O caso da contaminação por cocaína nas águas de Santos sublinha a necessidade urgente de medidas de controle ambiental e de conscientização sobre o descarte adequado de resíduos, incluindo soluções como os banheiros secos
A praia de Santos, tradicionalmente conhecida por sua atividade portuária e importância econômica, enfrenta agora uma nova e inesperada ameaça ambiental: a contaminação por cocaína, proveniente da urina e fezes humana. Essa substância, classificada como um contaminante emergente, está presente nas águas, sedimentos e organismos marinhos, como ostras e mexilhões, e pode representar um risco direto à saúde humana quando esses animais são consumidos. Essa descoberta, realizada por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Universidade Santa Cecília (Unisanta), revela o alcance da poluição em áreas urbanas.
As amostras, coletadas na região do emissário submarino da baía de Santos,mostraram que além da cocaína, outros medicamentos como ibuprofeno, paracetamol e diclofenaco estão presentes em concentrações alarmantes. A coleta foi feita com o auxílio de um veleiro com baixa pegada de carbono, demonstrando o compromisso dos cientistas com a sustentabilidade. Esses contaminantes, expelidos principalmente pela urina humana, entram no ciclo das águas devido à falta de tratamento adequado de esgoto e ao crescente consumo de substâncias ilícitas.
Nesse contexto, surge a importância de tecnologias sustentáveis como os banheiros secos. Esses dispositivos, que não utilizam água para o descarte de fezes e urina, funcionam por meio de um processo de compostagem ou separação dos resíduos, evitando que substâncias como a cocaína e medicamentos entrem no sistema de esgoto e, consequentemente, nos corpos hídricos. Além de preservar os recursos hídricos, os banheiros secos contribuem para reduzir a poluição ambiental, sendo uma solução prática para áreas com escassez de água ou onde o tratamento de esgoto é inadequado.
Estudos geoquímicos indicam que o acúmulo de cocaína no estuário de Santos começou na década de 1930, mas as concentrações da droga aumentaram drasticamente nas últimas décadas. Isso se deve, em parte, ao fato de Santos ser uma rota importante para o tráfico de drogas entre a América do Sul e a Europa, além do aumento do consumo de cocaína e crack na região. A ausência de sistemas eficazes de tratamento de esgoto agrava ainda mais a situação, permitindo que essas substâncias químicas entrem no ambiente sem controle.
Os pesquisadores defendem a implementação de um programa epidemiológico baseado na análise de águas residuais, capaz de monitorar o consumo de drogas ilícitas e seus impactos na saúde pública. Este sistema poderia identificar não apenas a presença de cocaína, mas também de outras substâncias, como álcool e tabaco, ajudando a direcionar políticas públicas para enfrentar esses desafios. Além disso, os cientistas afirmam ser necessários mais pesquisas a respeito dos efeitos do consumo dos animais contaminados com as drogas mencionadas.
O caso da contaminação por cocaína nas águas de Santos sublinha a necessidade urgente de medidas de controle ambiental e de conscientização sobre o descarte adequado de resíduos, incluindo soluções como os banheiros secos. Proteger a saúde humana e o ecossistema marinho deve ser uma prioridade em meio a este crescente problema.