Pesquisadores criam novo índice para controlar a vulnerabilidade das florestas tropicais do mundo todo usando dados de satélite
As florestas tropicais úmidas, vitais nos esforços globais para limitar o aumento das temperaturas, estão ameaçadas como resultado das mudanças no uso da terra e no clima. Agora, pesquisadores desenvolveram uma nova maneira de controlar a vulnerabilidade dessas florestas em escala global usando dados de satélite. O estudo foi publicado ontem (23), na revista científica One Earth.
Batizado de Tropical Forest Vulnerability Index (TFVI), ou Índice de Vulnerabilidade da Floresta Tropical, o método deve servir como um alerta precoce sobre as áreas que estão sob maior ameaça, possibilitando ações destinadas a proteger essas florestas antes que seja tarde demais.
Sassan Saatchi, coautor do estudo e pesquisador do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, explica que secas frequentes, temperaturas mais altas e estações secas mais longas, bem como o aumento das pressões do desmatamento e degradação nas últimas duas décadas, empurraram as florestas tropicais para a beira de um ponto de inflexão, ou “ponto de não retorno”.
Segundo ele, o novo estudo utiliza um conjunto de observações de satélite feitas nas últimas décadas para mostrar como e onde os pontos de inflexão podem ser alcançados, a fim de ajudar os formuladores de políticas a planejarem a conservação e restauração dessas florestas.
Por que o novo índice é importante
Existem outras maneiras de medir a vulnerabilidade das florestas tropicais. No entanto, a maioria delas dependia de estudos locais e não podiam ser facilmente estendidos a regiões maiores ou ao globo. A falta de consistência e a incapacidade de fazer comparações de uma região para outra gerou confusão e inação.
Para contornar esses obstáculos, Saatchi e seus colegas decidiram desenvolver um índice de vulnerabilidade de floresta tropical único que pudesse funcionar em todas as florestas, com base em observações de clima e vegetação de satélites.
O novo índice combina várias medições e indicadores de funções e serviços ecológicos da floresta, incluindo fluxos de carbono e água e biodiversidade. Ele também fornece informações espaciais com atualizações mensais e permite que os pesquisadores identifiquem e monitorem áreas com vulnerabilidade crescente ou ameaças potenciais antes que seja tarde demais.
Os estudos mostraram que diferentes regiões dos trópicos estão respondendo de maneira diferente às ameaças climáticas, com algumas regiões mostrando resiliência mais aparente do que outras. Por exemplo, florestas tropicais nas Américas parecem ser mais vulneráveis aos impactos do que as da África, que apresentam relativa resistência às mudanças climáticas. Na Ásia, as florestas tropicais parecem mais vulneráveis ao uso e fragmentação da terra.
As florestas tropicais individuais também mostram diferenças importantes em sua resposta às pressões do clima e do uso da terra. Por exemplo, a Bacia Amazônica mostra vulnerabilidade em grande escala à condição de seca na atmosfera, com secas frequentes e mudanças em grande escala no uso da terra. A Bacia do Congo, por outro lado, parece mais resiliente por causa dos impactos históricos das secas, a condição geral de seca e a mudança e fragmentação do uso da terra em menor escala.
Interações entre clima, uso da terra e biodiversidade
Os pesquisadores também descobriram fortes interações entre clima, uso da terra e biodiversidade que definem a vulnerabilidade e resiliência das florestas. O novo índice permitiu que eles identificassem a natureza dessas interações em todas as florestas tropicais globais.
“As descobertas mostram que a vulnerabilidade das florestas tropicais é muito maior do que foi previsto no passado, e as áreas perturbadas ou fragmentadas quase não têm resiliência ao aquecimento do clima e às secas”, disse Saatchi. “Além disso, os resultados do nosso estudo sugerem que as florestas tropicais estão perdendo sua capacidade de realizar o ciclo do carbono e da água como antes. Isso está ocorrendo gradualmente em escala continental e mais rapidamente em escala regional, com implicações significativas para o sumidouro global de carbono e clima”, conclui.
Com o novo índice, a esperança dos pesquisadores é que a comunidade global de cientistas e formuladores de políticas, particularmente em países tropicais, faça uso da ferramenta para avaliar sistematicamente a vulnerabilidade dos recursos da floresta tropical e, assim, desenvolver soluções baseadas na natureza para cumprir seus compromissos com o Acordo de Paris. Para acompanhar as mudanças e ameaças futuras às florestas tropicais do mundo, os cientistas afirmam que o TFVI continuará a ser renovado automaticamente com o passar do tempo.