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Como compostar as fezes do cachorro

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Um cachorro de estimação traz muitas alegrias para a família e, como todos os animais, ele tem necessidades fisiológicas. O que fazer com as fezes dos cachorros no quintal? Bom, muita gente descarta as fezes de cachorro colocando em sacos plásticos (que demoram cerca de 20 anos para se decompor em microplástico) e jogando ao lixo, mas essa opção não é a mais ecofriendly.

Uma solução muito boa é transformar esses tipos de fezes em adubo através da compostagem, mas de um jeito bem diferente do tradicional – para isso, deve ser feita separadamente. A compostagem de fezes de cachorro não vai formar adubo para sua horta, mas pode ser utilizada em plantas ornamentais e vai fazer de você um amigo dos cães e da natureza.

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O que é compostagem e como fazer?

Deixadas a céu aberto, as fezes podem poluir as águas subterrâneas e de superfície, atrair moscas e pragas, causar odor desagradável e ainda criar condições de insalubridade para os cães, sendo veículo de transmissão de parasitas e doenças infecciosas. Mas as fezes de cachorro também não podem ser enterradas, já que isso também poluiria o solo e a água.

Entenda como compostar as fezes do cachorro de maneira simples e segura, eliminando os agentes infecciosos e reduzindo a quantidade de resíduos depositados em aterros sanitários.

O que é compostagem?

Compostagem é a decomposição ou degradação controlada de material orgânico em um produto conhecido como húmus. A compostagem de resíduos de cães é um processo natural que requer ar, água, matéria orgânica, microrganismos e um pouco de intervenção humana.

Aqui trataremos da compostagem seca, sem a presença de minhocas ou outros invertebrados como principais agentes de decomposição, em um sistema termofílico. Neste sistema, a matéria orgânica é processada por bactérias, em um processo que eleva a temperatura ao ponto de eliminar patógenos e não atrair vetores de doenças. 

Benefícios da compostagem

A compostagem elimina o lixo bruto do ambiente, onde pode poluir as águas subterrâneas e os córregos. Uma boa compostagem destrói os patógenos e produz um rico húmus para o solo.

Ao compostar as fezes do seu cão, você diminui a necessidade de transporte de resíduos para um lixão ou, na melhor das hipóteses, um aterro sanitário. Isso economiza recursos públicos nessa logística, reduz as emissões de gases do efeito estufa, aumenta a vida útil de aterros e reduz a disposição final desses resíduos em aterros e lixões, consequentemente reduzindo a contaminação do solo e do lençol freático

Além desses benefícios, uma boa compostagem produz, de forma segura, um adubo de qualidade que melhora tanto a condição física quanto a fertilidade do solo. Entenda melhor os benefícios da compostagem na matéria “Composteira: o que é, como funciona e benefícios”.

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Usos do composto feito a partir das fezes do cachorro

O composto feito a partir das fezes do cão é uma excelente fonte de matéria orgânica para adicionar ao seu jardim ou às plantas em vasos. Ele ajuda a melhorar a estrutura do solo, o que contribui para uma boa aeração e capacidade de retenção de umidade. O composto também é uma fonte de nutrientes para as plantas e pode ser usado como um material de cobertura morta (também conhecido como mulching).

O adubo para cães pode ser usado como um aditivo de solo para revegetação, estabelecimento de gramados e canteiros de plantio. Mas não deve ser utilizado em culturas cultivadas para consumo humano. Quando usado em vasos ou canteiros de flores, recomenda-se uma mistura de 25% composto e 75% de solo. O composto tem uma salinidade relativamente alta e não é recomendado para germinar mudas.

Materiais da compostagem termofílica

Materiais marrons e materiais verdes

A compostagem termofílica requer um suprimento de materiais ricos em nitrogênio (às vezes chamados de materiais verdes ou úmidos) e materiais ricos em carbono (materiais secos ou marrons). Ao compostar as fezes do seu cachorro, você deve incluir outros materiais ricos em nitrogênio (úmidos) como resíduos da cozinha, resíduos ainda verdes de poda e grama verde.  Você pode ainda adicionar esterco de gado ou de galinha no início do processo para torná-lo um pouco mais eficiente.

