O colorismo é um termo que surgiu em 1982 após a publicação do livro “If the Present Looks Like the Past, What Does the Future Looks Like?” (“Se o presente se parece com o passado, como será o futuro?”) da escritora Alice Walker, ativista do feminismo negro. A palavra remete à lógica racista que separa as pessoas pela cor e pelos traços que remetem à negritude.
Desta forma, o colorismo é tido como uma maneira da branquitude de “aceitar” socialmente algumas pessoas negras conforme elas tenham mais características “europeias”. Um exemplo para isso é o alisamento capilar. Durante muitos anos, mulheres negras optaram por alisar seus cabelos crespos e encaracolados com intuito de se adequar aos padrões racistas.
Por causa disso, quando essas pessoas escolheram parar de alisar seus cabelos, elas começaram a perceber que a sociedade não estava tão disposta a aceitá-las. Isso porque o colorismo cria um meio para que as pessoas brancas ignorem a racialidade de pessoas negras de pele clara, e consigam oferecer alguns chamados “privilégios” a elas —- que são perdidos assim que esses indivíduos deixam de esconder suas raízes.
A miscigenação e a eugenia são problemas com grande influência na sociedade brasileira. Enquanto Portugal ainda tinha certo poder sobre o Brasil, e a cultura escravista ainda reinava, foram implementadas políticas de embranquecimento da nação. Mas o que isso significa?
A imigração europeia para o país latino foi incentivada pelos colonizadores, e tinhao intuito de embranquecer a população, que devido à escravidão, era composta principalmente por pessoas negras. Desta maneira, o Brasil se tornou um país com uma grande população negra de tons de pele diferentes.
O colorismo, no cenário brasileiro, serviu para separar aqueles que tinham o tom de pele mais claro de negros de pele escura. Logo, aqueles que apresentam mais características e traços europeus, mesmo que tenham descendência e sejam pessoas negras, ocupam espaços que indivíduos de pele escura não têm acesso.
Para especialistas no colorismo, este tipo de preconceito estrutural serve como uma forma da branquitude ignorar os traços raciais de pessoas de pele clara. Afinal, o tom de pele delas permite que pessoas brancas não precisem lidar com o racismo internalizado, que reproduzem ao entrar em contato com traços mais fortes.
A existência do colorismo torna a experiência de pessoas de pele clara dentro da comunidade negra complicada. Isso porque alguns negros de pele clara podem não considerar a sua vivência como alguém a de alguém preto, enquanto eles mesmos se questionam se podem se entender como parte da comunidade negra.
Essa situação cria uma dificuldade de comunicação dentro do movimento negro, onde a existência de indivíduos de pele clara é questionada a todo momento, e suas dificuldades podem ser até mesmo ignoradas. Fator que beneficia os privilégios daqueles que são brancos. Afinal, eles ganham mais quando o movimento negro passa por instabilidades.
Pessoas negras de pele clara não são “aceitas” com mais facilidade pela população branca, mas sim “toleradas”. Ou seja, nesse quesito, um dos únicos privilégios desses indivíduos sobre quem tem pele escura é conseguir ser tolerado pela sociedade branca em certas situações.
Por se reconhecer, em algumas partes, naqueles de tom claro, a branquitude permite que eles estejam no mesmo lugar que os brancos. Porém, a branquitude não eleva essas pessoas ao mesmo patamar, pois ainda os enxerga como intrusos e não como iguais.
O colorismo só faz com que aqueles com mais características e fenótipos negros sejam mais excluidos do convívio social. Ou seja, uma mulher negra de pele escura sofre, e é ignorada, pelo fato de ser minoria em diversos aspectos.
Todos esses preconceitos – colorismo, racismo e misoginia — se acentuam quando a mulher negra de pele escura é transgênero. Essas pessoas, além de sofrerem com as violências listadas acima, também são condicionadas a sofrerem de transfobia, um preconceito que não respeita sua identidade e sua existência.
Segundo o projeto Transrespect versus Transphobia Worldwide da ONG Transgender Europe (TGEU), o Brasil é um dos países que mais mata pessoas transgênero no mundo. Para completar esse cenário terrível, o país também conta com uma grande taxa de feminicídio negro, de acordo com dados do 15º Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
Desta forma, é possível visualizar que mulheres trans negras de pele escura estão suscetíveis a diversas violências que vão muito além do colorismo e do racismo.
A presença do colorismo não se faz apenas no Brasil ou na comunidade negra. Em países da Ásia, por exemplo, a pele de tom claro sempre foi valorizada pelos padrões de estética local. Isso significa que aqueles que tem uma pele mais escura, mesmo não sendo individuos negros ou pardos, também sofrem com a pressão estética e o preconceito estrutural.
O colorismo se encontra em todos os lugares do mundo, afinal, o pensamento racista e preconceituoso se espalhou pelo globo junto dos ideais colonizadores, que impactaram a humanidade de maneira intrínseca.
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