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Utilizando clonagem, cientistas criaram três vacas com capacidade de produzir quantidades excessivas de leite
No início deste mês, cientistas da Northwest University of Agricultural and Forestry Science and Technology em Shaanxi, na China, clonaram três vacas com capacidade excessiva de produzir leite. O resultado correspondeu ao objetivo: gerar “supervacas” produtoras de muito mais leite do que vacas comuns da pecuária leiteira.
Entretanto, a notícia não agradou a todos. Aumentar a capacidade da indústria de laticínios suscitou uma série de questões éticas. Ambientalistas acreditam que é preciso fazer uma transição alimentar para uma dieta à base de vegetais a fim de reduzir os impactos socioambientais da agropecuária e a crueldade animal envolvida nesse tipo de produção, em vez de promover tecnologias que aumentem a capacidade de exploração animal.
Vacas leiteiras sofrem mais do que vacas de corte
Uma pesquisa da Universidade de Copenhague concluiu que as vacas leiteiras sofrem mais do que as vacas de corte.
Na indústria leiteira, após completarem 1 ano de idade, as vacas passam por um processo doloroso de inseminação forçada que pode ser interpretado como um estupro.
A gestação, então, dura o mesmo período que a gestação humana, cerca de nove meses. Então, depois que a vaca dá à luz, seu corpo começa a produzir leite para o bebê, assim como um ser humano. No entanto, seu bezerro é tirado dela à força para que os fazendeiros possam retirar seu leite e vendê-lo.
É comum que vacas leiteiras desenvolvam inflamação nas mamas por causa dos traumas físicos da retirada do leite, quadro chamado mastite.
Enquanto isso, o bezerro é abatido e vendido como “carne de vitela”.
A carne de vitela recebe muitas críticas devido à crueldade que está envolvida em sua produção. Afinal, os bezerros não são apenas retirados do lado da mãe, como também são forçados a viverem em gaiolas pequenas, onde não têm espaço para se mover ou se desenvolver.
É comum que o bezerro seja abatido por volta dos seis ou sete meses de vida para a produção da carne de vitela. No entanto, essa morte pode acontecer antes do esperado, logo depois de seu nascimento, se a fazenda responsável pela produção decidir assim.
A carne de vitela tem um tom rosado, porque a maioria dos bezerros sofrem de anemia enquanto estão vivos. Isso acontece pois eles são alimentados apenas com um substituto do leite materno, e não são permitidos de se movimentar e desenvolver os músculos. Essa junção de situações fazem com que o animal se torne fraco e doente.
Essas crueldades são praticadas propositalmente, já que nessas condições a carne de vitela se torna mais macia e sua textura fica refinada. Resultado geralmente procurado pelo consumidor deste tipo de alimento.
No caso das supervacas (que ainda são bezerros) clonadas de uma espécie da Holanda, cada uma será capaz de produzir 18 toneladas de leite por ano e mais de 100 toneladas de leite em suas vidas.
De acordo com o USDA via Business Insider, a vaca em lactação média na indústria de laticínios dos EUA produz cerca de 10,8 toneladas métricas de leite anualmente, o que significa que essas novas supervacas devem produzir quase o dobro disso, sendo duplamente exploradas.
Por que as supervacas estão sendo criadas?
Diferente do que defensores da pecuária leiteira têm argumentado sobre a produção de clones ter sido impulsionada por preocupação com a emissão de gases do efeito estufa, o cientista que liderou a pesquisa, Jin Yaping, disse ao Global Times que a equipe teve objetivos econômicos. De acordo com o cientista, a ideia é “levar de dois a três anos para construir um rebanho composto por mais de mil supervacas, como uma base sólida para enfrentar a dependência da China de vacas leiteiras estrangeiras”.
Basicamente, o objetivo do projeto é tornar o consumo de leite na China independente do mercado externo. Isso significa que, embora seja possível produzir mais leite com menos emissões e uso da terra, esse aspecto não foi uma prioridade para aqueles por trás deste experimento.
Ainda assim, nenhuma dessas razões é suficiente para justificar a amplificação da crueldade da indústria de laticínios sobre as vacas criadas para esse estudo, uma vez as dietas à base de plantas já dariam conta de reduzir as emissões globais a níveis satisfatórios. A vida de uma vaca leiteira envolve repetidas gestações forçadas, separação de seus bezerros, viver em confinamento, mutilações dolorosas e ordenha constante, o que leva a problemas de saúde, incluindo mastite.
Os seres humanos não precisam consumir leite, e a indústria está causando imenso sofrimento animal e destruição ambiental. Portanto, por que em vez de financiar experimentos como a clonagem de supervacas, não estamos nos empenhando em desenvolver mais laticínios cultivados em laboratório e na expansão do mercado alternativo de laticínios à base de plantas?
