As nuvens cirrus são compostas por cristais de gelo, em vez de gotículas de água, pois se formam nas altitudes mais elevadas da troposfera, a camada mais baixa da atmosfera terrestre, onde é naturalmente mais frio.
Essas nuvens, de cor branca, não têm um formato único e se formam mesmo com bom tempo. O mais interessante é que elas são identificadas por terem um aspecto mais delicado e filiforme, não formam sombra e tem uma aparência fibrosa, lembrando inúmeros fios ou plumas, tomando diversas formas.
Dependendo da região, as nuvens cirrus podem ser conhecidas como “rabo-de-galo”, devido ao formato que atingem. Além de deixarem o céu ainda mais bonito, inclusive durante o nascer e o pôr do sol, quando mudam de cor, as nuvens cirrus têm um papel fundamental na circulação atmosférica e na temperatura da superfície da Terra.
Nuvens, de todos os tipos, são partes fundamentais do equilíbrio do sistema climático terrestre, podendo cobrir até 70% de toda a superfície. Elas são formadas de acordo com fatores atmosféricos, como umidade, pressão e temperatura, além de sofrerem influência da vegetação local e regional.
As nuvens são importantes para o ciclo hidrológico, para o transporte de gases e de energia, além de manterem o equilíbrio entre o sistema Terra-Atmosfera, relacionado à radiação solar e ao balanço de calor do planeta.
Sua classificação engloba três classes: nuvens baixas (mais próximas à superfície, portanto com temperatura mais elevada, são feitas de gotículas de vapor d’água), nuvens médias (ficam na camada intermediária, então podem ser compostas de gotículas de vapor d’água e cristais de gelo) e nuvens altas, como é o caso das cirrus (que se formam nas camadas mais elevadas da troposfera, acima de seis mil metros). Nessas condições, as temperaturas atingem 40°C negativos.
Pesquisadores da Sun Yat-sen University, na China, analisaram as características e mecanismos de nuvens cirrus sobre o Sul do Mar da China. A região é considerada uma fonte de vapor d’água e calor, o que impacta diretamente no clima e nos padrões de chuva que ocorrem pelo Sudeste da Ásia.
Além de sua importância para a dinâmica climática regional, o Mar da China também tem influência no sistema global, por isso é fundamental entender os fenômenos que ali ocorrem, já que isso ajuda a melhorar também os modelos de previsão do clima.
Analisando dados de satélite, que foram registrados ao longo de 8 anos, entre 2007 e 2015, foi possível notar um padrão entre as nuvens cirrus convectivas e as não convectivas. As nuvens convectivas são altas, crescem na vertical por meio da convecção, quando porções de fluidos mais quentes ficam menos densos, e tendem a subir. Nesse caso, o fluido é o próprio ar.
Nuvens cirrus não convectivas tendem a ser mais secas, enquanto as nuvens convectivas são relacionadas à maior umidade.
De acordo com os pesquisadores, no período de tempo analisado, as nuvens cirrus convectivas se mostraram três vezes mais numerosas do que as não convectivas, o que demonstra uma relação direta com a temperatura do ar mais quente na região.
As nuvens cirrus também têm um papel importante na circulação atmosférica mundial e na manutenção da estabilidade do balanço radiativo, que é definido pelo equilíbrio entre a radiação solar absorvida pela superfície terrestre e o valor emitido para o espaço.
Essas nuvens, formadas em grandes altitudes, tem uma cobertura média de 20% de toda a superfície do planeta. Esse valor pode chegar a 70% de todo o céu em regiões tropicais, mais quentes e úmidas.
No Mar da China, situado sob o Trópico de Câncer, as interações entre o oceano, a superfície terrestre e a atmosfera influenciam o desenvolvimento das nuvens. Nesse sentido, o aquecimento global, que desencadeia mudanças climáticas de todo o tipo, também tem forte influência na formação das nuvens.
Alterações na formação das nuvens cirrus podem ser responsáveis pelo desequilíbrio do balanço radiativo, pois podem refletir, em excesso, a radiação solar que deveria atingir a superfície terrestre, ao mesmo tempo que impedem a radiação infravermelha de ser refletida da Terra para o espaço, aumentando ainda mais a temperatura do planeta, o que piora o efeito estufa e modifica os padrões de circulação atmosférica.
Outro estudo, publicado pela Universidade de São Paulo (USP), analisou as mudanças no padrão das nuvens cirrus sobre a Amazônia, a partir de dados registrados por satélite, entre 2006 e 2019. Segundo os pesquisadores, a Amazônia tem maior presença de nuvens cirrus do que outras regiões tropicais, mas os processos de convecção nessa área têm diminuído.
Das amostras analisadas, as nuvens cirrus se mostraram bem distribuídas, de maneira uniforme sobre a região, nas estações mais úmidas do ano. Por outro lado, em períodos mais secos, as nuvens se concentraram no noroeste da Amazônia.
De acordo com a pesquisa, as nuvens têm se tornado menos espessas, numa taxa de 14 metros por ano. Ainda, as nuvens com menor espessura passaram a se tornar mais opacas nas estações mais secas, principalmente a partir de 2016, o que estaria relacionada às mudanças no ciclo hidrológico da região.
Esse é um fator que pode impactar diretamente no balanço radiativo da Terra, já que a alteração na espessura e opacidade das nuvens pode bloquear a reflectância da radiação infravermelha, da superfície terrestre para o espaço.
Além disso, a ocorrência das nuvens cirrus também demonstrou estar diminuindo na Amazônia, cerca de 0.7% ao ano. O que aparentemente é um valor baixo, em algumas décadas pode causar mudanças consideráveis no bioma, principalmente gerando um desequilíbrio radiativo, como explicam os pesquisadores.
O estudo também destacou a ocorrência de nuvens cirrus opacas na fronteira sul da região analisada, durante o período seco, apontando uma possível relação com o aumento de queimadas na Amazônia.
Apesar de não ter uma confirmação em relação às tendências de longo prazo da formação de nuvens cirrus na Amazônia, por conta do período de tempo analisado, os pesquisadores sugerem que as mudanças climáticas podem ser a causa das alterações observadas.
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