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Utilizado em cultivos agrícolas de diversos países, inclusive no Brasil, o agrotóxico é comprovadamente prejudicial à saúde

O cloreto de clormequat, ou clormequato, é um composto químico amplamente utilizado como regulador de crescimento, no cultivo de produtos agrícolas. O composto também pode ser identificado como cloreto de clorocolina, cycocel, chlormequat ou CCC.

O composto, feito a base de amônia quaternária, foi descoberto pelo bioquímico estadunidense Nathan E. Tolbert, ainda na década de 1950. A amônia quaternária é uma substância química bastante utilizada em alguns produtos de limpeza, que atuam contra diversos microrganismos. 

Na agricultura, o cloreto de clormequat é usualmente aplicado em plantações de trigo, arroz, algodão, soja, tabaco, milho, tomate, entre outros. Nas plantações, o regulador de crescimento pode ser absorvido tanto pelas folhas, quanto pelas raízes das plantas.

O que é um regulador de crescimento?

Um regulador de crescimento, aplicado em culturas vegetais, é capaz de atuar nas etapas de crescimento e desenvolvimento das plantas. A aplicação de reguladores pode controlar os processos fisiológicos dos vegetais, impulsionando ou desestimulando seu crescimento.

Difundida amplamente na agricultura e na horticultura de todo o mundo, a aplicação do cloreto de clormequat é capaz de encurtar o caule de espécies vegetais, diminuindo a altura das plantas. Esse encurtamento faz com que a planta se torne mais rígida, evitando que ocorra o acamamento. 

Acamamento é um processo natural, que  ocorre quando as plantas crescem a ponto de ficarem arqueadas com seu peso ou por conta do vento. O arqueamento da planta forma uma espécie de dossel, causando sombra em suas folhas, além de levar seus frutos mais próximos ao solo. Em plantações de soja, por exemplo, o acamamento é apontado como prejudicial para a produtividade e qualidade dos grãos.

cloreto de clormequat - plantação de soja
Plantação de soja em Santarém, Pará / Foto de Jeso Carneiro, sob CC BY-NC 2.0 DEED no Flickr

Além disso, um estudo publicado pela Springer mostrou que o uso de cloreto de clormequat também pode modificar genes dos tecidos vegetais, responsáveis pelo crescimento das plantas, conhecido como meristema floral. Dessa forma, o clormequato tem capacidade de afetar também a floração das espécies.

Efeitos do cloreto de clormequat em espécies vegetais

Outro estudo, publicado pela Science Direct, apontou que a aplicação do clormequato em culturas de morangos, além de aumentar a espessura dos caules, também aumentou o teor de clorofila e impulsionou o desenvolvimento dos sistemas radiculares (raízes) das plantas. 

Ainda sobre as culturas de morangos, pesquisadores nepaleses também reforçam que o composto químico torna as folhas da planta mais espessas e com tons de verde mais escuros. Outro ponto levantado é o controle do crescimento das plantas, que passam a ser consideradas anãs. Esse controle químico, segundo os pesquisadores, é uma prática comum pois deixa a planta “compacta” e “comercialmente aceitável”.

cloreto de clormequat - plantação de morangos
Plantação de morangos na Argentina / Foto de Nahuel Berger/World Bank, sob CC BY-NC-ND 2.0 DEED no Flickr

Segundo o artigo, as plantações de trigo também apresentam diferentes resultados com a aplicação do clormequato, que além de terem seu caule reduzido, também aumentam o número de perfilhos (pequenos brotos) férteis.

Com as “vantagens” relacionadas a aplicação do cloreto de clormequat, seu uso passou a ser excessivo em diversas culturas agrícolas. Esse fator causa impacto, elevando o teor do clormequato residual em cereais, vegetais e frutas, como explicam os pesquisadores. Testes em peras demonstraram a presença elevada do composto na fruta, chegando a 11 mg/kg do alimento. 

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Os impactos do uso do cloreto de clormequat na saúde

O cloreto de clormequat é reconhecido pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, da sigla em inglês) como um pesticida. De acordo com a Embrapa, “o termo pesticida (ou agrotóxico) é usado para designar, de maneira geral, qualquer composto manufaturado a ser empregado na agricultura com o objetivo de controlar pragas, doenças e impedir o desenvolvimento e crescimento de plantas daninhas”. O termo ainda engloba “inseticidas, fungicidas, herbicidas, acaricidas, fumigantes, reguladores de crescimento, dessecantes etc.”

