Prefeito contraria Salles e diz que quer manter semana do clima em Salvador

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ACM Neto mandou secretário consultar ONU sobre possibilidade; Ministro do Meio Ambiente mandou cancelar evento por medo de protestos contra sua gestão

O prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), resolveu apimentar o acarajé do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (Novo-SP). Depois de Salles dizer que a realização de uma reunião internacional sobre mudanças climáticas na cidade só serviria para “a turma fazer turismo e comer acarajé”, Neto afirmou que pretende manter o evento na capital baiana.

O prefeito, que está no Reino Unido, telefonou nesta terça-feira (14) ao secretário municipal de Cidade Sustentável e Inovação, André Fraga, determinando que este consultasse a Convenção do Clima da ONU (UNFCCC) sobre a possibilidade de Salvador sediar a Climate Week Latin America, em agosto, mesmo com oposição do governo federal.

Em resposta, Luca Brusa, integrante da equipe encarregada da Climate Week na sede da UNFCCC, em Bonn (Alemanha), disse que consultaria a secretária-executiva Patricia Espinosa nesta quarta-feira.

Não há precedente na história da convenção de um governo subnacional sediar um evento oficial da UNFCCC sem a concordância do governo federal.

Neto, porém, tem um trunfo político – ou melhor, três: é presidente do Democratas, partido que tem as presidências da Câmara e do Senado e em cujas mãos está a reforma da Previdência, pedra angular do governo de Jair Bolsonaro. Tem também uma dose de irritação por Salles ter comunicado à ONU que retiraria a oferta do Brasil para sediar a Climate Week sem consultá-lo, como manda a etiqueta política.

A notícia do cancelamento circulou na segunda-feira, na forma de um comunicado da equipe responsável pela Climate Week na UNFCCC. Segundo o OC apurou, a decisão de Salles se deu por temor de que ambientalistas usassem o encontro para protestar contra sua gestão à frente do Ministério do Meio Ambiente. Na semana passada, o ministro foi acusado por oito dos nove ex-ministros vivos da pasta de promover um “desmonte” da governança ambiental brasileira.

A desistência foi comunicada na semana passada à Prefeitura de Salvador, que organizava o evento juntamente com a UNFCCC. Ainda não houve comunicação formal do cancelamento à convenção.

Nesta segunda-feira, os organizadores do evento do lado da ONU circularam um comunicado interno lamentando a decisão do governo brasileiro e afirmando que estão “explorando opções” de uma cidade que tope sediá-lo. Salvador está escolhida para sediar a Climate Week desde o ano passado. Faltam três meses para o encontro.

Em novembro do ano passado, por ordem de Bolsonaro, o país já havia cancelado a oferta de sediar a COP25, a conferência diplomática anual sobre mudanças climáticas, causando constrangimento na ONU e arranhões à imagem internacional do país. O Chile se ofereceu para sediar o encontro órfão.

Neto já havia oferecido a cidade para sediar a COP. Sem esta opção, ficou com a Climate Week como prêmio de consolação e já vinha preparando a cidade – que deve publicar em breve seu plano municipal de mudança do clima.

No caso da COP25, Bolsonaro tinha a desculpa dos custos: estima-se que uma COP custe cerca de R$ 300 milhões. Segundo André Fraga, não havia esse argumento desta vez, já que os custos seriam bancados pela cidade-sede. “É uma visão estreita do que seja desenvolvimento”, afirmou.

Diferentemente da COP, que é um evento político, a Climate Week se dedica a negócios e troca de experiências. É um encontro para a demonstração de soluções para a crise do clima, e envolve maciçamente o setor privado.

Ela antecede a semana do clima de Nova York, que ocorre antes da reunião da Assembleia Geral da ONU, em setembro.

Acarajé

O OC procurou o MMA para esclarecimentos nesta terça-feira. Esta página será atualizada caso o ministério se manifeste. Pela manhã, o ministro declarou à jornalista Andreia Sadi que não faria sentido manter a Climate Week no Brasil porque a COP será no Chile, e que fazê-lo só serviria para “o pessoal de sempre” “fazer turismo” e “comer acarajé”.

“Vou manter um encontro que vai preparar um outro [sic], que não vai acontecer mais no Brasil, por quê? Não faz o menor sentido, vai para o Chile! Vou [sic] fazer uma reunião para a turma ter oportunidade de fazer turismo em Salvador? Comer acarajé?”

Diferentemente do que o ministro afirmou, a Climate Week Latin America não é “preparatória” para a COP, visto que os encontros têm agendas e objetivos distintos. Além disso, a decisão de fazer o evento no Brasil foi tomada em 22 de agosto do ano passado, antes mesmo de o país ter a confirmação de que sediaria a COP. O governo Bolsonaro ordenou o cancelamento da COP no Brasil em novembro, mas nada fez sobre a Climate Week.


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