Cobra do deserto é um nome popular dado às espécies desses répteis rastejantes, sem membros, que vivem nos biomas mais quentes e secos do mundo.
Existem mais de 3500 espécies de cobras espalhadas nos diferentes biomas do mundo. Algumas são inofensivas, outras, nem tanto. É o caso da cobra taipan-do-interior (Oxyuranus microlepidotus).
A Oxyuranus microlepidotus é uma cobra do deserto australiano. O veneno da taipan-do-interior é extremamente potente, sendo considerado o veneno mais tóxico dentre todos os venenos de cobra.
O veneno dessa cobra do deserto é potencialmente neurotóxico, além de conter a enzima hialuronidase, que funciona como um fator de propagação, aumentando sua taxa de absorção no corpo da vítima.
Uma picada da taipan-do-interior tem potencial letal. Apesar disso, pesquisadores afirmam que, apesar de ser citada como a cobra mais venenosa do mundo, essa cobra do deserto australiano dificilmente vai ser a mais perigosa. Isso porque essa cobra não é considerada agressiva e é dificilmente encontrada por humanos.
Apesar de inspirar medo em muitas pessoas, as cobras são fundamentais para o equilíbrio dos ecossistemas. Seja como predadores ou presas, a ausência de cobras poderia gerar desequilíbrio na cadeia alimentar, causando superpopulações de algumas espécies e ausência de alimento para outras.
No mundo atual, a principal ameaça a esses seres é a perda de habitat. As mudanças climáticas podem contribuir ainda mais para a instabilidade.
As mudanças climáticas e o aumento do aquecimento global representam grandes ameaças, não só para as cobras do deserto, mas para todas as espécies endêmicas dos biomas desérticos.
Um estudo, realizado por cientistas norte-americanos, analisou a situação de espécies nativas de répteis e anfíbios de biomas desérticos, em relação às mudanças climáticas. Foram analisadas 30 espécies, que habitam desertos entre o México e o oeste dos Estados Unidos.
De acordo com os pesquisadores, as cobras utilizam mecanismos de termorregulação. A regulação de sua temperatura corporal depende da temperatura ambiente. Isso quer dizer que, com um ambiente cada vez mais quente, mesmo os animais com hábitos noturnos poderiam exceder sua temperatura máxima quando ativos, alcançando valores críticos, que poderiam ser letais.
Habitualmente, animais vertebrados ectotérmicos (que dependem de fonte externa para regular sua temperatura) recuam para refúgios térmicos sazonalmente, quando em locais ou estações em que a temperatura do ambiente excede seu limite crítico. Dessa forma, esses animais evitam o superaquecimento e a morte.
Por outro lado, ao se refugiar por intervalos de tempo muito longos, esses animais abrem mão de atividades importantes para sua sobrevivência. A defesa de seus territórios, comportamentos reprodutivos e a caça por alimentos ficam comprometidos.
Com o aumento da temperatura e a extrapolação de seus limites térmicos, os pesquisadores prevêem a extinção de 38% das populações analisadas, nos próximos 50 anos.
É bem verdade que as espécies de cobras peçonhentas, quando defrontadas, podem causar sérios problemas. Os venenos das cobras são substâncias tóxicas, que podem causar necroses, hemorragias, paralisias, alterações de plaquetas, fibrinólise, coagulação do sangue, entre outros problemas no corpo humano e de outros animais.
Por outro lado, apesar de serem temidas, as cobras venenosas, na verdade, podem representar a cura para muitos males. Além disso, o uso medicinal do veneno de cobra já vem sendo estudado há mais de um século.
Um importante uso de seu veneno é no desenvolvimento dos soros antiofídicos, que funcionam como antídotos às picadas de cobra. Um dos fármacos mais utilizados para combater os sintomas da pressão alta (Captopril), por exemplo, foi desenvolvido a partir do veneno da jararaca brasileira (Bothrops jararaca).
Nesse contexto, formulações de uso medicinal, a partir do veneno de diversas cobras, continuam em desenvolvimento, em todo o mundo.
As cobras da espécie Cerastes são venenosas, encontradas principalmente no noroeste da África e partes do Oriente Médio, e têm grande relevância na medicina. Essas cobras, que fazem parte da família Viperidae, são compostas por quatro espécies.
Duas dessas são consideradas, pelos estudiosos, espécies irmãs: são as víboras-com-chifres, uma africana (Cerastes cerastes) e a outra árabe (Cerastes gasperettii). As outras duas são espécies mais distantes, chamadas de víboras-da-areia, uma do Saara (Cerastes vipera) e a outra de Böhme (Cerastes boehmei).
Um importante estudo, realizado por pesquisadores egípcios, analisou os efeitos do veneno de cobras Cerastes, no tratamento da artrite reumatoide (AR).
Considerada uma doença autoimune (causada pelo próprio sistema imunológico), a AR causa inflamações crônicas, que podem atingir várias articulações do corpo. Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia, essa doença acomete duas vezes mais mulheres do que homens. Além disso, sua causa não é conhecida.
Por meio de estudos bioquímicos, os pesquisadores desenvolveram um fármaco em fase inicial, a partir do veneno da Cerastes. Na sequência, foram realizados experimentos laboratoriais em grupos de cobaias com AR. Foi possível analisar, então, os resultados e a eficácia do composto de veneno da cobra do deserto.
Os resultados do experimento demonstraram que a aplicação do fármaco, produzido com o veneno,causou a diminuição do estresse oxidativo e potentes efeitos anti-inflamatórios e imunomoduladores (estimulam a resposta do sistema imunológico a microorganismos) no tratamento da artrite.
A cascavel é uma cobra nativa das Américas, mas tem variedades diferentes dentro de sua espécie. Seu habitat se estende do sul do Canadá até o centro da Argentina, passando pelo Brasil. Existem mais de 30 espécies de cobra cascavel, e em comum, todas elas são peçonhentas e tem um chocalho aterrador na ponta da cauda.
A maioria dessas espécies, inclusive, habita os desertos da América do Norte. A cascavel-do-Mojave (Crotalus scutulatus), por exemplo, é uma cobra do deserto que tem um bonito tom de verde e vive no deserto homônimo.
A única espécie de cascavel brasileira (Crotalus durissus), por falta de deserto no país, prefere habitar as regiões mais quentes, como o Cerrado e a Caatinga. Apesar disso, ela pode ser encontrada em campos abertos e pastagens em qualquer parte do Brasil, além de plantações de café e cana-de-açúcar.
Em uma pesquisa, realizada por cientistas do Instituto Butantan, foi descoberto que uma das toxinas do veneno da cascavel pode reduzir os efeitos da sepse (popularmente conhecida como infecção generalizada). A crotoxina, que já é estudada pelo Instituto há duas décadas, foi capaz de modular mecanismos do sistema imunológico.
Os experimentos, realizados em grupos de cobaias, tiveram como resultado um aumento na taxa de sobrevivência à doença, de 40% para 80%. Segundo o Butantan, a sepse é responsável pela morte de 300 mil pessoas no Brasil e 6 milhões de pessoas no mundo anualmente.
Além disso, um estudo anterior, também realizado pela equipe do Butantan, já havia demonstrado que a crotoxina é capaz de inibir a proliferação de células tumorais, aumentando a resposta anti-inflamatória do organismo.
De acordo com Sandra Coccuzzo, diretora do Centro de Desenvolvimento Científico do Butantan e coordenadora da pesquisa, apesar de ser tóxica, “a crotoxina é uma vitrine de possibilidades”.
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