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O governo brasileiro e organizações europeias trabalham em conjunto para reintroduzir a ararinha-azul, espécie que hoje só vive em cativeiro, em seu habitat natural, no cerrado baiano

Imagem: Ararinha-azul. Ministério do Meio Ambiente

As ararinhas-azuis (Cyanopsitta spixii) estão voltando para o Brasil e levando com elas, inclusive, novidades para compartilhar com as comunidades da região de Curaçá, no sertão baiano. Na inauguração do Centro da Associação para Conservação de Papagaios (ACTP, na sigla em inglês), nesta quinta-feira em Berlim, Alemanha, o ministro do Meio Ambiente, Edson Duarte, recebeu a notícia de que o centro disponibilizará, inicialmente, 300 mil euros para implementação de Unidades de Recuperação de Áreas Degradadas (Urad) na região.

“A Caatinga, região da ararinha-azul, passa por uma situação econômica muito difícil. E a sobrevivência da ararinha passa, também, pela melhoria da qualidade de vida das pessoas que ali estão. As URADs são ações muito simples, mas que têm uma efetividade enorme. Elas recuperam a capacidade produtiva das famílias e serão a garantia de vida longa para a ararinha-azul e para todos que moram na região”, destacou Edson Duarte.

Martin Guth, presidente da ACTP, reconheceu a importância e a necessidade de implementação dessas unidades e ressaltou que o projeto de reintrodução da ararinha-azul precisa do apoio da comunidade local, já que, no futuro, os moradores poderão ser os “vigilantes” do animal na natureza.

“Temos que apresentar uma proposta que inclua 100% a comunidade porque ela não pode se sentir em desvantagem em relação ao nosso objetivo final que é a reintrodução do animal ao bioma. Essas pessoas têm que se sentir incluídas e parte desse processo”, concordou Martin.

Áreas protegidas

O diretor do Departamento de Manejo e Conservação de Espécies do MMA, Ugo Vercillo, explicou que, no final no ano passado, foi atingido o total de 150 arinhas em cativeiro, o que possibilitou que a reintrodução do animal na natureza se tornasse cada dia mais factível. “Outra importante ação para chegarmos aqui hoje foi a criação, em junho deste ano, do Refúgio de Vida Silvestre da Ararinha-azul e da a Área de Proteção Ambiental da Ararinha-azul. Esse alinhamento possibilitou traçarmos o plano para a soltura do animal a partir de 2019″, informou.

O ministro Edson Duarte explicou que a criação das duas unidades na Caatinga faz parte do esforço do governo brasileiro para proteger a biodiversidade do país. De 2016 para cá, o governo criou 14 UCs, sendo dez na área continental, equivalentes a 1,4 milhão de hectares, e quatro na região oceânica. “Além disso, foram ampliadas três UCs, dentre as quais o Parque Nacional da Chapados dos Veadeiros, que teve a área quadruplicada”, lembrou o ministro.

Na Caatinga

Visivelmente emocionado durante o ato na ACTP, Edson Duarte contou que nasceu no único lugar do mundo onde viveu a ararinha-azul e que, na juventude, fez uma opção em defesa da Caatinga. “Quando comecei a trabalhar com a ararinha só havia um único exemplar na natureza e um dia ela sumiu. O que eu nunca imaginaria era que eu viraria ministro do Meio Ambiente para vir a Berlim assinar um acordo e fazer com que ela volte a tornar o céu azul do sertão do Brasil, mais azul”, disse.

A ararinha-azul é uma espécie endêmica da Caatinga e considerada uma das aves mais ameaçadas do mundo. O declínio da espécie foi atribuído a dois fatores principais: a destruição em larga escala do seu habitat e a captura para comércio ilegal nas últimas décadas. Atualmente, existem 11 ararinhas em território brasileiro. Elas estão no criadouro Fazenda Cachoeira, em Minas Gerais.

Para que os animais sejam recebidos no país, será construído um centro de reintrodução da espécie no município de Curaçá (BA), também com apoio da ACTP e da Fundação Pairi Daiza, da Bélgica.

A parceria entre instituições privadas nacionais e internacionais e o governo brasileiro tem viabilizado diversas ações previstas no Plano de Ação Nacional (PAN) para a Conservação da Ararinha-azul, que tem como objetivo o aumento da população manejada em cativeiro e a recuperação e a conservação do habitat de ocorrência da espécie.

Esses esforços já possibilitaram que a população de ararinhas passasse de 79 indivíduos, em 2012, para 158 em 2018.

Ambiente preservado

Para garantir a reintrodução e preservação da espécie, no Dia Mundial do Meio Ambiente deste ano, 5 de junho, o governo brasileiro criou o Refúgio de Vida Silvestre da Ararinha-azul, no município de Curaçá, e a Área de Proteção Ambiental da Ararinha-azul, em Juazeiro (BA). O objetivo dessa iniciativa, além de proteger o bioma Caatinga, é promover a adoção de práticas agrícolas compatíveis com a reintrodução e a manutenção da espécie na natureza.

O Refúgio da Ararinha-azul tem 29,2 mil hectares; e a Área de Proteção possui 90,6 mil hectares. As unidades vão compor um mosaico de UCs para conciliar a conservação de remanescentes de Caatinga, o único bioma exclusivamente brasileiro, com o Programa de Reintrodução da Ararinha-azul na natureza, que prevê a soltura dos primeiros exemplares a partir de 2021.

Essas unidades também irão incentivar políticas para a melhoria da qualidade de vida da população local, além de estimular atividades que gerem emprego e renda para a comunidade por meio de projetos de produção sustentável, turismo, conservação e pesquisa.

Recuperação

As Urads (foto ao lado) têm como unidade de trabalho as microbacias hidrográficas e conjugam ações ambientais, sociais e produtivas, com o envolvimento direto das comunidades e prefeituras. Na área ambiental, o projeto prevê a recuperação de área de pastagem degradada por meio de cordões de pedra, terraceamento (técnica de conservação do solo), barragens sucessivas em pedra ou madeira, barragem subterrânea, produção de mudas para replantio e incentivo à Integração de Lavoura, Pecuária e Floresta (ILPF).

Do ponto de vista social, que deve ser integrado ao ambiental, as URADs devem garantir a segurança hídrica, o saneamento básico, fogões ecológicos – diminuem o consumo de madeira e lenha e não geram fuligem – e capacitação. Já as ações produtivas atendem às necessidades das comunidades com incentivo e suporte técnico à avicultura, ovinocultura, apicultura, hortas, artesanato, bordados, horticultura, beneficiamento de frutas, entre outros.

“A ararinha-azul é um catalisador de ações para a conservação da Caatinga e melhoria da renda das comunidades locais. Assim, a população de Curaçá e entorno ajudará a proteger a espécie para que nunca mais volte a desaparecer”, destacou Ugo Vercillo.



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