Chiengora é um tipo de fio de lã feita com pelo escovado de cachorro doméstico a partir da qual podem ser feitas peças de roupas, como luvas, cachecóis e suéteres, assim como peças decorativas para o lar. A palavra chiengora foi criada pela fiandeira americana Annette Klicka a partir da junção da palavra chien (cachorro em francês) e angora (do coelho doméstico angorá).
A arte de fiar pelos de cachorro é antiga, já tendo sido encontrada em itens que datam da Escandinávia pré-histórica, e era a principal fibra têxtil em tecidos de povos nativos da costa noroeste e sudoeste da América do Norte antes da introdução de ovelhas pelos espanhóis. Os povos da Costa Salish, por exemplo, criavam cachorros para usar seus pelos, misturados a pelos de cabra, para produzir roupas e mantas. Acredita-se que os cachorros Salish, hoje extintos, podem ter produzido cerca de três casacos por ano e por isso eram de grande valor para as famílias que os possuíssem, garantindo-lhes um status de prestígio.
No entanto, a chiengora tem ganhado notoriedade e novos adeptos por ser uma solução sustentável para parte dos resíduos gerados por animais domésticos, inclusive sendo hoje considerada uma fibra de luxo, junto com as de mohair e cashmere, por exemplo.
Um estudo, que comparou as propriedades físicas de 18 raças de cães com fibras tradicionais de pelos de animais, concluiu que a chiengora performa igual ou até melhor que a lã tradicional, em alguns casos. De forma que o chiengora é considerada uma substituição economicamente viável e ecofriendly para as fibras proteicas tradicionais.
Apesar de ser possível com pelos curtos, os melhores pelos para a aplicação da técnica são os de raças “nórdicas”, que possuem pelos mais longos, tais como os das raças chow-chow, terra-nova, samoieda e similares, sendo que os pelos da raça lhasa apso se mostraram como uma opção com melhor isolamento térmico e a mais adequada para fiação em máquinas (1, 2).
O pelo utilizado para o chiengora deve ser obtido por meio da escovação do cão. Nos meses de primavera, é possível obter uma quantidade maior de pelos de algumas raças, que passam por uma troca de pelos, o que reduz o tempo de coleta. Especialmente se a ideia for construir um fio de chiengora, os pelos ideais para esta técnica são os pelos mais finos e macios, como os das costas do cachorro.
Os pelos devem então ser acondicionados em sacos de tecido (como uma fronha) ou papel ou caixas de papelão, de forma que os tufos de pelo não sejam compactados, pois isso dificultaria o processo de construção do fio. Os sacos ou caixas devem permitir a circulação de ar, para evitar a proliferação de mofo ou bolor nos fios.
A quantidade mínima recomendada a se juntar são 100g desses tufos de pelo, então uma balança de cozinha pode ser bem útil. Se você não quiser esperar muito tempo para testar a técnica ou o pelo do seu cachorro for muito curto (menos de 5 cm), você pode adquirir a lã de outros animais para incorporar ao fio que irá construir.
Quando conseguir a quantidade que deseja, os tufos de pelos devem ser limpos em água morna misturada com duas a três gotas de detergente neutro. Mergulhe os tufos de cabelo nessa mistura e aguarde 10 minutos, o que deve ser suficiente para que a sujeira saia na água. Enxague os pelos mergulhando-os em água morna e movimentando-os gentilmente, repetindo esse enxágue até remover o excesso de sabão. Para secá-los, espalhe os pelos em uma toalha ou tapete sob o Sol.
Com os pelos limpos, o processo se torna o mesmo realizado para fiar a lã tradicional, iniciando pelo cardar. Para isso, você precisa de duas escovas com dentes de aço (também conhecidas como cardas), como a que talvez você já tenha utilizado para escovar seu cão.
Posicione uma pequena quantidade do pelo de cachorro sobre uma das escovas e passe a outra por cima desta algumas vezes. Isto irá descompactar os fios. Se você optou por misturar os pelos de cachorro com lãs tradicionais, é nesta etapa que deve misturá-las.
Junte a lã de pelo de cachorro que for removendo das cardas e posicione-a em uma superfície plana para então, com suas mão, enrolá-las em uma direção, formando um cilindro parecido com um rocambole. Com isso, você tem sua lã pronta para ser fiada com um fuso ou em uma roca, para outras técnicas como a feltragem de agulha ou para ser utilizada como enchimento de brinquedos para o seu animal de estimação.
Diferente da extração da cashmere, que envolve sofrimento animal por ser feita a partir da tosa de cabras que passam estresse e podem morrer sem a proteção natural contra o frio, a chiengora deve ser feita com pelos coletados na escovação do cachorro doméstico e não envolver nenhum tipo de mau trato. Saiba quais os impactos ambientais relacionados ao cashmere na matéria ”Por que você não deveria usar cashmere?”.
No entanto, a escovação pode ser um fator de estresse para alguns cachorros, que podem ficar assustados ou mesmo incomodados com isto. Portanto, é importante estar atento aos sinais que seu animal informa durante a escovação, além de buscar promover seu relaxamento, utilizando uma escova macia, escovando na direção do crescimento dos pelos e removendo eventuais nós com cuidado.
Se fazer sua própria chiengora com os pelos do seu cachorro ou gato não é pra você, mas você se interessou pela possibilidade de um destino mais sustentável para esse resíduo, talvez goste de saber que os pelos dos animais domésticos podem ser compostados sem dificuldade. Entenda como e saiba outras alternativas na matéria “Pelo de cachorro é compostável?”.
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