Restrições a anúncios de combustíveis fósseis, SUVs e companhias aéreas surgem como estratégia para combater a crise climática
Enquanto a colaboração global para enfrentar a emergência climática enfrenta desafios, cidades ao redor do mundo estão tomando medidas ousadas para reduzir o consumo de produtos altamente poluentes. Uma das estratégias que ganha destaque é a proibição de publicidade de empresas e serviços associados a altas emissões de carbono, como combustíveis fósseis, veículos utilitários esportivos (SUVs) e companhias aéreas. Essas medidas, já adotadas em cidades como Edimburgo, Sheffield, Haia e Estocolmo, buscam alinhar as políticas públicas com as metas climáticas e reduzir a normalização de hábitos de consumo prejudiciais ao meio ambiente.
A conexão entre publicidade e aumento do consumo é clara. Estudos indicam que anúncios de produtos de alto carbono elevam a demanda por esses itens, impulsionando as emissões globais. Um exemplo marcante é o setor de aviação: companhias aéreas com maiores investimentos em publicidade registram vendas de passagens mais altas. Além disso, a propaganda de alto carbono contribui para a normalização de práticas insustentáveis, como viagens aéreas frequentes, e dissemina alegações ambientais enganosas, que podem levar a uma percepção distorcida da gravidade da crise climática.
No Reino Unido, cidades como Edimburgo e Sheffield já implementaram proibições de anúncios de empresas de combustíveis fósseis, companhias aéreas e veículos movidos a gasolina ou diesel em espaços públicos. Os vereadores de Edimburgo destacaram que a promoção de produtos de alto carbono é incompatível com as metas de neutralidade climática. Em Sheffield, a proibição foi justificada como uma forma de combater os impactos negativos do consumismo e da publicidade excessiva.
A experiência com proibições de publicidade de outros produtos, como tabaco e junk food, oferece um precedente promissor. Em Londres, a proibição de anúncios de alimentos pouco saudáveis no transporte público resultou em uma redução significativa no consumo de produtos ricos em gordura, sal e açúcar. Estima-se que a medida possa prevenir quase 100 mil casos de obesidade, gerando economia de cerca de £ 200 milhões para o sistema de saúde britânico. Resultados semelhantes foram observados após as restrições à publicidade de tabaco, reforçando a eficácia dessas políticas.
A adoção de proibições de publicidade de alto carbono também reflete um alinhamento com as metas climáticas globais. Mais de 1.000 cidades em todo o mundo estabeleceram objetivos de neutralidade de carbono, e mais de 130 aderiram ao Tratado de Não Proliferação de Combustíveis Fósseis. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) estima que estratégias focadas na redução da demanda por produtos intensivos em emissões podem cortar as emissões globais entre 40% e 70% até 2050.
O impacto simbólico dessas proibições também é relevante. Ao restringir a publicidade de empresas que contribuem para a crise climática, as cidades enviam uma mensagem clara sobre a necessidade de priorizar a sustentabilidade e a saúde pública. A medida ganha ainda mais urgência diante do aumento de desastres climáticos, como inundações e incêndios, que colocam em risco a segurança e a infraestrutura das cidades.
Enquanto o Comitê de Mudanças Climáticas do Reino Unido reconhece o papel da publicidade no estímulo à demanda e na formação de normas sociais, cresce a pressão por restrições mais rígidas. Com o avanço das mudanças climáticas, a questão não é mais se a publicidade de alto carbono deve ser limitada, mas quão rápido essas políticas podem ser ampliadas para enfrentar a escala da crise.
As proibições de publicidade de alto carbono representam mais do que gestos simbólicos. Elas são uma ferramenta poderosa para reduzir o consumo de produtos prejudiciais ao meio ambiente e alinhar as políticas públicas com a ciência climática. À medida que mais cidades adotam essas medidas, surge um caminho promissor para enfrentar a emergência climática de forma coletiva e eficaz.