Secretário-geral da ONU ficou “desapontado” com resultados finais do evento; mas se diz determinado a fazer de 2020 um ano em que os países se comprometam com ação climática
Dois dias após o encerramento oficial da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 25), as negociações para se chegar a um documento final terminaram neste domingo.
De acordo com a ONU, o evento que ocorreu em Madri, na Espanha, viu muito progresso feito pelo setor privado e pelos governos nacionais, regionais e locais. No entanto, houve desapontamento pela falta de consenso geral em relação ao aumento da ambição climática.
Guterres
O secretário-geral António Guterres, disse no Twitter que estava “desapontado com os resultados da COP 25”. Para ele, “a comunidade internacional perdeu uma oportunidade importante para mostrar maior ambição em mitigação, adaptação e financiamento para enfrentar a crise climática.”
O chefe da ONU também escreveu que está “mais determinado do que nunca a trabalhar para que 2020 seja o ano em que todos os países se comprometam” a fazer o que a ciência diz ser necessário “para atingir a neutralidade do carbono em 2050 e um aumento de temperatura não superior a 1,5°Cs.”
Negociações
Até o final oficial da conferência na sexta-feira, os negociadores chegaram a um acordo sobre algumas questões importantes. Entre elas, temas como capacitação e um programa de gênero e tecnologia.
No entanto, a ONU aponta que um acordo geral foi procrastinado devido a divergências sobre questões maiores e mais controversas que lidam com perdas e danos causados pelas mudanças climáticas provocadas pelo homem, assim como o financiamento para adaptação.
A pedido da presidente da COP, negociadores trabalharam durante a noite de sexta-feira. Mas, de acordo com relatos, uma versão preliminar do texto final divulgada na manhã do sábado desapontou todas as partes nas negociações.
Representantes de Organizações Não Governamentais, ONGs, e da sociedade civil teriam declarado que o acordo era inaceitável e uma traição aos compromissos assumidos no âmbito do acordo climático de Paris de 2015.
Multilateralismo
No sábado a tarde uma conferência de imprensa foi realizada pelos organizadores da COP explicando que os negociadores ainda estavam trabalhando intensamente com o objetivo de “mostrar ao mundo” que um resultado poderia ser obtido e “que o multilateralismo funciona.”
Na noite de sábado ainda não havia sinal de acordo. No Twitter, a ativista de 16 anos, Greta Thunberg, uma das participantes de alto nível do Encontro de Cúpula de Ação Climática, realizado na sede da ONU em setembro, comentou que parecia que a COP 25 em Madri estava desmoronando e que apesar de ser clara, “a ciência está sendo ignorada.”
Progressos
Apesar da decepção manifestada no conteúdo do documento final, vários anúncios foram feitos durante a conferência de duas semanas que indicam progresso. A União Europeia, por exemplo, se comprometeu com a neutralidade do carbono até 2050, e 73 países anunciaram que apresentarão um plano de ação climática aprimorado.
Uma disposição de ambição por uma economia mais limpa também ficou evidente em nível regional e local, com 14 regiões, 398 cidades, 786 empresas e 16 investidores trabalhando para alcançar emissões líquidas zero de CO2 até 2050.
As discussões realizadas durante a COP 25 ampliaram o entendimento da ciência por trás da crise climática e a necessidade crítica de urgência. O Pacto Global da ONU, que trabalha com o setor privado, anunciou que 177 empresas concordaram em estabelecer metas climáticas baseadas na ciência e que se alinham com o limite do aumento da temperatura global até 1,5°C acima dos níveis pré-industriais e atingindo as emissões líquidas de zero até 2050.
Isso é o dobro do número de empresas que se comprometeram na Cúpula de Ação Climática, representando emissões do setor privado equivalentes ao total anual de emissões de CO2 da França.
COP 26
Como poucos países apresentaram planos com compromissos concretos para reduzir as emissões de acordo com os objetivos do Acordo de Paris, a COP 25 concluiu com um apelo às nações para que apresentem metas mais ambiciosas para reduzir essas emissões na COP 26, que será realizada em dezembro de 2020 em Glasgow, na Escócia.
O evento está sendo apontado como um marco importante na luta contra as mudanças climáticas.
Segundo cientistas, com os atuais compromissos de redução de emissões, o planeta aquecerá mais de 3°C até o final do século em relação aos níveis pré-industriais, criando um cenário desastroso para toda a vida na Terra.
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