Com tecnologia sustentável, projeto Bacias & Florestas apoia hortas urbanas em MG

Compartilhar
Se preferir, vá direto ao ponto Esconder

Por WWF-BrasilSe tem uma coisa que boa parte dos moradores de Sete Lagoas (MG) tem orgulho é de ter na cidade uma das maiores áreas de Hortas Comunitárias Urbanas (HCUs) do Brasil, e não faltam motivos para essa admiração.  Criado em 1982, pela Prefeitura Municipal da cidade, para ajudar pessoas em vulnerabilidade social e econômica, atualmente, o projeto conta com sete grandes hortas que somam cerca de 25 quilômetros de extensão, atende diretamente 320 famílias, agrega cada vez mais parceiros e conquistou não só trabalho e renda para os produtores, mas a chance de uma alimentação saudável para centenas de pessoas, especialmente nos bairros mais carentes.

Agricultora familiar mobiliza venda de hortaliças para alimentação escolar em tempos de pandemia

Aliás, no que depender da agricultora Maria Passos, não é só comida saudável que vai para a mesa da comunidade, mas também um pouco de justiça social, como ela mesma define. Beneficiada pelo projeto no bairro Cidade de Deus, Dona Maria possui uma abundante variedade de espécies cultivadas, já ganhou boa fama pela qualidade do que produz, tira toda a renda para sustentar a família da terra, que diz ser “abençoada” e tem um claro propósito para o seu trabalho: atender a sua comunidade!

“Eu sou arrimo de família, daqui tiro parte do nosso alimento e o dinheiro para as outras necessidades. Meus pais eram agricultores e eu já trabalhei em muitas coisas no passado, mas estou cultivando essas terras desde que o projeto nos deu essa oportunidade. Nesse tempo, observei que muitas vezes dois reais era muito para algumas famílias, e ficava pensando o porquê dessas pessoas não terem direito ao sabor de um alecrim, um tomilho, um orégano fresco? A maioria nem sabia o gosto desses temperos. Então, pensei que era preciso ajudar a minha comunidade e a gente passou a fazer um pacote diferencial para quem tem menos, para dar acesso ao que não conheciam”, conta Dona Maria.

A agricultora não parou por aí e, no que depender dela, outros sabores vão fazer parte da mesa dos moradores de Cidade de Deus. “Eu plantei e distribuí alho poró de graça para minha comunidade. Não chegava à mesa das pessoas porque era caro, mas agora eu vejo baixa renda querendo e podendo consumir alho poró! E já iniciei a produção de aspargos, que vai dar certo, porque nessa terra abençoada tudo que se planta com carinho, nasce. Vou dar aspargo na primeira colheita para todos de Cidade de Deus que quiserem e depois manterei a baixo custo”.

O próximo passo, ela diz, vão ser as flores comestíveis. “Por que a gente não pode enfeitar nossa salada com flores? Tomar um suco com flores? Quero levar isso para a mesa dos meus clientes, pois baixa renda também pode ter flores na alimentação”, afirma.

Do outro lado da cidade, no bairro Montreal, Carlos Adriano do Rosário, o Seu Carlos, também está cheio de ideias inovadoras para as hortas. Há três anos no projeto, concilia as profissões de pedreiro, pintor, marceneiro e carrega com muita honra a nova função de produtor agrícola de colheitas sem agrotóxicos, com trabalho de proteção do solo e de uso responsável da água. Para ele, cada dia traz um novo aprendizado, mas poder inspirar outras pessoas a mudar a forma de cultivo utilizando técnicas sustentáveis é um dos maiores retornos.

“Eu amo minhas profissões, mas essa horta aqui para nós é uma riqueza muito grande, por poder plantar sem agrotóxico, sem usar produtos químicos, consumir e oferecer alimento saudável para todos. Maravilhoso, mas não é fácil. Tem que se dedicar e manter a mente aberta para aprender e fazer melhor todos os dias. Já fabricamos nosso próprio adubo, nosso biofertilizante, temos um solo que melhora cada vez mais e iniciamos a questão da cobertura morta, que tem sido muito boa para gente, porque ajuda a manter o solo na umidade correta com pouca água”, pontua Seu Carlos.

