Ela pode servir desde instrumento científico utilizado em pesquisas, até como forma de conscientização ambiental
A fotografia estabelece comunicação imediata, é uma linguagem universal que atrai a atenção das pessoas e que pode gerar um movimento em direção a mudanças. A expressão estética da fotografia pode colaborar na hora de chamar a atenção para questões ambientais. As imagens de paisagem são democráticas e podem levar as pessoas a pensar relações entre o homem e os fenômenos naturais. Ela é uma ferramenta na educação ambiental. No contato com a fotografia, o sujeito é conduzido a novas linguagens, inclusive à dimensão política dos fenômenos representados. As imagens informam, representam, surpreendem e transmitem um significado. As fotografias fascinam e convidam o espectador a senti-las, percebê-las, julgá-las e interpretá-las.
Para Gustavo Pedro de Paula, presidente da Associação de Fotógrafos da Naturez (Afnatura), “fotografar a natureza pode servir como uma ferramenta essencial para a educação ambiental, mas também uma arma para denúncias, e trazer à luz a necessidade de preservação de áreas em risco de degradação”. As câmeras são instrumentos nas mãos dos fotógrafos que permitem documentar problemas ambientais e o impacto do ser humano no meio ambiente.
Fotografia da natureza
A fotografia de natureza é um gênero dentro do fotojornalismo que visa retratar aspectos naturais, paisagens, animais, devastação ambiental, etc. Dentro dela, existem vertentes que têm o foco de retratar e fotografar a biodiversidade e sua riqueza, e também, artistas que preferem um cunho ativista, denunciando a degradação e crimes ambientais de forma impactante.
Dentro da fotografia de natureza, alguns fotógrafos se dedicam a captações específicas, como fotografia de paisagem, fotografia do mundo selvagem e fotografia macro.
Na fotografia de paisagem, são retratados grandes cenários naturais. Normalmente, são utilizadas objetivas de grande angular e aberturas reduzidas para trabalhar a profundidade de campo.
Os retratos de mundo selvagem geralmente são feitos à distância para garantir a segurança do fotógrafo e a naturalidade da cena. Afinal, ficar pertinho de leões e outros animais selvagens não é uma atividade muito segura. Para isso, os fotógrafos utilizam lentes de longo alcance e velocidades altas de obturação para captar o movimento dos animais.
Outro tipo de fotografia muito comum nesse contexto, é a feita com lente macro. Esses retratos são feitos com distâncias muito reduzidas e revelam detalhes da natureza, como os olhos de um inseto e o pólen de uma flor.
Imagens de paisagens ameaçadas ou animais selvagens ilustram a beleza da natureza e, ao mesmo tempo, transmitem a sensação de perda que poderia ser causada pela degradação do local. A fotografia de natureza é uma ferramenta na defesa das paisagens naturais e na compreensão do meio ambiente, para propiciar a valorização e respeito da biodiversidade. As lentes desempenham a função socioambiental de combate ao crime ambiental e no alerta para a preservação de áreas naturais. “A fotografia de natureza cria um elo de identidade perdido. Às vezes o público acha que a natureza está distante, a gente persegue uma foto com o ideal de preservar uma espécie”, comenta Gustavo Pedro.
Fotografia científica ambiental
Entre 1824 e 1829, o barão Georg Heinrich von Langsdorf saiu em expedição pelo Brasil junto com o pintor alemão Johan Moritz Rugendas, registrando a natureza e a sociedade em pinturas. As expedições científicas permitiram um conhecimento sobre nossa biodiversidade e são um registro valioso de nossa história. Desde a descoberta da fotografia, ela esteve relacionada com a questão ambiental. No início, o objetivo da fotografia era fazer um registro fiel da natureza, tal qual ela se apresenta. A fotografia serve, no âmbito científico, como ferramenta para o desenvolvimento de estudos, como instrumento de pesquisa, suporte para o ensino, memória de dados e divulgação de resultados de pesquisas. A fotografia é uma documentação objetiva que captura informações que aumentam o espectro de observação do pesquisador.
