Cobalto em excesso causa câncer, confirma estudo

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Por Agência FAPESP | Estudo publicado na revista Lancet Oncology confirma algo que muitos especialistas já suspeitavam: a exposição excessiva ao cobalto pode causar câncer.

A investigação foi encomendada pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) da Organização Mundial da Saúde (OMS) e conduzida por 31 cientistas de 13 países, entre eles Thomas Prates Ong, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP) e membro do Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC), financiado pela FAPESP.

Os autores fizeram uma revisão de centenas de artigos, analisando a carcinogenicidade de nove agentes: cobalto (metal, sais solúveis, dois tipos de óxidos, sulfetos e outros compostos de cobalto), antimônio (trivalente e pentavalente) e tungstênio para munição de armas (contém níquel e cobalto). Para o metal cobalto e os compostos de cobalto, partículas moleculares de todos os tamanhos foram incluídas na avaliação.

As evidências de associação ao câncer foram suficientes para o metal, sais e um tipo de óxido de cobalto.

“O cobalto e o antimônio registraram o mais alto índice de carcinogenicidade nos parâmetros da IARC, classificando-se como prováveis elementos carcinogênicos. O tungstênio registrou evidências menores, então segue sendo um possível carcinogênico”, afirma Ong, que se dedica a estudos em nutrição, câncer e epigenética – área dedicada a entender como fatores ambientais (alimentação, exposição solar, tabagismo etc.) influenciam o funcionamento do genoma (ativando e silenciando genes). Ainda que não envolvam mutações gênicas (alteração na sequência do DNA), as modificações epigenéticas se perpetuam nas células e podem ser transmitidas aos descendentes.

“Concluímos que o cobalto induz a formação de tumores ao proporcionar um aumento das inflamações e mutações. Além disso, modifica o padrão epigenético ao causar alterações na forma como as células se proliferam, se diferenciam e morrem”, acrescenta.

Contaminação de alimentos

O cobalto é um dos componentes da molécula de vitamina B12 e, portanto, é essencial para o bom funcionamento do organismo em pequenas quantidades. O problema é a exposição excessiva, que geralmente ocorre no local de trabalho.

Segundo o estudo, “o cobalto é usado em muitas indústrias, inclusive na fabricação de ferramentas de corte e retificação, em pigmentos e tintas, vidro colorido, implantes médicos, galvanoplastia e, cada vez mais, na produção de baterias de íon-lítio”. Para o trabalhador dessas indústrias, a exposição ao elemento químico se dá, principalmente, por inalação de poeira e contato com a pele.

Para a população em geral, a ingestão de alimentos contaminados é a principal fonte de exposição, podendo ocorrer também pela fumaça de cigarro, poluição do ar e implantes médicos. No caso dos alimentos, a contaminação geralmente se dá quando os resíduos da fabricação de produtos que usam o cobalto chegam aos rios, ao solo e às plantações. “É um problema grave porque coloca em risco um amplo número de pessoas, com o consumo de alimentos e água contaminados, e por isso é muito importante o processo de fiscalização”, afirma o professor da FCF-USP.

Um consumo normal de cobalto pela alimentação varia entre 5 e 50 microgramas (μg) por dia, com uma concentração no plasma sanguíneo de até 0,2 μg /litro. Sabe-se que, acima de 7 μg /litro de plasma, sintomas de toxicidade podem ocorrer e o excesso de cobalto no organismo é eliminado principalmente pela urina.

Os alimentos que mais contêm cobalto são nozes, vegetais folhosos, cereais, chocolate, café, peixes e manteiga. A vitamina B12 é encontrada em carnes e derivados do leite, porém, a ingestão diária de 2,4 μg dessa vitamina contém apenas 0,1 μg de cobalto. Mas, segundo evidências científicas, o consumo de alimentos que naturalmente contêm cobalto não representa riscos à saúde.

O artigo Carcinogenicity of cobalt, antimony compounds, and weapons-grade tungsten alloy pode ser acessado em: www.thelancet.com/journals/lanonc/article/PIIS1470-2045(22)00219-4/fulltext.


Este texto foi originalmente publicado pela Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.

Carolina Hisatomi

Graduanda em Gestão Ambiental pela Universidade de São Paulo e protetora de abelhas nas horas vagas.

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