Pequenas partículas têm maior área de superfície de contato do que partículas grandes. Assim, quanto menor for o material verde inserido na compostagem, mais quente será seu composto e mais rápido será obtido o adubo.

Enquanto os materiais ricos em carbono (secos) que podem ser usados são: serragem, palha picada, papel (papelão, jornal, papel manteiga) e folhas secas. A serragem é uma excelente fonte de carbono para quem não tem acesso tão fácil à grama e folhas secas, pois é facilmente encontrada em canteiros de obras, casas de marcenaria e hoje também disponível em petshops.

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Outros materiais importantes

Um termômetro de haste longa é necessário para monitorar a temperatura do composto e um medidor de umidade também pode ajudar a monitorar o processo de compostagem. Também será necessário uma pá para adicionar os resíduos e os materiais secos e para movimentar o composto. Para esta última, no entanto, é mais recomendável um rastelo de cabo longo, que torna a tarefa mais fácil. 

É possível compostar em um buraco ou formando uma pilha sobre o solo não impermeabilizado coberto e circundado com matéria vegetal seca, mas será difícil alcançar as altas temperaturas necessárias para destruir os patógenos, assim como realizar a aeração do composto. Por isso, é recomendado utilizar ou construir uma estrutura parcialmente fechada e coberta (a chamada composteira), que permita aerar o composto com facilidade mas mantendo alta a sua temperatura. 

Você pode construir uma com pedaços de madeira, tela aramada de galinheiro, ou reutilizar recipientes como tambores ou caixas-da-água. O importante é que a composteira não seja nem muito larga nem muito alta, para não dificultar o processo mas também não seja pequena ao ponto de não aquecer o suficiente. Aproximadamente 1m³ é considerado um bom tamanho para esse tipo de compostagem.

Serão necessárias duas composteiras (ou uma composteira com dois reservatórios), uma para depositar os resíduos, e outra para a fase mais ativa da compostagem e de onde o adubo pronto será coletado. Para manter a umidade da composteira de maneira mais uniforme, você precisará regá-la de vez em quando. Dessa forma, você pode utilizar uma estrutura que colete a parte líquida que se movimenta para o fundo ao longo da compostagem para reutilizá-lo na própria composteira, ou você pode regar a sua composteira com água. 

Mas atenção!

Altas temperaturas são essenciais na compostagem termofílica, então essa rega não deve diminuir a temperatura da composteira, então antes de regar sua composteira, deixe o líquido escolhido debaixo do sol, para aquecê-lo um pouco e, se for utilizar água, prefira utilizar a de uma cisterna, pois a água clorada pode prejudicar a ação dos microrganismos na compostagem.

Construindo a pilha de compostagem

Seja em uma composteira, ou diretamente no solo, há dois métodos que você pode usar para construir a pilha de compostagem. O primeiro é coletar os materiais separadamente e depois misturá-los todos de uma vez. A vantagem desse método é que os materiais não começarão a se decompor até serem misturados.Você obterá temperaturas mais altas mais rápido quando misturar as fezes do cachorro, carbono, água e ar ao mesmo tempo. Uma sugestão, nesse caso, é coletar as fezes de cachorro em um balde com tampa.

O segundo método é adicionar a fonte de carbono ao resíduo do cão conforme você o coleta e o coloca na composteira. Esse método é mais fácil e, desde que a pilha permaneça seca, muito pouca decomposição deve acontecer até que o material seja revolvido e umedecido com água.

