Cientistas criam enzima mutante que recicla garrafas de plástico em algumas horas

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Enzima bacteriana originalmente encontrada em composto pode ser usada para fazer novas garrafas com alta qualidade

Imagem editada e redimensionada de niculcea florin, está disponível no Unsplash

Uma enzima bacteriana mutante capaz de quebrar garrafas de plástico para reciclagem em algumas horas foi criada por cientistas da companhia francesa Carbios, que trabalha com inovação química voltada para sustentabilidade. Descoberta originalmente em um composto, a enzima reduziu as garrafas plásticas a fragmentos químicos que puderam ser usados para fabricar novas garrafas, mantendo a qualidade.

As tecnologias de reciclagem existentes geralmente produzem plástico de baixa qualidade, suficiente apenas para uso em roupas ou tapetes. A Carbios planeja usar a tecnologia recém-descoberta para reciclar plásticos em escala industrial dentro de cinco anos. A companhia fechou parceria com grandes empresas, incluindo Pepsi e L’Oréal, para acelerar o desenvolvimento da enzima, considerada por especialistas independentes como um grande avanço.

Apesar da necessidade mundial de reduzirmos o consumo de plástico, que se acumula pelos cantos mais remotos do planeta, a empresa acredita que uma reciclagem completa faz parte da solução para o problema do lixo plástico. Essa pode ser uma boa opção para produtos que seriam de difícil fabricação em outros materiais, já que o plástico é ao mesmo tempo leve e resistente.

A nova enzima foi revelada em pesquisa publicada nesta quarta (8) na revista científica Nature. O trabalho começou com a triagem de 100.000 micro-organismos para encontrar candidatos promissores, incluindo o composto no qual a enzima foi encontrado, descoberto pela primeira vez em 2012. “Ele estava completamente esquecido, mas acabou sendo o melhor”, disse o professor Alain Marty, da Université de Toulouse, na França, diretor de ciências da Carbios.

Os cientistas analisaram a enzima e introduziram mutações para melhorar sua capacidade de quebrar o plástico PET, a partir do qual as garrafas de bebida são feitas. Eles também a tornaram estável a 72 °C, próximo à temperatura perfeita para degradação rápida.

A equipe usou a enzima otimizada para quebrar uma tonelada de garrafas plásticas usadas, que foram degradadas em 90% em 10 horas. O material foi usado para criar novas garrafas de plástico de qualidade alimentar.

A Carbios fez um acordo com a empresa de biotecnologia Novozymes para produzir a nova enzima em escala usando fungos. Segundo a companhia, o custo da enzima representa apenas 4% do custo do plástico virgem feito a partir de petróleo.

Como as embalagens plásticas também precisam ser trituradas e aquecidas antes da adição da enzima, o PET reciclado acaba saindo mais caro que o plástico virgem. Mas Martin Stephan, vice-presidente executivo da Carbios, disse que o plástico reciclado de baixa qualidade existente é vendido com um prêmio devido à falta de suprimento, o que deve compensar o investimento.

“Somos a primeira empresa a lançar esta tecnologia no mercado”, disse Stephan. “Nosso objetivo é estar em operação até 2024, 2025, em larga escala industrial.”

Ele disse que a redução no uso de plásticos é uma parte da solução do problema de resíduos. “Mas todos sabemos que o plástico agrega muito valor à sociedade, em alimentos, assistência médica, transporte. O problema é o seu desperdício.” Assim, ele acredita que é fundamental aumentar a coleta de plástico para reciclagem, evitando que o material acabe no meio ambiente ou em aterros sanitários.

Outra equipe de cientistas revelou em 2018 que havia acidentalmente criado uma enzima que quebra garrafas de plástico. Parte da equipe por trás desse avanço, o professor John McGeehan, diretor do Centro de Inovação em Enzimas da Universidade de Portsmouth, disse que a enzima desenvolvida pela Carbios parece ser até agora a melhor opção para quebra de PET em larga escala. Ele acredita que o novo trabalho foi um grande avanço.

“Isso possibilita a verdadeira reciclagem biológica de PET em escala industrial. Este é um avanço muito grande em termos de velocidade, eficiência e tolerância ao calor”, afirmou McGeehan. “Isso representa um passo significativo para a verdadeira reciclagem circular de PET e tem o potencial de reduzir nossa dependência de petróleo, reduzir as emissões de carbono, o uso de energia e incentivar a coleta e a reciclagem de resíduos de plástico”.

Os cientistas também estão progredindo na busca de formas biológicas para quebrar outros tipos de plástico. Em março, pesquisadores alemães descobriram uma bactéria que se alimenta de poliuretano tóxico, enquanto trabalhos anteriores mostraram que as larvas da traça de cera – geralmente criadas como isca de peixe – podem comer sacos de polietileno.



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