Exploração acelerada dos campos e das florestas coloca recursos naturais sob pressão
Em Cancún, em evento paralelo à 13ª Reunião da Conferência das Partes da Convenção da ONU sobre Biodiversidade — também conhecida como COP13 -, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) apresentou, na primeira semana de dezembro, um conjunto de diretrizes para que países da América Latina e Caribe consigam reduzir os danos ambientais provocados pela produção agrícola.
Atualmente, 37% da superfície da região é utilizada para atividades agropecuárias. Embora concentrem, somados, quase 30% das chuvas e gerem 33% de toda a lixiviação do planeta, os territórios latino-americanos e caribenhos têm sofrido as consequências de uma exploração acelerada de minerais, gás, florestas e campos, explica a FAO. Juntos, esses países respondem por 14% da degradação global dos solos.
A agência da ONU informa ainda que, mesmo com a diminuição do desmatamento nas últimas décadas, a região ainda tem a segunda taxa mais alta do mundo — a cada ano, mais de dois milhões de hectares de florestas são perdidas.
Nas últimas três décadas, a extração de água vem se expandindo na América Latina e Caribe num ritmo muito superior à media mundial, e a maior parte desses recursos hídricos tem sido utilizada na agricultura.
Diretrizes da FAO
Apresentadas a ministros e representantes dos países da região na COP13, as diretrizes da FAO chamam a atenção para a necessidade de um enfoque agroambiental — que articula sociedade, economia e natureza — nas políticas para determinados setores produtivos.
O objetivo é tornar a agricultura mais sustentável e preparada para um cenário futuro marcado pelo avanço das mudanças climáticas, além de enfrentar desafios comuns às nações latino-americanas e caribenhas, como a redução das emissões de gases do efeito estufa e a gestão adequada da água e da terra.
A FAO alerta que os impactos de deterioração ambiental e das transformações do clima afetam sobretudo os setores sociais mais vulneráveis das comunidades — que incluem agricultores familiares, pescadores artesanais, pequenos produtores florestais, povos indígenas e outros grupos tradicionais.
Esses segmentos dependem de maneira mais direta dos recursos naturais que estão, na América Latina e Caribe, sob crescente pressão. Na região, a agricultura familiar representa 75% do total das unidades produtivas e, em alguns países, o índice ultrapassa os 90%, englobando uma população de 60 milhões de pessoas.
As orientações da FAO têm sido elaboradas por meio de um amplo processo de consultas entre autoridades e especialistas da região, com o apoio do Programa de Cooperação Internacional Brasil-FAO.
A agência das Nações Unidas acredita que a aplicação das diretrizes poderá ampliar os potenciais benefícios ambientais das atividades agropecuárias, florestais, pesqueira e aquícola, reduzir seus impactos sobre os ecossistemas e fortalecer a segurança alimentar e nutricional da população, bem como aumentar a disponibilidade de alimentos.