Sikkim, um pequeno estado no norte da Índia, alcançou o status de 100% orgânico em 2016, conquistando reconhecimento internacional por suas políticas públicas voltadas para a agricultura sustentável. No entanto, essa jornada não foi isenta de desafios. Enquanto os agricultores locais, como Tsering Bhutia e Rinchen Lama, buscam formas de se adaptar às novas práticas, a transição para a produção orgânica demanda tempo e comprometimento.
Cerca de 52% das terras agrícolas globais estão degradadas devido a práticas agrícolas insustentáveis, como a monocultura e o uso excessivo de pesticidas. Isso acentua a urgência de transformar o modo como os alimentos são cultivados. Sikkim, com suas fazendas de subsistência em terrenos montanhosos, tomou uma abordagem gradual. Desde 2003, o estado se comprometeu a um processo de transição, optando por uma redução paulatina no uso de fertilizantes químicos, que foram completamente banidos em 2014.
O modelo de Sikkim se destaca em contraste com a abordagem do Sri Lanka, que, em 2021, implementou uma proibição abrupta dos insumos químicos. Essa decisão levou a uma queda drástica na produção agrícola, resultando em insegurança alimentar para uma parcela significativa da população. A experiência do Sri Lanka serve como um alerta sobre a importância de uma transição planejada e informada, em vez de mudanças abruptas e mal comunicadas.
A base da agricultura orgânica em Sikkim já estava estabelecida antes da formalização da política. A população local valoriza os alimentos cultivados sem químicos, e práticas como o uso de vermicomposto e adubos caseiros estavam em uso há anos. O governo também implementou um plano de ação que enfatizava a relação entre a proteção do meio ambiente e o legado para futuras gerações. Esse compromisso com a sustentabilidade se reflete no aumento da qualidade do solo e na recuperação da biodiversidade nas áreas cultivadas.
Apesar das conquistas, a agricultura orgânica em Sikkim enfrenta desafios contínuos. Estudo recente revelou que muitos moradores ainda dependem de alimentos não orgânicos adquiridos em mercados. A falta de infraestrutura adequada para a comercialização dos produtos orgânicos e o desinteresse entre os jovens pela agricultura representam obstáculos significativos. Além disso, a mudança nas prioridades políticas após a troca de governo também afetou o apoio à agricultura orgânica.
Entretanto, há sinais encorajadores. A biodiversidade, como a população de abelhas, está se recuperando, resultando em um aumento significativo na produção de cardamomo, que depende da polinização. A agricultura sustentável também está estimulando o turismo no estado, com um aumento nas chegadas de visitantes em busca de experiências de bem-estar. No entanto, essa popularidade suscita preocupações sobre o impacto do turismo em uma ecologia delicada.
Para realmente prosperar, Sikkim deve ir além da produção de alimentos orgânicos. A comunidade precisa reavaliar suas práticas alimentares e a demanda por produtos exóticos, que muitas vezes exigem importação de outras regiões. A defesa de uma abordagem agroecológica pode trazer mudanças mais profundas, promovendo práticas que beneficiem tanto o meio ambiente quanto as condições de vida dos agricultores locais.
Sikkim, portanto, representa um modelo de sucesso, mas não sem suas complexidades. A jornada orgânica do estado é um exemplo de como a determinação e o planejamento podem levar a uma agricultura mais sustentável, embora a replicação desse modelo em outras regiões possa ser desafiadora.
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