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A quitridiomicose já é uma doença pandêmica e de difícil controle

Os anfíbios são o grupo animal mais ameaçado de extinção no planeta. Suspeita-se que uma das principais causas disso seja a morte por quitridiomicose, uma doença infecciosa ocasionada por um fungo que, atualmente, é encontrado em todo o mundo. No Brasil, tem se expandido pela floresta amazônica, dentre outros biomas.

Em anfíbios adultos, a doença funciona da seguinte maneira: ela infecta a queratina da epiderme, dificultando as trocas gasosas pela pele, levando-os à morte por parada cardíaca. A doença também degrada a queratina dos dentículos de girinos, prejudicando sua alimentação e, assim, seu crescimento. Anfíbios adultos de menor tamanho apresentam mais chances de serem predados, o que também contribui para o declínio dessa população.

Pesquisa

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) apoiou um consórcio entre pesquisadores de universidades e instituições de pesquisa do Brasil e dos Estados Unidos para investigar as origens da doença e circunstâncias de sua expansão a nível global.

A pesquisa verificou que o fungo, denominado Batrachochytrium dendrobatidis, já se encontra disseminado pela Mata Atlântica (além de poder ser encontrado em outros biomas como cerrado e Amazônia), atuando como agente patogênico que infecta famílias de anfíbios com maior diversidade de espécies. Além disso, no artigo também é estimado que a presença deste fungo na Amazônia é recente e menos abundante que na Mata Atlântica. Neste último bioma, aproximadamente 40% dos anfíbios são infectados pelo fungo, enquanto na Amazônia este valor aparenta ser menor.

Os pesquisadores também descobriram que além da linhagem pandêmica do fungo, há no Brasil também uma linhagem genuinamente brasileira e uma híbrida entre as duas primeiras, sendo esta última provavelmente mais virulenta que as demais.

O descobrimento da linhagem híbrida surpreendeu os pesquisadores, que acreditavam que o fungo Batrachochytrium dendrobatidis se reproduzia apenas assexuadamente, ou seja, sem trocar material genético.

Dessa maneira, a maior virulência identificada para a linhagem híbrida pode ser explicada pela presença de um maior conteúdo genético em relação às outras linhagens. Assim, mais proteínas e enzimas podem ser produzidas pelo fungo, aprimorando sua eficiência na infecção dos anfíbios.

Propagação

A propagação do fungo ocorre através da água. Os zoósporos (esporos flagelados) nadam até encontrarem um anfíbio para que nele se convertam em cistos e se desenvolvam. Acredita-se que o tamanho do zoósporo esteja diretamente relacionado com a virulência de determinada linhagem do fungo – quanto maior o diâmetro dos esporos, mais virulenta é a cepa.

Origens

Uma das hipóteses trabalhadas sobre as origens do patógeno é a de que ele pode ter surgido na Mata Atlântica (ou em outro lugar da América do Sul), considerando que este bioma apresenta as três linhagens do fungo.

Outra questão a ser levantada é como a quitridiomicose, fungo que atinge anfíbios, se transformou em uma doença pandêmica. Para esta questão, surgiu a hipótese de o comércio internacional da rã-touro americana (bastante resistente e frequentemente infectada pelo fungo, esta espécie é comumente vendida para o consumo humano), ter sido um dos principais contribuidores para a propagação internacional da doença.

Apesar disso, esta espécie de rã nativa da América do Norte foi introduzida no Brasil por volta do ano de 1930, sendo uma espécie invasora, e estudos realizados por pesquisadores brasileiros indicaram que o fungo já se encontrava presente no país antes disso.

Dessa maneira, os pesquisadores passaram a considerar o comércio internacional da rã-touro americana um fator contribuinte da propagação mundial da doença, mas não como fator fundamental. Uma das maiores preocupações dentro do assunto é a exportação de rãs infectadas com a linhagem brasileira do fungo, que possui capacidade de se reproduzir sexuadamente, gerando os híbridos mais virulentos.

Danos

Aparentemente o fungo afeta anuros, além de salamandras e cecílias, e não apresenta risco ao ser humano. Apesar disso, não há estimativas oficiais do número de espécies de anfíbios extintas pela quitridiomicose, mas sabe-se que o fungo já infectou mais de 500 espécies de diversos habitats aquáticos e terrestres. Além disso, foi verificado que os maiores declínios ocorreram em locais com maior diversidade de espécies.

Foi identificada também uma interação entre o fungo, as espécies infectadas e as condições ambientais que interferem na dinâmica e propagação da doença.

Um estudo anterior havia identificado que as maiores taxas de infecção pelo fungo ocorreram em anfíbios encontrados em altitudes mais elevadas da mata atlântica. Uma das explicações para esse fato é que regiões mais altas apresentam melhores condições ambientais para o desenvolvimento e propagação do fungo, como temperaturas mais amenas, além de chuvas.

Os esporos do fungo causador da quitridiomicose são facilmente transportados pela água, ventos, e até mesmo pelas botas de pesquisadores de campo que trabalham com anfíbios. Por esse motivo, a Universidade Federal do Alagoas traz a estes pesquisadores algumas medidas mitigadoras e orientações para evitar a dispersão da doença através de ações humanas. Veja abaixo:

1. Cuidado com sapatos e pneus

A cada vez que entrar em um corpo d’água que já tenha sido detectado o fungo, os sapatos devem ser lavados e desinfetados com cloro (diluídos com água a 10%) por pelo menos um minuto, e secos completamente. Da mesma forma os pneus dos veículos devem ser lavados e desinfetados com cloro a 5%.

2. Cuidados com anfíbios mortos

Caso encontre anfíbios mortos ou doentes, recolha-os da natureza, lembrando de manuseá-los obrigatoriamente com luvas ou sacos plásticos, armazenando os indivíduos em álcool 70% para a realização de testes da presença do fungo. Além disso, deve-se avisar o quanto antes o órgão ambiental de sua região, sendo ele o IBAMA ou ICMBio.

3. Monitoramento

Realizar monitoramento contínuo de áreas com registros do fungo.

4. Genótipo

Determinar o genótipo da linhagem do fungo presente na área.

5. Soltura dos anfíbios

Não soltar girinos ou anfíbios adultos em corpos d’água.

6. Venda

Controle da venda e remoção ilegal de anfíbios.

O objetivo das pesquisas é se aprofundar na ecologia e fisiologia do fungo para melhor compreender a forma de propagação da doença, para melhor identificar áreas para conservação e monitoramento de espécies além da aplicação de outras metodologias para a contenção da quitridiomicose, impedindo seu avanço. Apesar disso, a perda de habitats ainda é considerada a maior causadora da extinção de anfíbios ao redor do mundo (clique aqui para ler mais sobre os efeitos do aquecimento global sobre a população de anfíbios).


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