Com base em dados de satélites, cientistas indicam que o ritmo de aumento do nível do mar pode triplicar até o final do século
Se o ritmo atual se mantiver, o aumento do nível do mar pode ser de 65 centímetros até o final do século, é o que indica um novo estudo divulgado este mês na Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America (PNAS), a publicação oficial da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos. Baseada em dados de satélites coletados ao longo de 25 anos, a pesquisa percebeu que a atual taxa de aumento do nível do mar, que é de cerca de três milímetros por ano, pode mais que dobrar até 2100.
As consequências desse volume adicional de água podem ser devastadoras para os cerca de 150 milhões de pessoas que vivem a até 90 cm do atual nível do mar. Conduzido por cientistas da Universidade do Sul da Flórida; do Centro de Voo Espacial Goddard, da Nasa; da Universidade Old Dominion e do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica dos EUA, o estudo usou dados de altimetria captados por satélite para complementar as informações captadas pela leitura dos marégrafos, o método clássico de medição do nível do mar.
Como os marégrafos captam apenas o nível do mar na região específica em que estão instalados, é mais difícil obter dados que permitam fazer previsões globais apenas com esse tipo de equipamento. Assim, com a ajuda de quatro gerações de satélites ao longo de 25 anos, os pesquisadores perceberam que o nível do mar, que pode aumentar ou diminuir em um único ano de acordo com as marés e outros fatores, tem uma taxa de crescimento constante a longo prazo. Eles mediram um crescimento de cerca de 0,084 mm por ano.
Steve Nerem, um dos autores da pesquisa, afirma que essa aceleração, impulsionada sobretudo por um rápido derretimento na Groenlândia e na Antártica, tem o potencial de dobrar o aumento total do nível do mar até 2100 em relação a projeções que presumem uma taxa constante. Assim, em vez dos 30 cm de aumento do nível do mar previstos por estudos que usam a taxa constante, o novo estudo projeta que o número passaria para a casa dos 60 cm.
Os cientistas concluíram que o aumento do nível do mar é causado tanto por fenômenos naturais, que elevam ou diminuem os oceanos ano a ano, quanto por tendências maiores e de longo prazo, relacionadas às mudanças climáticas provocadas pelo homem. Há duas maneiras pelas quais as mudanças climáticas contribuem para um aumento do nível dos oceanos. A primeira se deve ao fato de que maiores concentrações de gases do efeito estufa na atmosfera elevam a temperatura da água – e a água aquecida se expande. Essa chamada “expansão térmica” dos oceanos já contribuiu para cerca de metade dos sete centímetros de aumento médio global dos oceanos nos últimos 25 anos, explica Nerem.
O segundo fator, que foi o que mais contribuiu para acelerar a elevação do nível do mar, é o derretimento das calotas polares, que aumenta o fluxo de água nos oceanos.
As conclusões do estudo corroboram simulações científicas por computador e projeções feitas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU. “Este estudo ressalta o importante papel que pode ser desempenhado por dados de satélites na validação de projeções de modelos climáticos“, disse o coautor John Fasullo.