Como a pilha de resíduos mistos de fezes e matéria seca tem um odor mais suave do que se os materiais forem coletados separadamente, muitas pessoas preferem este método. Mas independente de qual for sua escolha, é importante forrar o fundo e as laterais da composteira com matéria vegetal seca, o que irá garantir a entrada de ar e evitar a geração de cheiros desagradáveis. Feito isto, entenda os passos para compostar as fezes do seu cachorro:

Passo a passo

  • Escolha um local seco e ensolarado para colocar a sua composteira. O local não deve estar perto de cachorras prenhas ou que estejam amamentando e nenhum tipo de fluido deve escoar para o local onde o cachorro habita;
  • Para cada duas medidas de fezes de cães, adicione uma de serragem ou outra fonte de carbono. Misture bem após cada adição e adicione mais uma pá de matéria marrom como cobertura;
  • Regue em pequenas quantidades até que a mistura de composto fique tão úmida quanto uma esponja espremida;
  • Continue adicionando material até que o composto esteja entre 1m e 1,5m de altura, aproximadamente;
  • Mantenha a mistura de compostagem sempre coberta com uma tampa, pois isso criará um ambiente favorável para que os micro-organismos quebrem a matéria orgânica, liberando calor, o que aumenta significativamente a temperatura;
  • Insira o termômetro de compostagem diariamente (ou ao menos semanalmente) e registre a temperatura interna (no centro do composto). Quando a temperatura começa a diminuir -o que geralmente acontece em duas semanas – é hora de revolver o composto;
  • Revolva toda a pilha de compostagem – de fora para dentro – para garantir que todo o material atinja as altas temperaturas necessárias para matar os patógenos. Repita o processo toda vez que a temperatura interna do composto cair. Após vários ciclos, o composto não aquecerá, o que indica que o processo de compostagem está completo;
  • Antes de usá-lo, deixe seu composto repousando enquanto enche a outra composteira ou caixa. Isto pode levar vários meses ou até um ano. Esse repouso irá estabilizar o pH e garantir que o processo de decomposição esteja completo, trazendo mais segurança ao uso do composto.

Não deve haver mau cheiro nem devem aparecer animais na sua composteira ao longo desse processo. Caso algum destes aconteça, revise as etapas acima.

A temperatura é importante

A temperatura da mistura do composto é muito importante, pois ela reflete o nível da atividade dos micro-organismos. O centro da mistura do compostagem é o mais quente, então insira o termômetro em direção a ele. Repita isso em vários lugares e anote a temperatura registrada no termômetro para garantir uma temperatura relativamente uniforme. 

As temperaturas nas misturas de composto fresco sobem rapidamente – até cerca de 70°C – e depois diminuem lentamente até a temperatura do composto se aproximar da temperatura do ambiente. Se esse aumento rápido e o declínio gradual das temperaturas internas não acontecerem, talvez seja necessário ajustar a receita do composto. Um termômetro e uma boa manutenção de registros são essenciais para o sucesso.

Para eliminar completamente os patógenos o composto deve permanecer na temperatura entre 60°C e 70°C por vários dias. A temperatura em declínio indica que a atividade microbiana caiu, sendo necessário revirar o composto, levando os materiais externos em direção ao centro, para retomá-la. Será necessário revirar o composto diversas vezes por pelo menos dois meses até o composto ficar maduro.

Tenha cuidado no manuseio da sua composteira, pois as temperaturas do composto tendem a ficar muito altas. Não mergulhe a mão no centro de uma pilha de compostagem ativa. Em casos muito raros, temperaturas extremamente altas podem causar focos de incêndio. Adicione água a uma pilha de composto muito quente para baixar rapidamente a temperatura.

E no inverno?

Em algumas regiões do Brasil, principalmente na região sul, o inverno pode ser bastante severo. Isto pode afetar negativamente o processo de compostagem, pois a pilha de composto dificilmente atingirá as temperaturas necessárias. Além disso, não são condições agradáveis para realizar este tipo de tarefa. Portanto, nessas condições, é recomendável acondicionar as fezes de cachorro, sem outros materiais verdes, misturadas com material seco em baldes fechados e acumulá-los durante as semanas de frio mais intenso, abaixo de 5ºC. Retomando a alimentação da composteira e sua aeração nos dias menos frios.

Use caixas de plástico rígido

Diferente de caixas de madeira que tendem a se desfazer com o tempo, as caixas de plástico rígido duram bastante e são uma alternativa mais prática para quem não quer se aventurar na construção de uma composteira. Além disso, elas tendem a ficar mais quentes no clima frio e úmido, o que pode estender a temporada de compostagem para os meses de outono e inverno com mais tranquilidade.