“Mas tem que persistir! Pouco tempo atrás, quando o pessoal queria conhecer nossa horta e perguntava: onde é a horta do Carlos? Falavam: é a horta do capim. Usavam como um termo de crítica, porém, não paramos, pois tivemos a honra de aprender com pessoas com grande conhecimento, que nos ensinaram com muito amor e muito carinho, e tudo que a gente aprende a gente aplica”.

Alface: hortaliça rica em fibras é aliada da saúde

Depois, na época que a maioria dos produtores parou de produzir por conta da chuva, a horta do Carlos não parou. “Atravessamos o ano plantando, descobrindo e aprendendo meios. E agora, tem gente me perguntando o segredo e já estou vendo vizinho usando cobertura morta. Divulgar esse sistema rico, barato e cheio de benefícios é a minha forma de contribuir”, ressalta.

Para Seu Carlos, produzir muito e com qualidade, e incentivar outros a adotarem sistemas sustentáveis e melhorar a produção gerou outro desafio grande, o de encontrar cada vez mais clientes que garantam a venda de tantas hortaliças, ervas, legumes e temperos. Porém, com a criatividade e o espírito alegre que carrega, tudo indica que esta é uma questão superada com êxito. Isso porque, o Seu Carlos e seu parceiro Wanderley Arueira fizeram um investimento em propaganda.

Pelos lados de Montreal e também no bairro Canadá, já é rotina ver rodando uma bicicleta diferente, pedalada por quatro pessoas ao mesmo tempo, com a voz de Seu Carlos, que acaba de assumir mais uma profissão: a de locutor.

“Estamos anunciando as hortas comunitárias da nossa cidade, falando ‘você que não conhece, vai conhecer o produtor de Montreal e Canadá de perto. Você que quer comprar hortaliças fresquinhas e saudáveis, plantadas com muito amor e carinho e sem agrotóxico, nas hortas têm pimenta, coentro, salsa, três qualidades de alface, temperos como manjericão, alecrim, tomilho, medicinais, hortelã, capim cidreira, tomate cereja, andú, couve. Um pouco de cada coisa”, explica empolgado, revelando que já está começando a ter bons resultados da ação.

Bacias & Florestas nas HCUs

O projeto Bacias & Florestas, parceria da Ambev com o WWF-Brasil, iniciou em 2018 o trabalho de restauração de algumas áreas e estudos para entender as áreas de recarga do lençol freático no município de Sete Lagoas e atuar naquelas que são prioritárias. Mas, em se falando de Sete Lagoas, não se tem como ignorar a magnitude das Hortas Comunitárias Urbanas, tanto em relação a sua relevância social quanto ambiental. 

Ouvindo a comunidade, por meio do Comitê Rio das Velhas, no qual é membro, o WWF- Brasil viu a possibilidade de fomentar a prática de atividades agroecológicas na produção para as hortas, levando técnicas para os produtores. Em 2019, começou a oferecer cursos para agricultores de Sete Lagoas e entorno e, a partir daí, surgiu a ideia de colocar em prática as técnicas apresentadas, ajudando na montagem de composteiras, sistemas de irrigação mais eficientes e uso de bioativos para controle de pragas e doenças.

O engenheiro agrônomo da GOS Florestal, Alessandro Vanini Amaral de Souza, é um dos responsáveis pela implantação das ações em campo. “A questão das hortas urbanas em Sete Lagoas é forte e antiga, o que nós estamos fazendo é tentar mudar o paradigma e trazer técnicas ainda mais agroecológicas, usando principalmente tecnologias da região, pois aqui é um grande centro de pesquisa com a Epamig, Embrapa, Universidade Federal de São João Del Rei, entre outros. Nosso papel é fazer o trabalho de introdução dessas tecnologias com assistência aos produtores e trabalhar no arranjo institucional”.

Antiga fábrica se transforma em horta comunitária na China

Ainda segundo Alessandro, o piloto envolve 15 produtores e cada horta vai receber um sistema de irrigação de uso eficiente da água (gotejo), apoio na construção de composteira e uma biofábrica em parceria com a Escola Técnica Municipal de Sete Lagoas (ETMSL).

Equipe eCycle

Você já percebeu que tudo o que você consome deixa um rastro no planeta? Por uma pegada mais leve, conteúdos e soluções em consumo sustentável.

Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos.

Saiba mais