Comida que cura: Pesquisa da UFF estuda uso de própolis em pacientes no processo de hemodiálise

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Por Ana Carolina Ferreira em UFF | Controlar a pressão sanguínea, regular a formação do sangue e dos ossos e equilibrar o balanço químico e de líquidos do organismo. Estas são algumas das funções dos rins, essenciais para a atividade do corpo humano. Apesar de muito importante para a manutenção da saúde do corpo, esse órgão é expressivamente afetado pelos hábitos de vida e alimentação da atualidade, levando em consideração que a doença renal crônica (DRC) é uma condição que afeta aproximadamente 1,5% dos brasileiros segundo o Ministério da Saúde.

Em busca de soluções para melhorar a qualidade de vida de pacientes com esse quadro renal em processo de hemodiálise — procedimento que faz a filtragem do sangue e remove o excesso de toxinas, sais minerais e líquidos, substituindo o trabalho dos rins —, foi criada uma linha de pesquisa pela professora Denise Mafra do Departamento de Nutrição da Universidade Federal Fluminense (UFF). Há cerca de 15 anos, ela estuda a nutrição como forma de medicação para pacientes com doença renal crônica. Dentre os principais compostos estudados em busca da melhora do paciente, estão: cúrcuma, cranberry, chocolate amargo e própolis. Sobre essa última substância, foi desenvolvido um artigo publicado recentemente com dados promissores: “Efeitos da própolis em marcadores de inflamação em pacientes submetidos à hemodiálise: um ensaio clínico randomizado, duplo-cego controlado“. A pesquisa possui um caráter inovador, pois vários estudos foram realizados in vitro e em animais mostrando que a própolis tem excelentes propriedades anti-inflamatórias, mas nenhum deles foi feito com pacientes que possuem doença renal crônica e fazem hemodiálise.

O estudo teve como objetivo investigar os efeitos da própolis, substância natural produzida pelas abelhas, e utilizada desde a antiguidade para fins medicinais. Atualmente, pesquisas comprovam essas propriedades, incluindo seus efeitos anticâncer, antidiabéticos, antibacterianos, antioxidantes e anti-inflamatórios. A própolis é utilizada, por exemplo, em pacientes tratados a partir da hemodiálise. Para isso, a professora explicou que “foi realizado um ensaio clínico randomizado (seleção aleatória dos pacientes), duplo-cego controlado (nem o pesquisador, nem o participante sabem quem recebe placebo e quem recebe o composto).” Os pacientes foram divididos em dois grupos: um que recebeu quatro cápsulas de 100 mg/dia contendo extrato de própolis verde seco concentrado e padronizado, cedido pela empresa Apis Flora Co, e o outro que recebeu quatro cápsulas de 100 mg/dia de placebo (celulose microcristalina, estearato de magnésio e dióxido de silício coloidal) por dois meses. Durante esse período, os pacientes foram monitorados e os marcadores inflamatórios foram avaliados.

Quarenta e um pacientes completaram o acompanhamento, 21 pacientes no grupo própolis e 20 no grupo placebo. Os resultados do estudo demonstraram que o grupo que recebeu a suplementação de própolis apresentou uma redução significativa nos marcadores de inflamação em comparação com o grupo do placebo, que não teve nenhuma mudança no organismo. Esses achados indicam o potencial terapêutico e anti-inflamatório da própolis no processo de hemodiálise. O estudo se faz muito relevante pois a inflamação crônica é uma resposta imunológica persistente e de longo prazo, que pode ocorrer em pacientes com doença crônica renal devido a vários fatores, como a ativação do sistema imunológico por conta do acúmulo de toxinas e resíduos no sangue. Além disso, a inflamação pode ser aumentada pela presença de doenças como diabetes, hipertensão arterial e doenças autoimunes. Portanto, é necessário monitorar os níveis de inflamação a fim de evitar o aumento do risco de doenças cardiovasculares, resistência à insulina, anemia e distúrbios ósseos.

Diante dos resultados promissores, a utilização da própolis como complemento terapêutico para pacientes encaminhados à hemodiálise pode se tornar uma opção viável no futuro. Ainda assim, são necessárias mais pesquisas clínicas para confirmar esses dados, a fim de fornecer uma base científica sólida para a aplicação da própolis como terapia complementar no processo de hemodiálise.

Conheça mais sobre o Grupo de Pesquisa em: https://www.instagram.com/nutricaoemnefrouff/


Este texto foi originalmente publicado pela UFF de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.

Thalles Moreira

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