Levantamentos fotográficos da biodiversidade são importantes para identificar variações quantitativas e qualitativas a ação antrópica (do homem) de forma localizada e as mudanças globais em um aspecto mais amplo. Com a comparação das imagens é possível fazer uma análise sobre as mudanças ambientais na área. Ou seja, há o controle ambiental por meio da imagem obtida. Fotos periódicas de um local revelam a degradação do ambiente. Exemplo é o documentário Chasing Ice, que mostra fotografias do derretimento de geleiras durante alguns anos, com a utilização do efeito de time-lapse.
Fotografia em unidades de conservação
Em 2011, o instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) lançou uma norma que gera polêmica entre fotógrafos, cinegrafistas e outros profissionais que trabalham com imagens de natureza. A Instrução Normativa nº 19/2011, regulamenta o uso de imagens em unidades de conservação federais, dos bens ambientais e do patrimônio nestas incluídos, assim como a elaboração de produtos e exploração da imagem da área, independentemente de fim comercial.
O profissional que deseja captar imagens nas UCs deve preencher formulário (eletrônico ou impresso) dirigido à gestão da área. No formulário, deve ser informado o produto, subproduto ou serviço a ser produzido e se o uso final é ou não comercial. A antecedência é de, em média cinco a dez dias, dependendo do número de UCs em que se pretende trabalhar.
Os fotógrafos argumentam que as regras são um obstáculo, e que a divulgação de imagens das áreas protegidas é um instrumento para fiscalizar e disseminar informações para o grande público. A presença dos fotógrafos é uma maneira informal de fiscalização que as próprias unidades muitas vezes não possuem. Além disso, a fotografia amadora e profissional é uma ferramenta valiosa para ampliar o conhecimento do público sobre o patrimônio natural brasileiro. Com isso a receita dos parques é ampliada, pois as fotografias aumentam a visitação de turistas. A abertura de serviços para receber os fotógrafos, com guias de trilhas, pousadas e restaurantes é comum. Contribuindo na redução do extrativismo e a caça ilegais, por gerar renda para a população que vive ao redor das áreas protegidas.
Mas é essencial que os fotógrafos sejam orientados sobre o comportamento adequado no parques. Embora o ato de fotografar em si não cause danos, a conduta de certos fotógrafos pode ser prejudicial à flora e à fauna. Alguns profissionais mal informados realizam a mudança de localização de ninhos nas árvores para melhorar o ângulo das fotos, e até mesmo utilizam goma em galhos para manter beija-flores estáticos.
A presença humana sempre causa impacto na natureza. Mas ativistas, como a fotógrafa e birdwatcher Claudia Komesu, defendem a fotografia em UCs. “No entanto, prefiro o impacto de pessoas andando em trilhas dentro dos parques ao impacto da motosserra destruindo tudo – que é o risco que nossos parques correm, um risco real, que já está acontecendo” diz ela. “Desde 2008, quase cinco milhões de hectares (tamanho do Estado do Rio de Janeiro) deixaram de ser parque com canetadas federais que fizeram com que áreas que estavam protegidas deixassem de ser. E não havia ninguém que as conhecesse para poder protestar”.
Fotógrafos locais podem ter um tremendo impacto ao provocar que seus espectadores pensem sobre o que está acontecendo no meio ambiente. Já viu uma série de fotos tiradas a partir do mesmo local que mostra um prado ou uma encosta florestada que está sendo demolida? Você não pode olhar para uma sequência como essa e não parar para pensar onde você vive, além da forma como você vive. As fotos informam os leitores sobre o que realmente está acontecendo lá fora.
A explicação da fotografia ser grande geradora de consciência ambiental é simples: as fotografias, assim como vídeos, aproximam as pessoas do tema. Elas dão uma sensação de realismo que o texto, muitas vezes, não consegue atingir. Principalmente quando se trata de denúncias de agressões à natureza.