Carlos Nobre considera que açaí pode ser um parâmetro para a exploração de recursos mais sustentável
O climatologista Carlos Nobre publicou um artigo no jornal Valor Econômico em que usa o exemplo do açaí para mostrar que é possível ter um modelo de negócios sustentável na Amazônia. Em oposição ao modo de produção tradicional do agronegócio, Nobre revela que o uso de conhecimentos científicos e novas tecnologias podem impulsionar o desenvolvimento amazônico sem que a floresta seja afetada.
O açaí é um bom exemplo de como viabilizar uma “economia de floresta em pé”. Fruto de palmeiras da Amazônia, o açaí é utilizado há séculos como alimento pelas populações indígenas. De produção abundante, em geral com mais de 100 árvores por hectare, o fruto se tornou popular em todo o país a partir dos anos 1990 e seu consumo se expandiu também para o exterior.
Esse processo, explica Nobre, “conectou firmemente os agricultores de sistemas agroflorestais da Amazônia com mercados globais e as técnicas de produção, coleta e processamento foram aperfeiçoadas”. Assim como no caso do açaí, o pesquisador cita estudos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) que não deixam dúvidas de que o Brasil “pode produzir bem mais proteína animal e vegetal diminuindo a área total de pastagem ao recorrer à ciência e tecnologia, reduzindo, assim, a pressão expansionista da fronteira agropecuária na Amazônia e no Cerrado”.
Além de ser uma opção que preserva a floresta, estando alinhada com um menor impacto nas mudanças climáticas, explorar a biodiversidade por meio de ciência e tecnologia também geraria diversificação alimentar, já que a agricultura global fornece apenas um número restrito de opções se comparada às centenas de produtos amazônicos que poderiam seguir o exemplo do açaí.
Nobre cita o economista Francisco da Costa, da Universidade Federal do Pará, que constatou que o valor dos derivados do açaí atualmente só fica abaixo dos da carne bovina e da madeira tropical, com potencial para chegar ao segundo lugar dentro de alguns anos. Os atuais setores fortes na economia local, no entanto, não só são responsáveis por vastas áreas de desmatamento, mas também favorecem a concentração de renda.
O pesquisador finaliza dizendo que “ciência e tecnologia podem trazer conhecimento sobre os incomparáveis ativos biológicos escondidos na biodiversidade amazônica”. A bioeconomia do futuro, ele defende, será baseada não em elementos materiais, mas da utilização do conhecimento.
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