Entenda problemas que já estavam previstos para ocorrerem e quais as possíveis soluções
Já se esperava a uma crise hídrica para o ano de 2015, como dissemos em uma matéria de 2011. A Agência Nacional de Águas (ANA) previa que deveriam haver investimentos no gerenciamento da água para que a crise não ocorresse em 2015. O “culpado”, na época, era o crescimento populacional. Porém, não somente isto, como também diversos outros motivos atuaram em conjunto para que se chegasse à situação crítica.
O Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) baseado em mais de 30 anos de pesquisas concluiu que 49% do entorno da represa Cantareira, em São Paulo, foram ocupados por pastos. Apenas 38% da área do entorno se encontra florestada, com 8% de mata em recomposição. Os últimos 5% da área são ocupados por eucaliptos. É importante relembrar o papel das florestas na infiltração das águas pluviais, favorecendo que essa água atinja lençóis freáticos que ajudam a encher as represas.
Períodos de chuva alternados por períodos de seca são normais. Porém, o período de estiagem de São Paulo foi considerado fora dos padrões identificados ao longo dos registros do último século – as chuvas mensais sobre o sistema Cantareira ficaram abaixo da média de 2013 a 2015. Em 2013, foram registrados 1.090 milímetros (mm) de precipitação, quando a média anual é de 1.566 mm, sendo que 1 mm de chuva é igual a 1 litro de chuva por metro quadrado.
Fatores antropogênicos também contribuíram para a intensificação da crise hídrica por meio do desperdício e das perdas físicas e não físicas (entenda os conceitos aqui) do sistema de distribuição de água que não obtiveram manutenção e monitoramento adequados. Em São Paulo, entre 2004 e 2013, o consumo de água nos 33 municípios abastecidos pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) aumentou em 26%, ao passo que a produção de água tratada se ampliou em apenas 9% nesse intervalo. Os investimentos também não acompanharam a crise. A Sabesp deixou de investir 37% do que era previsto para ser investido entre 2008 e 2013.
As águas da represa Billings, também em São Paulo, poderiam minimizar a situação crítica, mas estão poluídas, e não podem ser utilizadas sem gastos com despoluição. A ocupação irregular de seu entorno favorece que esgoto seja levado à represa, que além disso, também recebe água poluída do rio Pinheiros. O valor gasto para despoluir um litro de água contaminada supera em dez vezes o valor necessário para o tratamento de um litro de água de regiões de matas. As ocupações irregulares em áreas de mananciais também contribuem para conflitos entre políticas de habitação e de preservação de recursos hídricos.
Não há como afirmar um motivo único para a situação de estresse hídrico que temos enfrentado. São diversos: o desperdício por parte da população; a falta de investimentos tanto na manutenção das adutoras para conter vazamentos gerando as perdas físicas, quanto na despoluição de represas e rios poluídos que poderiam ser aproveitados uma vez que fossem limpos; o desmatamento na Amazônia e no entorno dos rios e represas, que abala o equilíbrio hídrico, ou a ocupação irregular da região de mananciais. Também não é certo afirmar que solucionando um destes problemas a situação toda estaria resolvida. É um conjunto de ações que devem ser aplicadas para solucionar o caso e evitar que se repita.
Podemos fazer nossa parte atuando politicamente, além de fazermos sempre usos conscientes da água, sem desperdícios. Também devemos nos conscientizar quanto ao uso de fontes alternativas, como a água de reúso. Você também pode reutilizar ou aproveitar as águas das chuvas para lavar o carro ou o quintal, que além de serem práticas sustentáveis para o meio ambiente, rendem uma boa economia na conta!