Por Stefanie Tye e John-Rob Pool em WRI Brasil — O novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas destaca o enorme potencial da natureza para reduzir os riscos das mudanças climáticas e aumentar a resiliência. O contexto político tem se tornado propício para essa abordagem. Em 2021, por exemplo, 137 países se comprometeram, de forma coletiva, a acabar com a perda de florestas e a degradação de paisagens até 2030 como parte da Declaração dos Líderes de Glasgow sobre Florestas e Uso da Terra. Os signatários reafirmaram a importância de todas as florestas para a adaptação aos impactos das mudanças climáticas e para manter saudáveis os serviços ecossistêmicos. Promessas de financiamento se seguiram à declaração, incluindo US$ 19,2 bilhões para proteger e restaurar florestas em todo o mundo.
A vontade política e os recursos para adaptação também têm aumentado. Atualmente, os esforços globais incluem US$ 450 milhões em compromissos em prol da “adaptação liderada em escala local”, o anúncio, pelo Fundo de Adaptação, da quantia recorde de US$ 356 milhões em novas promessas e um compromisso de US$ 413 milhões com o Fundo para os Países Menos Desenvolvidos do GEF.
Ao encarar a necessidade urgente de reduzir os riscos e se adaptar aos atuais e futuros impactos das mudanças climáticas, o mundo pode aproveitar o momento para implementar soluções baseadas na natureza para adaptação. Um novo estudo do WRI examina as oportunidades.
Soluções baseadas na natureza são abordagens que revertem a degradação dos ecossistemas e ajudam a resolver desafios sociais ao mesmo tempo em que beneficiam o bem-estar humano e a biodiversidade. A adaptação climática é o processo de se ajustar às mudanças do clima e a seus efeitos atuais ou esperados.
Muitas soluções baseadas na natureza para adaptação, ao fortalecer a capacidade dos ecossistemas de suportar instabilidades ou ao fornecer serviços para amenizar os riscos, já protegem comunidades e a natureza dos impactos climáticos – tanto de riscos mais imediatos, como inundações, quanto de ameaças de longo prazo como a desertificação.
Um exemplo de solução baseada na natureza para a adaptação é ampliar os espaços verdes e as florestas urbanas para combater o aumento das temperaturas e as ondas de calor. Em Medellín, na Colômbia, o projeto Corredores Verdes demonstra a eficácia dessa abordagem, que resultou em uma redução de 2°C na temperatura ambiente do ar desde 2018.
Restaurar as florestas de mangues, outra solução baseada na natureza, pode proteger tanto as pessoas que vivem em áreas costeiras quanto as propriedades nessas regiões, uma vez que as árvores funcionam como amortecedores naturais para tempestades e ventos fortes. Esse conceito tem sido aplicado desde 2004 em Sine Saloum Delta, um manguezal com biodiversidade abundante na costa atlântica do Senegal, onde mais de cem mil pessoas dependem dos mangues para se sustentar.
Grupos vulneráveis e marginalizados em particular podem ser consideravelmente beneficiados pelas soluções baseadas na natureza. Essas medidas podem efetivamente reduzir os riscos climáticos para mulheres, povos indígenas, idosos, pessoas que vivem na pobreza, pessoas com deficiência e comunidades que dependem diretamente dos recursos naturais ou estão fisicamente expostas aos impactos climáticos.
Inúmeras soluções baseadas na natureza para adaptação já mostraram seus benefícios. Elas podem ser de duas a cinco vezes mais eficientes e econômicas do que as intervenções usuais – a chamada infraestrutura “cinza”, como barragens, reservatórios e diques –, além de gerar mais economia, promover benefícios sociais e evitar perdas. Novas análises endossadas pela ONU sugerem que usar soluções baseadas na natureza em projetos de infraestrutura poderia economizar US$ 248 bilhões por ano. Um estudo recente do WRI Brasil mostrou que reflorestar 2,5 mil hectares de áreas prioritárias nas bacias do rio Jucu e Santa Maria da Vitória (Espírito Santo) poderia reduzir a sedimentação de forma substancial, gerando para a empresa de abastecimento local uma economia de R$ 93 milhões ao longo de 20 anos e tornando as terras agrícolas mais produtivas sem a necessidade de produtos químicos.
O contexto político atual é mais favorável do que nunca para investir em soluções baseadas na natureza para adaptação e expandi-las. O momento apresenta oportunidades de ação para governos, comunidades e empresas.
Por exemplo:
Diante das oportunidades de aproveitar as soluções baseadas na natureza para adaptação, uma nova pesquisa do WRI salienta a importância de alavancar o potencial de iniciativas já estabelecidas por diversos atores, em diferentes anos e países, focadas em soluções baseadas na natureza. Existem dezenas dessas iniciativas, em formatos, tamanhos e níveis de formalidade variados – desde esforços internacionais até pequenos programas locais. A maioria não foi planejada com metas de adaptação em mente, mas ainda assim impulsionam a resiliência e melhoram a vida das pessoas.
A CitiesWithNature (Cidades com a Natureza) e a Naturvation, por exemplo, trabalham com mais de 100 cidades para integrar a natureza no planejamento urbano, alcançando centenas de milhões de pessoas. E a Parceria Global pela Restauração de Florestas e Paisagens une governos em todo o mundo a organizações, institutos de pesquisa e comunidades em torno de um objetivo comum: restaurar paisagens degradadas e ajudar a impulsionar a resiliência.
Essas e outras iniciativas podem desempenhar um papel importante para aumentar os investimentos em adaptação. Estão posicionadas de forma estratégica para construir parcerias efetivas e canalizar capacidade técnica, recursos e conhecimento. Interagem com governos nacionais, subnacionais e locais e com milhões de pessoas em todo o mundo, criando amplas redes e conexões entre os setores público e privado e a sociedade civil.
A seguir, cinco maneiras pelas quais iniciativas focadas em soluções baseadas na natureza podem aprimorar a integração da natureza em suas abordagens:
Agindo agora, cidades e países no mundo todo podem consolidar o enorme potencial das soluções baseadas na natureza para adaptação. Saiba mais no novo estudo do WRI.
Este artigo foi publicado originalmente no Insights.
Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.
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