da vegetação e probabilidade de queimadas para simular a propagação do fogo três vezes por dia em todo o Cerrado.
“O sistema é o único do mundo capaz de prever a propagação de incêndios em tempo quase real. Utiliza imagens de sensoriamento remoto juntamente com dados de clima e relevo para simular a propagação do fogo em todo o bioma e apresenta uma taxa de acerto que chega a 89%. A resolução espacial é de 25 hectares para a maior parte do bioma e de 0,04 hectare, bem mais refinada, para nove Unidades de Conservação [UCs]”, diz o primeiro autor do artigo, Ubirajara Oliveira, professor na pós-graduação em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais da UFMG, onde também atua como pesquisador no Centro de Sensoriamento Remoto.
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