Comportamento de manada: o cérebro humano é capaz resistir à opinião da maioria?

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Cientistas da Higher School of Economics – HSE University, em Moscou, na Rússia, descobriram que discordar da opinião de outras pessoas deixa uma espécie de traço na atividade cerebral, o que permite que o cérebro ajuste posteriormente sua opinião em favor do ponto de vista da maioria. Um artigo que detalha as conclusões da equipe foi publicado no periódico científico Scientific Reports.

Você certamente já viu alguém contrariar as próprias crenças ou valores diante da influência de outras pessoas. Popularmente conhecido como “comportamento de manada”, este movimento de conformidade em relação à opinião da maioria explica vários componentes do nosso comportamento social, desde o voto nas eleições até as tendências da moda entre adolescentes.

Se nossa escolha coincide com o ponto de vista de pessoas influentes ou importantes para nós, essa decisão é reforçada nos centros de prazer do cérebro, envolvidos no sistema dopaminérgico mais amplo, que é responsável pelo aprendizado, atividade motora e muitas outras funções. Por outro lado, em casos de desacordo, o cérebro sinaliza que um “erro” foi cometido e desencadeia o movimento de conformidade.

Desenvolvimento da pesquisa

Os neurocientistas da HSE decidiram estudar se a opinião de outras pessoas causa mudanças de longo prazo na atividade cerebral. Os cientistas usaram a magnetoencefalografia (MEG), um método único que permite ver em detalhes a atividade do cérebro humano durante o processamento de informações.

No início do experimento, 20 participantes classificaram o grau de confiança em estranhos, cujos rostos foram retratados em uma série de fotografias. Em seguida, foram informados sobre a opinião coletiva de um grande grupo de colegas sobre a confiança ou não nesses estranhos. Às vezes, a opinião do grupo contradizia a opinião dos participantes; outras vezes, coincidia com ela. Meia hora depois, os indivíduos foram convidados a reavaliar sua confiança naqueles mesmos desconhecidos.

O estudo mostrou que os participantes mudaram de opinião sobre um estranho sob a influência de seus pares em cerca de metade dos casos. Além disso, ocorreram mudanças em sua atividade cerebral: os cientistas descobriram “traços” cerebrais de desentendimentos anteriores com colegas.

Quando os participantes voltaram a ver o rosto de um estranho, após uma fração de segundo, o cérebro sinalizou que, da última vez, sua opinião pessoal não coincidia com a avaliação dada por seus pares. Muito provavelmente, a fixação desse sinal permite ao cérebro prever possíveis conflitos, decorrentes de desentendimentos, para evitá-los – e isso provavelmente ocorre de forma inconsciente.

É interessante que uma área como o córtex parietal superior, uma área do cérebro responsável por recuperar memórias, esteja envolvida na codificação do sinal de desacordos anteriores com o grupo. É provável que os rostos de estranhos, sobre os quais o cérebro encontrou uma diferença de opinião, sejam mais facilmente lembrados do que outros.

Assim, as opiniões alheias não apenas influenciam nosso comportamento, mas também causam mudanças de longo prazo na maneira como nosso cérebro funciona. Aparentemente, o cérebro não apenas se ajusta rapidamente ao ponto de vista dos outros, mas também começa a perceber as informações pelos olhos da maioria para evitar conflitos sociais no futuro.

Cérebro age para prevenir conflitos

De acordo com Vasily Klucharev, professora da HSE e uma das autoras do estudo, a pesquisa revela que a influência da opinião dos outros na maneira como absorvemos informações é enorme. Ela explica que, como vivemos em grupos sociais e ajustamos automaticamente nossas opiniões às da maioria, o ponto de vista de nossos colegas pode mudar a forma como nosso cérebro processa informações por um tempo relativamente longo.

Os modernos métodos de neuromapeamento utilizados pela equipe comprovam que o cérebro absorve a opinião dos outros como uma esponja e ajusta suas funções à opinião de seu grupo social. Isso explica por que é tão comum que as pessoas apresentem, em algum momento da vida, um comportamento de manada – e mostra que nenhum de nós está imune a ele.

Isabela

Redatora e revisora de textos, formada em Letras pela Universidade de São Paulo. Vegetariana, ecochata na medida, pisciana e louca dos signos. Apaixonada por literatura russa, filmes de terror dos anos 80, política & sociedade. Psicanalista em formação. Meu melhor amigo é um cachorro chamado Tico.

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