Segundo o relatórioPesticide residues in food”, atualizado em 2022, a ingestão diária máxima permitida para o clormequato é de 0.05 mg/kg de peso corporal. Ou seja, uma pessoa com 70kg, exposta ao cloreto de clormequat pela alimentação, poderia ingerir, no máximo, 3.5 mg do resíduo no alimento, sem correr riscos de intoxicação.

Riscos na gestação

Uma pesquisa, realizada pela Xinjiang Medical University, na China, mostrou que a ingestão de cloreto de clormequat, em diferentes níveis, é capaz de afetar o desenvolvimento de embriões, durante a gestação. 

O agrotóxico foi apontado como responsável pelo aumento do hormônio do crescimento (GH, de growth hormone) embrionário, além do aumento do hormônio que libera o GH (GHRH, growth hormone releasing hormone) e da somatostatina (SRIF, somatotropin release–inhibiting factor).

A somatostatina é um hormônio, produzido pelo pâncreas, também responsável por regular a produção de outros hormônios essenciais para o correto funcionamento do corpo humano, como insulina, glucagon, gastrina, secretina, renina, entre outros.

O clormequato também foi indicado por inibir mecanismos de atuação da proteína quinase A (PKA, protein kinase A), que tem diversas funções fundamentais para o organismo. Uma delas é regular o desempenho do sistema cardiovascular.

Toxicidade reprodutiva

Outra pesquisa relaciona a exposição ao agrotóxico com a diminuição da qualidade do esperma, afetando a produção do testosterona, o hormônio sexual masculino. Pesquisadores da Peking University, também na China, apontam para alterações anormais nos níveis de importantes hormônios relacionados ao sistema reprodutor masculino, além da testosterona:

  • o hormônio luteinizante (LH, luteinizing hormone), que auxilia na produção de testosterona; 
  • o hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH, gonadotropin-releasing hormone), que estimula a produção de hormônios sexuais, inclusive o LH, além de regular o início da puberdade e o desenvolvimento sexual;

Proteínas e genes responsáveis pela produção de hormônios esteróides também são afetados pelo agrotóxico. Além disso, a pesquisa também relaciona a perda de peso, o comprometimento da vitalidade dos espermatozóides e os atrasos no desenvolvimento da próstata na puberdade, como fatores resultantes da exposição ao cloreto de clormequat.

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Aumento à exposição por cloreto de clormequat

Um artigo, publicado pela Nature, mostrou o resultado de um estudo toxicológico, realizado por pesquisadores norte-americanos, que evidencia um aumento considerável da exposição humana ao cloreto de clormequat.

Para o estudo, foram colhidas 96 amostras de urina de voluntários, entre 2017 e 2023. O clormequato foi encontrado em 80% das amostras. A frequência foi maior nas amostras de 2023. Além disso, a concentração do agrotóxico também foi maior nas amostras mais recentes.

Realizada nos Estados Unidos, a pesquisa ainda comparou os níveis de clormequato em amostras de alimentos à base de aveia, selecionadas entre 2022 e 2023.

cloreto de clormequat - plantação de aveia
Aveia arqueada com o peso dos próprios grãos / Foto de RonnyK, sob domínio público no Needpix

De 25 amostras diferentes, 23 apresentaram concentração do agrotóxico em algum nível, chegando a 291 mcg/kg. Além disso, em uma amostra de aveia orgânica foram detectados 17 mcg/kg de cloreto de clormequat. O composto também foi encontrado em produtos à base de trigo, em menor teor.

Um estudo anterior, realizado por pesquisadores suecos, já havia documentado a presença de cloreto de clormequat em 100% das amostras de urina de 1060 jovens, entre 17 e 21 anos, no período de 2000 até 2017. Dentre os 14 agrotóxicos pesquisados, o clormequato apareceu como uma das substâncias com maior concentração média, acima de 0.8 mcg/L. Em amostras de centeio, cultivadas no país, o agrotóxico também apresentou maior frequência.

No Brasil, o uso de cloreto de clormequat é permitido e algumas pesquisas tratam dos efeitos do agrotóxico no desenvolvimento da agricultura. As pesquisas relacionam o clormequato, principalmente, às culturas de soja e algodão. No entanto, existem pesquisas que relacionam seu uso a plantações de sorgo, trigo, feijão, abacate, aveia e uva


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