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O projeto All-gas consiste na reutilização de águas residuais para o cultivo de microalgas e na sua posterior conversão em biodiesel

A cidade Chiclana de la Frontera, localizada no sudeste da Espanha e com 74.261 habitantes, utiliza a água residual de residências e a energia solar para produzir biocombustível à base de alga. O projeto, batizado de All-gas, custa aproximadamente € 12 milhões (mais de R$ 35 milhões) – três quintos desse valor são fornecidos pelo programa FP7 (Sétimo Programa-Quadro para a Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico), da União Europeia, para analisar a eficácia do metano produzido a partir de algas derivadas da biomassa.

Enquanto indústrias, como as de cerveja e fábricas de papel, produzem biogás a partir das águas do esgoto, para suprir as necessidades delas próprias em energia, o All-gas usa a técnica pioneira de cultivar as algas do esgoto de um modo sistemático, para produzir uma exportação líquida de bioenergia. Funciona do seguinte modo: o dióxido de carbono é usado para produzir biomassa de algas, e o lodo verde é transformado em gás, um biocombustível limpo comumente usado em ônibus e caminhões de lixo.

A instalação em Chiclana, ainda em fase piloto e com 200 metros quadrados de tamanho, colheu a primeira safra de algas no segundo semestre de 2013 e espera abastecer o seu primeiro carro em dezembro. Os pesquisadores imaginam que esteja tudo pronto e funcionando até 2015, quando são projetados três mil quilos de algas em dez hectares de terra (cerca de dez campos de futebol) para gerar uma produção anual de biocombustíveis no valor de € 100 mil (R$ 294 mil) – suficiente para abastecer 200 carros ou dez caminhões de lixo da cidade por ano.

Frank Rogalla, líder do projeto, afirma que a instalação de esgoto da All-gas é € 2 milhões (R$ 5.878 milhões) mais barata para criar e gerir do que uma instalação de esgoto convencional, o que é uma grande vantagem, especialmente para a Espanha, tendo em vista os problemas que enfrenta devido à crise econômica.

A capacidade do projeto em abastecer carros em larga escala dependerá da quantidade e qualidade de bioetanol que produzirá e o custo. Os pesquisadores, até agora, concluíram que pode levar anos até que os biocombustíveis de algas sejam economicamente viáveis​​, embora possam, eventualmente, ser capazes de substituir uma parte do petróleo.

O uso de algas para a produção de biomassa, no entanto, tem sido criticado por alguns pesquisadores, que afirmam que a grande quantidade de água, energia e produtos químicos usados para sua produção torna o processo não sustentável. Rogalla responde a essas críticas, afirmando que “até agora, ninguém transformou a água residencial em biocombustível, o que é uma ato sustentável”.

Modelo

O modelo da All-gas tem atraído o interesse de outros municípios no sul da Espanha, com populações entre 20 mil e 100 mil e com terra suficiente para desenvolver as lagoas de algas. De acordo com Rogalla, há, pelo menos 300 pequenas cidades onde tais projetos poderiam funcionar. As condições necessárias para o bom funcionamento do projeto são: grande extensão de terra e alta incidência de luz solar.

A empresa Aqualia, terceira maior empresa de água privada do mundo e mantenedora desse projeto, manteve contato com o Brasil, os Emirados Árabes Unidos e uma empresa francesa, e discutiu sobre a possibilidade de construção e operação, em regime de concessão, de estações de tratamento de água semelhantes. Mas, por enquanto, nada foi acertado.

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