Como a monocultura ameaça a biodiversidade e por que a agroecologia é a chave para a recuperação ambiental

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Em um mundo cada vez mais impactado pelas mudanças climáticas, a segurança alimentar e a sustentabilidade da produção de alimentos se tornam questões urgentes. Contudo, a busca por altas produtividades no campo, impulsionada pela Revolução Verde e pelo modelo de monocultura, tem causado sérios danos aos ecossistemas naturais e à biodiversidade, com consequências que se estendem para além das fronteiras das fazendas e pescarias.

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As práticas agrícolas atuais, embora responsáveis por alimentar uma população crescente, têm promovido a homogeneização de paisagens, substituindo ecossistemas diversos por monoculturas de cultivos de rápido crescimento. Isso levou a uma drástica perda de biodiversidade. Florestas e pastagens, essenciais para o equilíbrio ambiental, foram transformadas em campos de cultivo com poucas variações, favorecendo espécies de vida curta e rápido crescimento.

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Em águas doces e oceânicas, a extração excessiva de recursos também contribui para a redução da biodiversidade. Técnicas de pesca destrutivas, como a pesca de arrasto, alteram os habitats marinhos e os sedimentos essenciais para a sobrevivência de inúmeras espécies. Isso cria um ciclo de empobrecimento dos ecossistemas que afeta a capacidade de recuperação dos mesmos, impactando diretamente as comunidades que dependem desses recursos naturais para subsistência.

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Além disso, a maior parte da produção de alimentos ocorre em regiões ecologicamente sensíveis e biodiversas, como as áreas ao redor dos Grandes Lagos, na América do Norte, que abrigam uma rica diversidade de espécies e servem como refúgios para aves migratórias. Nesse cenário, a agricultura intensiva e a pesca excessiva não apenas destroem esses habitats, mas também alteram a estabilidade ecológica em grandes escalas.

Para reverter essa trajetória, especialistas apontam a necessidade de uma transformação no sistema agroalimentar global. Em vez de priorizar a eficiência de curto prazo, a proposta é adotar práticas que busquem restaurar a complexidade ecológica das paisagens. Isso inclui a implementação de policulturas perenes, o cultivo intercalado de diferentes espécies e a rotação de culturas, para promover uma maior diversidade biológica e a resiliência dos ecossistemas.

No ambiente aquático, a gestão pesqueira precisa ser repensada. Em vez de focar exclusivamente no rendimento de espécies específicas, os gestores devem adotar uma abordagem ecológica, priorizando a saúde dos ecossistemas aquáticos como um todo. Estratégias de pesca que envolvem a estocagem de espécies como o salmão podem ter efeitos colaterais devastadores, ao desequilibrar a dinâmica das populações de peixes e prejudicar outras espécies nativas.

Em paralelo, a restauração de áreas como zonas úmidas pode oferecer múltiplos benefícios ambientais. Além de aumentar a biodiversidade, essas áreas funcionam como importantes sumidouros de carbono, ajudam no controle de inundações e mitigam a poluição por nutrientes. Tais iniciativas podem se tornar um ponto de virada no enfrentamento de problemas ambientais, como a proliferação de algas nocivas e as zonas mortas nos oceanos.

A transição para uma agricultura mais sustentável e regenerativa exige um esforço colaborativo entre governos, organizações indígenas, ecologistas e a sociedade como um todo. Incorporar o conhecimento tradicional dos povos indígenas, aliado à ciência moderna, pode ser a chave para a criação de um modelo agroecológico que proteja tanto a produção de alimentos quanto a biodiversidade, garantindo um futuro mais equilibrado para os ecossistemas e as gerações vindouras.

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

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