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Monoculturas trazem diversas discussões sobre as consequências do reflorestamento com eucalipto

O reflorestamento é uma atividade essencial nos dias atuais, pois auxilia em algumas demandas da sociedade, como na grande necessidade de produtos oriundos de florestas, na captação de CO2, na recomposição da biodiversidade, entre muitos outros serviços ecossistêmicos que a floresta oferece. Mas o que plantar? Essa pergunta é feita principalmente em relação às consequências do reflorestamento com eucalipto.

Eucalipto é um nome genérico que faz referência a algumas espécies de árvores pertencentes à família Myrtaceae. É estimado que existam cerca de 700 espécies de eucalipto ao redor do mundo. As árvores de eucalipto são nativas da Austrália, sendo importantes na composição da floresta tropical da região e essenciais para a conservação dos coalas. No Brasil, o eucalipto é uma árvore exótica introduzida por iniciativa do político Joaquim Francisco de Assis Brasil.

Em 1904, o engenheiro agrônomo Edmundo Navarro de Andrade foi responsável por mais uma implantação da espécie no país. O engenheiro foi contratado pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro para implantar o projeto de Hortos Florestais ao longo das ferrovias. Depois da plantação de cerca de 95 espécies, Navarro de Andrade escolheu o eucalipto.

O que é o reflorestamento com eucalipto?

Existem dois tipos principais de reflorestamento: o de fins comerciais (eucalipto e pinus) e o de fins ambientais (vegetação nativa). As florestas plantadas de eucalipto, por exemplo, criaram diversos debates sobre suas vantagens e desvantagens.

A plantação de eucalipto é o tipo mais popular de reflorestamento devido ao seu rápido crescimento e às utilidades que proporciona (colheita a partir de cerca de sete anos). Cerca de 70% das florestas plantadas são dessa família. A partir dos componentes da árvore, é possível fazer móveis, carvão vegetal, materiais para construção civil, papel e celulose, essências, entre outros. Mas sempre houve controvérsias acerca dos benefícios da monocultura de eucalipto e seu impacto no meio ambiente.

Impactos

Para crescer rápido, o eucalipto precisa de energia, que é obtida por meio da fotossíntese. Portanto, ele absorve uma boa quantidade de gás carbônico em curto e médio prazo. Porém, em longo prazo, as florestas nativas são mais eficientes na captação de CO2 que as florestas de eucalipto, que são colhidas em poucos anos. Já as árvores nativas são capazes de acumular mais carbono em sua biomassa de acordo com a idade da floresta.

Quanto mais rápido é o crescimento da planta, maior é seu consumo de água. Portanto, há consequências do reflorestamento de eucalipto plantado em regiões com baixos índices de chuva (menos de 400 mm/ano), principalmente porque ele pode ressecar o solo. As plantações devem estar em locais com grande altitude para não alcançarem o lençol freático, pois caso alcancem elas irão consumir muita água, podendo comprometer o fluxo hidrológico. A vegetação nativa, por sua vez, regula, protege e mantém o sistemas hídricos.

Outro aspecto é a quantidade de folhas do eucalipto que representa quase metade da folhagem de uma árvore nativa. Portanto, há menos interceptação da chuva e mais água atinge o solo. Isso pode trazer dois efeitos: mais água disponível no solo, mais água no lençol freático; ou maior escoamento superficial da água, podendo acarretar em processos erosivos do solo.

Solo e ciclagem de nutrientes

Outra controvérsia sobre as consequências do reflorestamento com eucalipto é sobre a contribuição das plantações de eucalipto para o solo e ciclagem de nutrientes. Mas isso é relacionado com a técnica de colheita. Caso a árvore seja totalmente extraída, ela deixará no solo pouco resíduo orgânico (folhas, galhos), ou seja, baixa formação de serrapilheira e poucos nutrientes para o solo.

Por isso é importante incluir no manejo o depósito de parte da árvore no solo para mantê-lo saudável. Já a mata nativa oferece matéria orgânica para o solo constantemente e naturalmente, além de atrair animais e insetos devido à diversidade de oferta de alimentos e habitat.

As monoculturas de eucalipto possuem pouca biodiversidade e não podem ser caracterizadas como habitat, já que muitas vezes são extraídas depois de alguns anos. Uma solução é o plantio em mosaico, uma técnica de manejo florestal que intercala mata nativa com as plantações de eucalipto proporcionando uma ligação entre o habitat natural e a floresta plantada. São os chamados corredores ecológicos, que ajudam a manter a biodiversidade do local.

Monoculturas em geral não são “amigas” do meio ambiente, por isso é necessário minimizar os impactos por meio da boa escolha da localização, manejo, estrutura de plantio e bioma. As florestas plantadas, se manejadas corretamente, podem trazer benefícios, pois diminuem a pressão sobre a exploração de florestas nativas. Muitas empresas responsáveis pelas florestas plantadas possuem grandes áreas dedicadas a preservação de vegetação nativa.

Cada tipo de reflorestamento possui uma importância e função diferentes, o que torna difícil compará-los. As florestas plantadas possuem fins econômicos e diminuem a pressão sobre as florestas nativas, que por sua vez contribuem para a diversidade genética e para recompor os serviços ecossistêmicos.

Por que reflorestar com mata nativa é tão importante?

Apesar da destruição de florestas nativas ter diminuído nas últimas décadas, ela ainda é bastante significativa. Segundo o relatório da FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations), entre 2010 e 2015, cerca de 6,5 milhões de hectares se foram, e o Brasil foi o país que apresentou a maior taxa de perda de mata nativa. Enquanto o número de florestas plantadas aumenta, a área de floresta nativa diminui a cada ano no mundo:

  • 1990: 96% de florestas nativas e 4% de florestas plantadas;
  • 2005: 94% de florestas nativas e 6% de florestas plantadas;
  • 2015: 93% de florestas nativas e 7% de florestas plantadas.

Há serviços ecossistêmicos que só as florestas nativas podem fornecer, por isso é tão importante preservar as florestas remanescentes e reflorestar áreas com espécies nativas sempre que possível. Essa prática pode ser incentivada com a comercialização de serviços ecossistêmicos, por meio do pagamento por serviços ambientais (PSA). Por exemplo: para uma empresa fabricante de água para consumo ter água constante de qualidade e economizar com tratamento, ela pode pagar por reflorestamento de matas ciliares ou pela proteção de unidades de conservação.

Nós usamos os serviços ecossistêmicos da floresta de forma direta e indireta, muitas vezes sem nem percebermos e totalmente de graça sem perceber o valor dela. Mas as florestas não continuarão nos beneficiando para sempre se continuarmos com essa cultura de tirar sem dar nada em troca. Cada pessoa também pode contribuir para melhorar e conservar esses serviços para essa e futuras gerações.

Veja o vídeo sobre como a floresta plantada se relaciona com a floresta nativa.


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