Embora vivamos em uma sociedade que, em tese, prega o igualitarismo e a tolerância, sabemos que preconceitos sociais permanecem operacionais e conduzem os sujeitos a ações prejudiciais. Grandes filósofos como Adorno já explicitaram que o preconceito não é inato, ele é um processo cognitivo que se instala durante o desenvolvimento individual como produto de relações e conflitos presentes na esfera social.
Nós passamos um terço de nossas vidas dormindo, nesse período proteínas são sintetizadas com a função de manter ou expandir as redes neuroniais ligadas à memória e ao aprendizado. O sono interfere no humor, na memória, na atenção, nos registros sensoriais, no raciocínio e em todos os aspectos cognitivos que relacionam uma pessoa a seu ambiente. A aprendizagem se estabelece a partir a consolidação da memória durante o sono, ou seja, de certo modo somos capazes de aprender dormindo.
Nossos sonhos escapam de capacidades reflexivas, seu conteúdo é uma representação de experiências que vivemos e se representam por eventos oníricos, ilusões, alucinações e inspirações artísticas. Ou seja, o sono é o momento onde há uma elaboração inconsciente da personalidade, através de estímulos subliminares que a mente consciente não controla.
Desde o inicio da vida, modelamos e adaptamos nossa personalidade enquanto dormimos. Em um artigo publicado na Science Mag, cientistas se basearam no conceito de aprendizagem durante o sono e desenvolveram uma pesquisa que investiga a possibilidade de “desaprender” preconceitos de gênero e raça por meio de estímulos no período de NREM (período de sono com ondas lentas).
O estudo chegou à conclusão que a reativação da memória durante o sono aumenta a formação e a manutenção de preconceitos, mas é possível uma redução dessa reativação durante o sono, diminuindo seus efeitos. Na pesquisa, os cientistas realizaram o treinamento de quarenta participantes, associando um som a cada tipo de preconceito. Durante o período NREM eles foram estimulados, repetidamente, com ondas sonoras associadas a cada tipo de viés. O treinamento resultou em uma redução da polarização social. Segundo os cientistas, preconceitos foram reduzidos imediatamente após o treino. O método de “desaprender” se baseia na localização e remoção de associações indesejáveis de informação.
Para aprender devemos fundamentalmente desaprender certas coisas e nos livrarmos de preconceitos. Segundo os cientistas, o sono pode ser uma maneira de facilitar o rompimento com condutas obsoletas que estão inseridas na sociedade mas precisam ser revistas. Precisamos desaprender certos costumes para criar novos, nos livrar de amarras que nos cerceiam e ousar refletir sobre nossa postura, quebrando paradigmas por um mundo mais justo.
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