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Impactos climáticos diminuem geleiras e deixam duas maiores cidades do país sem água; estiagem é a pior em 25 anos e já causa protestos populares em El Alto, vizinha de La Paz

O governo da Bolívia foi forçado a declarar estado de emergência devido à pior seca em pelo menos 25 anos.

Boa parte do fornecimento de água de La Paz, a capital de maior altitude do mundo, e da vizinha El Alto, segunda maior cidade da Bolívia, vem das geleiras na região das montanhas dos Andes.

Mas as geleiras estão diminuindo rapidamente, o que ilustra como a mudança climática já está afetando um dos países mais pobres da América Latina.

As três maiores represas que abastecem La Paz e El Alto, originalmente alimentadas do degelo, estão quase secas. La Paz já está sofrendo racionamento de água, e a população pobre de El Alto, parte da qual não está nem mesmo conectada ao fornecimento principal d’água, está realizando protestos.

As Forças Armadas estão distribuindo água para as cidades, poços emergenciais estão sendo perfurados e escolas terão que encerrar as atividades duas semanas antes das férias de verão.

O Presidente Evo Morales demitiu a chefia da companhia de água por não tê-lo avisado antes sobre o perigo da situação, mas os efeitos do aquecimento global já estão evidentes há algum tempo.

Um relatório recente do Instituto de Meio Ambiente de Estocolmo (SEI) afirma: “Temperaturas na região aumentaram 0.5°C no período entre 1976 e 2006, e a população de La Paz e El Alto pode ver as evidências da mudança climática no encolhimento da porção nevada das montanhas da paisagem. Uma geleira na região da montanha Chacaltaya – acima de El Alto e que já abrigou a maior estação de esqui do mundo – desapareceu completamente. E as duas geleiras Tuni-Condoriri que fornecem água para El Alto e La Paz perderam 39% de suas áreas entre 1983 e 2006, em uma taxa de 0.24 km² por ano.”

O SEI afirma que, se os modelos climáticos globais e regionais que estimam um aumento de 2°C na temperatura estiverem certos, várias pequenas geleiras irão desaparecer, e outras devem encolher drasticamente.

O Instituto alerta: “Geleiras devem fornecer entre 20% e 28% da água para El Alto e La Paz. Assim, a perda de geleiras terá um impacto considerável, que será sentido particularmente durante a época de seca, em que a água de degelo é responsável pela maior parte do abastecimento urbano”.

“Os sistemas das geleiras e de água das montanhas também são importantes para a agricultura, geração de energia e para os ecossistemas da região.”

O problema é acentuado em El Alto, um aglomerado de mais de um milhão de habitantes que migraram das regiões rurais. A população da cidade cresceu pelo menos 30% entre 2001 e 2012, e a área urbana se expandiu em 144% na última década, chegando aos campos abertos ao sul e oeste. Até 2050, a população deve dobrar.

O SEI acredita que uma das causas deste fluxo crescente para a cidade será a mudança climática. “Evidências da história de El Alto indicam que os períodos de crescimento mais rápido da população coincidem com períodos de seca, inundações e colheitas fracas associadas aos fenômenos El Niño e La Niña.

“Os anos de 1985 a 1987, quando a migração para El Alto atingiu 65 mil novos imigrantes, também foram anos de colheitas pobres.”

Em 2009, a demanda de água em El Alto já havia superado o fornecimento, e esse fornecimento está sob ameaça crescente à medida que o aquecimento global derrete as geleiras.

A Bolívia não pode contar com novas fontes para resolver sua crise hídrica, devido aos custos e potenciais impactos climáticos. Um dos maiores desafios para o país nos próximos anos será planejar e implementar estratégias para gerenciar água sob condições climáticas incertas.

Métodos de conservação e reciclagem serão necessários para aumentar a resiliência do sistema hídrico de cidades bolivianas às mudanças climáticas, afirma o SEI.

As cidades também precisarão encontrar maneiras de reduzir o consumo, especialmente de indústrias e empresas, mas também do comportamento extravagante de um número pequeno de consumidores domésticos ricos.

O relatório do SEI recomenda que as comunidades participem na elaboração de estratégias e tomada de decisão sobre o gerenciamento de recursos hídricos. Mas, no momento, o único papel para as comunidades afetadas é o de protesto.



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