Em experimento, pesquisadores da Universidade Rockefeller descobriram que pessoas com níveis mais altos de ácidos carboxílicos na pele são 100 vezes mais atraentes para o Aedes aegypti; descoberta pode ajudar no desenvolvimento de futuros repelentes
Por Denis Pacheco em Jornal da USP | Para certas pessoas, atrair mosquitos, infelizmente, é um fenômeno corriqueiro. Entretanto, o mistério sobre por que alguns de nós atraímos mais a atenção desse tipo de artrópode do que outros está mais perto de ser solucionado.
Em um artigo publicado recentemente no periódico Cell, pesquisadores da Universidade Rockefeller, em Nova York, nos Estados Unidos, descobriram que pessoas com níveis mais altos de compostos chamados ácidos carboxílicos em sua pele são mais propensos a serem “ímãs de mosquito”.
De acordo com o professor Anderson de Sá Nunes, do Departamento de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, todos os seres humanos produzem ácido carboxílico através do sebo da nossa pele. O sebo é então comido pelos milhões de microorganismos benéficos que colonizam a pele para produzir mais ácido carboxílico. Em grandes quantidades, o ácido pode produzir um odor específico que parece atrair mosquitos em busca de sangue humano.
O especialista, que não participou da pesquisa, explica que desvendar a atração dos mosquitos pelos humanos é uma investigação de longa data. “Já conhecemos alguns dos elementos que envolvem a atratividade de mosquitos. Por exemplo, nós exalamos gás carbônico durante nossa respiração e isso atrai mosquitos. Outro fator é a nossa temperatura. Os mosquitos, ao longo da evolução, desenvolveram a capacidade de identificar objetos quentes, fontes de sangue”. Além disso, as secreções produzidas pela nossa pele também são alvo de interesse dos animais.
Considerando isso, os cientistas americanos tinham como objetivo descobrir se existia algum componente específico produzido pela nossa pele que poderia ser a chave dessa atração.
No artigo, eles detalham um experimento em que foi coletado o cheiro natural da pele das pessoas por meio de malhas de nylon nos braços. Depois de um período de uso, os pesquisadores cortaram as malhas em pedaços de cinco centímetros e colocaram dois pedaços de tecido atrás de dois alçapões separados em uma caixa de plástico transparente, onde dezenas de mosquitos voavam. A partir daí, eles abriam as armadilhas e os insetos escolhiam voar para a isca – as malhas – atrás da primeira ou da segunda porta. A partir disso, eles contaram cada vez que um inseto foi atraído para uma amostra específica. Após uma série de análises químicas do material coletado, a atração pelo ácido carboxílico foi evidenciada. “Para fazer essa identificação, eles utilizaram uma tecnologia de espectrometria de massa de última geração”, esclarece o professor ao reforçar a exatidão e complexidade da descoberta.
Por fim, no estudo, os pesquisadores utilizaram a fêmea do Aedes aegypti, o tipo de mosquito responsável pela disseminação de doenças como dengue, chikungunya, febre amarela e zika. Doenças bem conhecidas dos países tropicais como o Brasil. Portanto, um dos principais pontos da experiência é que a descoberta leve a criação de novos produtos que possam mascarar ou alterar certos odores humanos, tornando mais difícil para os mosquitos encontrar sangue humano e potencialmente reduzindo a propagação de doenças.
Este texto foi originalmente publicado pelo Jornal da USP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.