Estudo pioneiro desvenda o comércio invisível entre fungos e plantas, essencial para a captura de carbono e a saúde do planeta
Em um estudo inovador publicado na revista Nature, cientistas internacionais utilizaram robótica de ponta para mapear as intrincadas redes de comércio subterrâneo entre plantas e fungos micorrízicos. Essas redes, que movimentam carbono e nutrientes, desempenham um papel fundamental na regulação dos ecossistemas e na absorção de dióxido de carbono (CO₂) da atmosfera. A pesquisa, liderada por 28 especialistas, revelou que os fungos constroem cadeias de suprimentos hipereficientes, comparáveis a sistemas logísticos humanos, mas com uma complexidade que evoluiu ao longo de 450 milhões de anos.
Os fungos micorrízicos formam parcerias com mais de 80% das espécies de plantas do planeta. Nessa relação simbiótica, os fungos fornecem fósforo e nitrogênio às plantas, enquanto recebem carbono em troca. Essa troca não apenas sustenta a vida vegetal, mas também contribui para a captura de aproximadamente 13 bilhões de toneladas de CO₂ anualmente, o equivalente a um terço das emissões globais relacionadas à energia. Apesar de sua importância, os mecanismos que governam essas redes subterrâneas permaneciam pouco compreendidos até agora.
Com a ajuda de um robô de imagem desenvolvido especialmente para o estudo, os pesquisadores observaram que os fungos constroem redes miceliais semelhantes a rendas, que se expandem em padrões ondulatórios. Essas estruturas permitem o transporte bidirecional de recursos, com os fungos ajustando a velocidade e a largura das “rodovias” conforme a necessidade. Além disso, os fungos enviam ramificações especiais para explorar novos territórios, priorizando parcerias futuras com plantas em vez de investir apenas no crescimento imediato.
O Dr. Toby Kiers, biólogo evolucionista da Vrije Universiteit de Amsterdã e coautor do estudo, destacou que os fungos operam com base em regras simples, mas eficientes, que evitam excessos e garantem a eficiência do sistema. “Esses organismos sem cérebro desenvolveram um modelo de cadeia de suprimentos que supera muitos dos desafios enfrentados pelos sistemas logísticos humanos”, afirmou.
A pesquisa também mostrou que os fungos estão constantemente adaptando suas rotas comerciais, encurtando caminhos e otimizando a entrega de nutrientes. Para medir esses fluxos, a equipe utilizou técnicas avançadas de rastreamento, analisando mais de 100 mil partículas em movimento. O uso da robótica permitiu reduzir o tempo de análise de um século para apenas três anos, abrindo novas possibilidades para o estudo dessas redes vivas.
Os dados coletados são vitais para compreender como as redes de fungos influenciam os ciclos de carbono e nutrientes no solo. Com o aumento das concentrações de CO₂ na atmosfera, entender esses processos torna-se cada vez mais importante. A pesquisa também sugere que os princípios evolutivos dessas redes podem inspirar melhorias nos sistemas logísticos humanos, especialmente em um cenário de mudanças climáticas aceleradas.
A equipe já está desenvolvendo um novo robô, capaz de aumentar a coleta de dados em dez vezes, para investigar como as redes de fungos respondem a alterações ambientais, como o aumento das temperaturas e a degradação do solo. Esses avanços podem fornecer insights valiosos para a preservação dos ecossistemas e a mitigação dos efeitos do aquecimento global.
Enquanto isso, a Sociedade para a Proteção de Redes Subterrâneas (SPUN), organização sem fins lucrativos liderada pelo Dr. Kiers, continua mapeando as redes micorrízicas ao redor do mundo. O objetivo é proteger esses sistemas naturais, que são essenciais para a saúde do planeta e para o futuro da vida na Terra.