A extinção de espécies de abelhas nativas implica na extinção de espécies vegetais e no desequilíbrio dos ecossistemas
Imagem: Alexandre Machado/Jardim Botânico do Rio
Um projeto que tem por objetivo a preservação de abelhas sem ferrão começou a ser executado em meados de maio pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Um espaço para a criação desse tipo de abelha está funcionando ao lado do orquidário e é aberto ao público. A iniciativa do projeto chamado de meliponário é do Laboratório de Fitossanidade da instituição.
A engenheira agrônoma Maria Lucia Teixeira Moscatelli, responsável pelo laboratório, disse que o projeto vai atuar na preservação e no incremento da população de abelhas sem ferrão. “Esta ação é importante diante da condição de ameaça de extinção dessa espécie de abelha e de seu papel na reprodução e perpetuação de muitas espécies de plantas nativas e manutenção da biodiversidade”.
De acordo com ela, o projeto vai “informar o público sobre a existência e o papel das abelhas sem ferrão, visando conscientizar e até mesmo estimular a criação desses animais”, afirmou à Agência Brasil.
“Nas florestas brasileiras, as abelhas sem ferrão são os principais agentes de transporte de pólen e fecundação para grande parte das árvores. Elas viabilizam a reprodução através da polinização cruzada, aumentando também a produtividade das plantas cultivadas e, consequentemente, a produção de frutos e sementes”, ressaltou a pesquisadora.
Segundo Maria Lucia, a extinção de espécies de abelhas nativas implica na extinção de espécies vegetais e no desequilíbrio dos ecossistemas. “As abelhas sem ferrão produzem ainda própolis, cera e mel, podendo sua criação gerar recursos e servir como excelente instrumento de preservação ambiental”, acrescentou.
Patrocinado pela empresa global Brasil Kirin, o Projeto de Meliponário foi iniciado em 2010 e contabiliza atualmente 21 colmeias de abelhas sem ferrão das espécies: Jataí, Mandaçaia, Mirim, Iraí e Guaraipo, todas com ocorrência natural no estado do Rio de Janeiro, disse Maria Lúcia. Até o momento, os pesquisadores identificaram 13 espécies dessas abelhas no Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
Levantamento feito pelo Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), publicado na Revista Biota Neotrop, de 2008, mostrou que o estado do Rio de Janeiro aparece entre os mais ricos em termos da presença dessas abelhas na Mata Atlântica, com cerca de 20 espécies.
Em todo o Brasil, existem mais de 300 espécies de abelhas sem ferrão. A pesquisadora estima, entretanto, que cerca de 100 delas estão seriamente ameaçadas de extinção, não só devido à poluição atmosférica e das águas, mas também à quebra da cadeia ecológica, ao desmatamento, ou mesmo à destruição dos ninhos para retirar o mel medicinal, que apresenta “sabor e doçura inigualáveis”.
“Foi pensando na preservação destas colmeias que já existem no arboreto, no estímulo à população dessas espécies e no despertar do interesse do público sobre o universo dessas grandes polinizadoras que o Jardim Botânico inaugura mais este espaço de conhecimento para o visitante”, afirmou Maria Lúcia.
Fonte: Agência Brasil