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Amizades e atividades sociais moderadas beneficiam a saúde mental – mas, em excesso, podem ter o efeito oposto

Construir laços afetivos e manter boas amizades são, geralmente, sinônimos de alegria e bem-estar. Do mesmo modo, o envolvimento em projetos sociais, como voluntariado, e uma postura socialmente ativa têm sido associados a benefícios para a saúde mental. No entanto, estudo recente alerta: esses benefícios podem depender da quantidade de amigos e atividades que você mantém.

 

Conduzido por pesquisadores da Dinamarca, Nova Zelândia, Espanha e Reino Unido, o estudo rastreou atividades de indivíduos com 50 anos ou mais, em 13 países europeus, durante dois anos. O intuito era descobrir como voluntariado, educação, envolvimento em grupos políticos ou religiosos e participação em clubes sociais ou esportivos poderiam influenciar a saúde mental das pessoas.

Além disso, foram registrados quantos relacionamentos sociais próximos, que incluíam compartilhamento de assuntos de cunho íntimo, esses indivíduos mantinham. A partir da análise dos dados coletados, a equipe descobriu que as atividades sociais beneficiaram sobretudo os indivíduos mais isolados, com três ou menos relacionamentos próximos. Por outro lado, as pessoas com maior número de amigos não pareceram obter os mesmos benefícios à saúde mental do primeiro grupo – para alguns, houve até prejuízos.

 

Quem se beneficia com atividades sociais

O isolamento social pode acarretar sérios problemas de saúde. Além de comprometer a saúde mental, indivíduos isolados têm mais chance de desenvolver outras complicações de saúde, como demência, doenças do coração, derrame cerebral e morte prematura. No entanto, pessoas que vivenciam o isolamento social tendem a obter muitos ganhos à saúde mental ao participarem de projetos sociais, por exemplo.

Entre os indivíduos quase isolados socialmente, o estudo revelou que um maior envolvimento em atividades sociais estava associado à melhoria da qualidade de vida e a menos sintomas de depressão. As estimativas sugeriram que, caso essas pessoas se envolvessem regularmente em atividades sociais, haveria um aumento de 5 a 12% entre os cidadãos que relatam melhor qualidade de vida e uma redução de 4 a 8% entre aqueles apresentam sintomas depressivos. Isso representaria uma grande mudança na saúde mental da população, uma vez que mais de 70% das pessoas representadas na amostra do estudo (europeias e acima dos 50 anos) têm três ou menos relacionamentos próximos.

Existem muitas razões pelas quais ser socialmente ativo se associa a uma melhor saúde mental e ao bem-estar geral. As atividades sociais podem ser uma forma de estabelecer novos relacionamentos, gerar oportunidades de apoio social e promover a sensação de pertencimento a uma comunidade. Mas o estudo mostra que isso nem sempre é verdade.

 

Ter muitos amigos pode não ser tão bom assim

Ao observarem as variáveis ​​do estudo (qualidade de vida e sintomas de depressão), mapeando-as em relação às duas variáveis ​​de interesse (número de atividades sociais e número de relacionamentos próximos), a equipe encontrou curvas em forma de U. Em outras palavras, os resultados revelaram saúde mental precária em níveis baixos de atividade social, boa saúde mental em níveis moderados de atividade social e, novamente, saúde mental precária em níveis elevados de atividade social.

A depressão pareceu ser minimizada quando as pessoas relataram manter de quatro a cinco relacionamentos íntimos e envolver-se em atividades sociais semanalmente. Quantidades superiores de atividade social, no entanto, mostraram-se associadas à diminuição, desaparecimento ou mesmo prejuízo dos benefícios.

Essa queda foi particularmente clara entre os indivíduos que relataram ter sete ou mais relacionamentos próximos. Para pessoas muito ocupadas, o envolvimento em atividades sociais estava relacionado a um aumento dos sintomas depressivos.

 

Atividades sociais requerem moderação

As pessoas normalmente relatam ter em média cinco amigos próximos. Extrovertidos tendem a relatar ter mais amigos – mas pagam um preço por isso, mantendo laços mais frouxos com eles. Como nosso capital social – o tempo disponível para se dedicar às interações sociais – é limitado e quase igual para todos, os extrovertidos preferem, na verdade, distribuir pouco seus esforços sociais entre muitas pessoas. Os introvertidos demonstram tendência oposta: preferem concentrar seus esforços sociais em menos pessoas para garantir que essas amizades sejam realmente fortes e duradouras.

Esse processo de compensação está no cerne da capacidade humana de se envolver em atividades sociais. Se o indivíduo se envolve em muitas delas, seu tempo social será distribuído entre todas. Esse pouco investimento pode posicioná-lo como um membro periférico de vários grupos na comunidade, em vez de inseri-lo num centro social onde ele possa se beneficiar do apoio de sua rede de amizades.

Outra hipótese é que a atividade social em excesso tende se tornar um fator de estresse. Isso pode levar a resultados negativos, como “supercomprometimento” social, exaustão emocional e cognitiva, fadiga ou sentimento de culpa quando as relações sociais não são nutridas adequadamente por causa da limitação de tempo.

 

Os resultados levantam mais uma consideração importante. A família é uma parte importante de nosso mundo social, fornecendo apoio emocional, mental, financeiro e outros tipos de suporte importantes para a qualidade de vida das pessoas. Dedicar muito tempo à comunidade significa menos tempo para a família. Esse impasse pode ser prejudicial ao bem-estar em virtude da pressão que pode impor às relações familiares.

O estudo conclui que ser socialmente ativo é importante, mas se engajar em muitas relações e atividades ao mesmo tempo pode ter o efeito oposto. Por isso, se você deseja ter uma vida feliz e plena, a mensagem é simples: faça tudo com moderação.


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