A história da floresta de araucárias, localizada no Sul e Sudeste do Brasil, revela a interação entre fatores climáticos e humanos em sua formação. Um estudo recente indica que tanto as mudanças paleoclimáticas quanto a atividade de grupos humanos ancestrais desempenharam papéis importantes na dinâmica dessa floresta. Apesar de essa vegetação ser naturalmente resiliente, o impacto humano mais recente e a crise climática atual colocam em risco a sobrevivência das populações de araucárias, especialmente nas regiões mais isoladas.
Pesquisadores revelam que a expansão das araucárias no Planalto Sul começou há cerca de 70 mil anos, muito antes da chegada dos humanos à América do Sul. Essa descoberta contraria a hipótese de que a expansão inicial foi impulsionada pela presença humana. No entanto, o estudo, publicado no periódico Ecography, sugere que, no estágio posterior, a ação humana teve um papel fundamental na dispersão das sementes e na configuração atual dessa floresta.
A Araucaria angustifolia, espécie predominante na floresta, possui grande importância cultural e ecológica, servindo como fonte de alimento tanto para animais quanto para populações humanas. No entanto, a diversidade genética das araucárias foi significativamente reduzida ao longo do tempo, principalmente no Sul do Brasil, onde houve uma maior atividade antrópica. O transporte de sementes por humanos pode ter facilitado essa homogeneidade genética, assim como a endogamia entre as árvores distantes geograficamente.
Já na Serra da Mantiqueira, localizada entre São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, a expansão da floresta foi mais recente, cerca de 3 mil anos atrás, possivelmente influenciada por eventos climáticos e a ocupação humana menos intensa. Ao contrário do Planalto Sul, as evidências arqueológicas de ocupação humana na Mantiqueira são escassas, o que torna mais difícil confirmar a hipótese de interferência humana na dispersão das araucárias nessa área.
As áreas onde foram encontradas estruturas arqueológicas conhecidas como “casas subterrâneas” coincidem com a atual distribuição da floresta de araucárias, sugerindo que essas populações escolheram os locais devido à abundância de recursos naturais, como o pinhão. Esses locais, predominantemente no Sul do Brasil e no Uruguai, reforçam a ideia de que a interação entre humanos e a araucária não foi apenas acidental, mas uma relação de longo prazo, marcada pelo consumo e dispersão das sementes.
Além do impacto ancestral, as populações remanescentes de araucárias enfrentam atualmente ameaças significativas, como a fragmentação florestal e o aumento das temperaturas causado pela crise climática. Nas regiões da Mantiqueira, que até então mantinham uma relativa estabilidade populacional, o cenário é de preocupação. O reduzido tamanho das populações, associado à degradação ambiental, exige políticas urgentes de preservação para evitar o desaparecimento dessa espécie vital.
O estudo foi liderado por pesquisadores de instituições renomadas dos Estados Unidos, com apoio da FAPESP, e evidencia a necessidade de uma abordagem integrada para a conservação da biodiversidade. Mais do que nunca, entender como o clima e a ação humana se entrelaçam na história da floresta de araucárias é fundamental para traçar estratégias eficazes de preservação.
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