As atividades agrícolas não-conservacionistas, junto com a revolução industrial são as principais responsáveis por muitos impactos causados na natureza
O desmatamento, o aumento das emissões de gases-estufa, a contaminação das águas e do solo são problemas que impactam a atualidade, mas cuja origem se dá há algumas décadas, por ocasião da intensificação do processo de industrialização e a utilização irracional dos recursos naturais orientados para atividades agrícolas. Com isso, há uma tendência mundial em adotar medidas de investimento na busca por fontes renováveis de energia. Isso não conta com os impactos da agricultura no meio ambiente. No caso dos biocombustíveis, esse fato ocasiona ainda maior expansão das atividades produtivas na agricultura. No entanto, esse processo pode ser controverso.
Segundo a Agência Fapesp, a ampliação das culturas de cana-de-açúcar, do milho, da mamona, do girassol, da soja, do amendoim, associadas à substituição da floresta por áreas de pastagem de gado têm provocado diversos impactos à composição química, e à biodiversidade dos corpos d’água.
São práticas potencialmente devastadoras ao desgaste do solo, sem contar os inúmeros problemas ambientais relacionados. No caso da cana-de-açúcar, por exemplo, o uso da vinhaça (subproduto do refino do álcool) como fertilizante pode ser desastroso. A vinhaça é rica em nitrogênio, elemento químico cujo efeito na forma de fertilizantes pode ser grave ofensor ao equilíbrio do efeito estufa, assim como em excesso na água de rios e lagos, pode favorecer o crescimento de algas e o consequente processo, conhecido como eutrofização, que provoca diminuição do oxigênio na água, a morte e decomposição de muitos organismos, diminuindo a qualidade da água e possivelmente uma considerável alteração do ecossistema.
Já a fuligem produzida pela queima da cana-de-açúcar durante a colheita contém um tipo de carbono diferente, que pode ser assimilado em maior ou menor escala por organismos presentes em um rio. Após o material ser depositado no solo ou em um ecossistema aquático, a fuligem acidifica o solo e a água, e isso também acarreta graves consequências para os ecossistemas, assim como a questão da acidificação dos oceanos provocada pelas emissões deliberadas de CO2 na atmosfera do planeta (veja mais aqui).
Consequência
Como consequência, os produtos alimentícios estão sofrendo uma alta de preços e a suspensão de novos investimentos em biocombustíveis já foi recomendada pela ONU, pois além, dos fatores até aqui comentados, sua produção requer grandes quantidades de água, recurso cada vez mais escasso em razão da crescente depleção de lençóis freáticos, via consumo ou contaminação, reservas estas de difícil reconstituição. Para produzir 1 litro de combustível feito da cana-de-açúcar, por exemplo, são necessários 1,4 mil litros de água.
Muito se fala sobre as áreas desmatadas pela agricultura, mas o que poucos sabem é que a maioria das florestas derrubadas, como por exemplo na Amazônia, sobretudo o sul desta, que se inicia no território do Mato Grosso, não tem na agricultura o único algoz, mas sim a pecuária, que transforma milhares de quilômetros de mata em pastos e a seguir em áreas degradadas.
Isso mostra que a pecuária, mesmo nos tempos atuais ainda é extensiva e carece de muita atenção, seja por parte dos consumidores (veja mais aqui) como em relação a políticas públicas, a fim de que a atividade possa ser praticada de maneira responsável em suas diversas perspectivas, dentre elas no adequado uso da terra.
Pesquisa
Um interessante estudo apoiado pela Fapesp foi feito para medir as transferências de nitrogênio e a biodiversidade de peixes envolvendo duas bacias interligadas em Rondônia, com as mesmas condições físicas e 800 metros de extensão cada uma, cuja única diferença residia no fato de que uma das bacias era margeada por áreas de pastagem de gado e a outra possuía mata ciliar.
Os pesquisadores observaram que o rio que teve sua cobertura vegetal modificada apresentava apenas uma espécie de peixe, enquanto o curso da água cuja mata ciliar foi mantida, possuía 35 espécies. A conclusão dos especialistas aponta que, ao se retirar a vegetação da borda de um rio, mais luz e materiais penetram nos corpo d’água, fazendo com que a água tenha menos oxigênio, o que modifica as condições locais e afeta a diversidade biológica do ecossistema.
O mundo inteiro entraria em colapso sem a existência de solos férteis, água de boa qualidade e ar limpo. O valor dos serviços prestados pela natureza parece ser finito, porém a justificativa para tais abusos do meio ambiente reside no crescente problema ambiental. E com isso, muitos países estão tomando medidas de controle para minimizar o desequilíbrio do efeito estufa, com investimentos na agroenergia.
Porém, embora a grande preocupação com a expansão dos cultivos de soja, de cana-de-açúcar e de milho para produzir biocombustíveis seja saber se as áreas de produção de alimentos serão substituídas por áreas para produção de energia, pouco se tem olhado para a questão da água. A maior parte das áreas de produção de agroenergia não possui água suficiente para manter as culturas com elevada produtividade, no que será necessário irrigá-las. Isso representa outro sério problema que deverá alterar, drasticamente, o ciclo da água, de acordo com a pesquisa.
Ou seja, o que pareciam soluções inequívocas – o investimento em biocombustíveis e a expansão das áreas de produção de alimentos – podem significar o oposto em termos ambientais. É preciso debater se os biocombustíveis podem ser uma alternativa realmente viável, além de se promover a discussão sobre uma expansão agrícola de qualidade, cujos danos ao meio ambiente possam estar sob o necessário controle.
Fonte: Agência Fapesp