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Entenda o que é e como funciona um biodigestor rural, equipamento que ajuda na sustentabilidade das atividades rurais

A agricultura e a pecuária geram impactos ambientais relacionados, principalmente, com as seguintes atividades: desmatamento e queimadas realizadas para iniciar novos cultivos/pastagens; utilização de agrotóxicos e fertilizantes nitrogenados; compactação do solo e manejo inadequado dos dejetos animais e resíduos das plantações. Uma opção para amenizar esses problemas e ainda gerar lucro ao produtor é o biodigestor rural.

As consequências do desenvolvimento da agricultura para o meio ambiente
Criação intensiva de animais para consumo de carne tem impactos no meio ambiente e na saúde do consumidor

De acordo com dados de 2006, do Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui uma das cinco maiores áreas de produção rural do mundo, ocupando 38% do território nacional com agricultura e pecuária, levando o país a estar entre os maiores exportadores de produtos agrícola e também entre os maiores exportadores de proteína animal do mundo. O fato da agropecuária do Brasil estar em uma posição de destaque no mercado mundial faz com que esse setor seja forte para a economia no país, respondendo por 23% do PIB nacional em 2013, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

O problema é que os impactos causados por essa atividade econômica não são exportados junto com os produtos… Eles ficam aqui, degradando e contaminando solos, ares e águas brasileiras. Entenda alguns desses impactos e como o chamado biodigestor rural pode não só ajudar a diminuir esses impactos como também gerar lucro para o produtor rural.

Contaminação das águas e dos solos por dejetos animais

Os dejetos gerado na pecuária – conjunto de fezes animais, urina, água desperdiçada dos bebedouros, água da higienização e resíduos de ração – são ricos em matéria orgânica, nutrientes e alguns agentes patógenos (organismos capazes de produzir doenças infecciosas aos seus hospedeiros) que, quando dispostos inadequadamente, sem nenhum tipo tratamento, podem impactar o solo e as águas superficiais e subterrâneas.

Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), as áreas de concentração de produção animal sem manejo adequado dos resíduos podem causar: eutrofização dos corpos d’água e morte de organismos aquáticos; contaminação das águas subterrâneas por nitrato e patógenos e consequente ameaça às fontes de abastecimento humano; excesso de nutrientes e metais pesados nos solos, depreciando sua qualidade; contaminação dos solos por patógenos; liberação de gases na atmosfera, como amônia e metano. As áreas onde estão localizadas as atividades de agropecuária são muitas vezes próximas a nascentes de rio e a mananciais superficiais e subterrâneos, e a preservação destes é essencial para termos água de qualidade para todos.

Emissão de gases de efeito estufa

Em 2015 o documentário “Cowspiracy denunciou os impactos ambientais da indústria agropecuária, focando na falta de divulgação do alto grau de contribuição dessa atividade no que condiz à emissão de gases de efeito estufa (GEE). Como citado no filme, entre as atividades que mais geram gases de efeito estufa que contribuem para o aquecimento do planeta estão o desmatamento e a agropecuária. E é principalmente devido ao desmatamento e à agropecuária que o Brasil está entre os dez países que mais emitem gases do efeito estufa (GEEs) no mundo. A queima de combustíveis fósseis para geração de energia e o funcionamentos dos motores a combustão interna dos carros – considerados muitas vezes como grandes vilões do aquecimento global – estão em terceiro lugar como maior causa contribuidora na emissão de GEEs no Brasil, segundo levantamento da SEEG. Porém os motores a combustão interna ainda são os maiores responsáveis pela poluição do ar.

Segundo o SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases do Efeito Estufa), a fermentação entérica do gado bovino responde pela maior parte das emissões do setor agropecuário. O que se deve ao tamanho do rebanho bovino brasileiro – cerca de 210 milhões de cabeças em 2014 – e o fato desses animais dependerem da fermentação realizada for bactérias em seus estômagos para converterem pasto e/ou ração em carne ou leite, e essas bactérias produzem metano (CH4) que é eliminado principalmente por meio de arrotos.

Entre outros emissores de gases do setor podemos citar o manejo de dejetos de animais e queima de resíduos agrícolas: a estocagem de esterco animal favorece a decomposição da matéria orgânica por bactérias anaeróbias (ausência de oxigênio), o que resulta em geração de gás metano (CH4) e óxido nitroso (N2O), e queima de resíduos agrícolas (palhas, caules, e demais resíduos da colheita) emitem diversos gases de efeito estufa como o dióxido e monóxido de carbono (CO2 e CO), óxido nitroso e outros óxidos (N2O e NOx) e metano (CH4).

Como funciona o biodigestor rural e porque ele reduz esses impactos e ainda aumenta a renda?

O biodigestor rural pode ajudar a diminuir o impacto da agropecuária ao auxiliar na correta destinação dos dejetos dos animais, dos resíduos agrícolas e até mesmo de dejetos humanos, dos trabalhadores rurais. Esses resíduos naturalmente sofrerão um processo de decomposição quando dispostos no solo ou nos rios. A função do biodigestor é receber esses resíduos em um ambiente fechado (normalmente formado por uma lona, como na foto abaixo) e impermeabilizado, onde o processo de decomposição ocorre de forma anaeróbica (sem oxigênio) e o líquido e gás gerados após a decomposição da matéria orgânica são coletados para serem utilizados como adubo orgânico e biogás que pode ser usado para gerar energia mecânica, térmica ou elétrica.

Essa alternativa impede que os resíduos sejam despejados in natura (sem tratamento), preservando solos e rios, e ainda reduz a emissão de gases de efeito estufa por capturar o gás gerado nesse processo.

O líquido produzido nesse processo pode ser utilizado como fertilizante orgânico/biofertilizante), pois possui muitos nutrientes, e o biogás gerado deve ser drenado para ser queimado (o que o transforma em CO2, gás com menor poder de efeito estufa que o CH4) ou utilizado para geração de energia. Assim, o biofertilizante pode ser utilizado para a adubação da pastagem, resultando em uma economia financeira para o agricultor que pode economizar na diminuição da compra de fertilizantes químicos, e o biogás pode ser utilizado para a geração de energia. Essa energia pode ser utilizada gás de cozinha – como estão fazendo HomeBioGas – ou pode ser usado também para geração de energia na granja, economizando em compra de energia externa. Veja no esquema abaixo as finalidades que os produtos produzidos pelo biodigestor rural podem ter:

Imagem de PatriciabombsUsinabiogas. Disponível em Wikimedia Commons.

Incentivos financeiros do governo podem ajudar na compra do biodigestor

Em 2010, como parte dos compromissos brasileiros estabelecidos no Acordo de Copenhague, e em consonância com a determinação da Política sobre Mudanças Climáticas, foi desenvolvido um programa do governo para ajudar na busca da sustentabilidade na área rural, o Programa ABC (Agricultura de Baixo Carbono). Esse programa financia, entre outras medidas para as atividades rurais, implementação, manutenção e melhoramento de sistemas de tratamento de dejetos e resíduos oriundos de produção animal para geração de energia (o que inclui os biodigestores).

Uso residencial de biodigestores

Apesar de mais conhecido por suas vantagens trazidas ao manejo dos resíduos agropecuários – na área rural – já existem sistemas de biodigestão para ser utilizado na área urbana, onde ele pode receber restos de alimentos e fezes de animais de estimação. O sistema residencial é mais compacto, o biogás gerado pode ser utilizado (após uma adaptação na mangueira de alimentação) no fogão tradicional e o biofertilizante na horta do jardim.

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