Como mencionado antes, você pode usar caixas-da-água ou tentar usar caixas plásticas menores sobrepostas e ir trocando-as de posição conforme elas enchem e o composto descansa, de modo semelhante à composteira doméstica convencional, cuja caixa coletora do biofertilizante líquido facilita na reutilização deste na rega para manutenção da umidade do composto. Se for utilizar caixas menores, experimente compostar apenas os resíduos orgânicos da cozinha, se o processo atingir a marca de 70ºC você pode começar a utilizá-las para compostagem de fezes de cachorro.

Preocupações com a saúde

Invisível ao olho nú, o principal patógeno a se evitar são os ovos de nematóides, como os de lombriga. Os cachorros podem se infectar com ovos de nematóides ao engolí-los quando estes estão presentes no solo em que um cachorro infectado defecou. As fêmeas ainda podem passar a infecção para seus filhotes. Se não houver higiene adequada, ao manusear as fezes de cachorro, independente se for para descartá-las ao lixo ou compostá-las, humanos também podem ser infectados se engolirem tais ovos.

Da mesma forma pode haver a transmissão da hidatidose para cães e humanos. Esta doença é causada por espécies do gênero Echinococcus e também pode ser evitada nos humanos a partir da higiene apropriada (1).

A melhor maneira de reduzir os riscos associados à compostagem de fezes de cachorro é mantê-los saudáveis, por meio de exames veterinários regulares e seguir um cronograma de desparasitação orientado por um profissional da área. Se o seu cachorro apresentar qualquer sinal de mal estar ou doença, não composte as fezes dele. Ao invés disto, descarte-as no lixo comum reutilizando um saco de papel.

Por conta disso, ainda que você decida que esse tipo de compostagem não é para você, é importante sempre lavar as mãos após manusear suas fezes e não alimentar cachorros com proteínas de origem animal cruas.

Leve em consideração

Essa modalidade de compostagem não é a mais indicada para varandas ou áreas de serviço de apartamentos, pois necessita de espaço e insolação para atingir as temperaturas que eliminam os patógenos do composto. Apesar de simples, esse método requer dedicação e atenção, não sendo recomendado para iniciantes na compostagem. Caso esse seja o seu caso, prefira descartar as fezes do cachorro no lixo comum, mas reutilizando sacos de papel ao invés de utilizar sacolas plásticas, o que reduz uma parte do impacto ambiental desse descarte.

O volume real de resíduos caninos depende do tamanho do cão e da sua dieta. Um estudo demonstrou que cães alimentados com ração integral fresca, a qual pode ser feita em casa, produzem fezes até 66% menores que as de cães alimentados com ração seca tradicional.

Posso compostar as fezes de gato assim?

Se você tem gatos em casa, você só deve adicionar as fezes desses animais de estimação após se certificar que sua composteira seca atinge temperaturas a partir de 73ºC em sua fase termofílica. Isto porque, até onde se sabe, o gato é o único animal que excreta ovos de Toxoplasma gondii em suas fezes e a toxoplasmose é uma doença que representa grande risco para crianças, pessoas grávidas e com doenças autoimunes, como a AIDS (2). 

Além disso, as fezes felinas podem apresentar vermes intestinais, como platelmintos e também a bactéria Escherichia coli. Dessa forma, se a sua composteira seca não atinge ao menos 73 graus Celsius, ela não será capaz de eliminar tais riscos, que seriam multiplicados com o manejo do adubo e com a contaminação do solo em que esse fosse utilizado. 

Caso sua composteira atinja a temperatura necessária, há outro cuidado a ser tomado: A areia do gato precisa ser biodegradável e ser livre de fragrâncias. Você pode ler sobre as alternativas à areia de gato comum e mais formas de minimizar o impacto ambiental do descarte das fezes do seu gato na matéria  “Como descartar fezes de gato?”.

Outra possibilidade

Um biodigestor pode ser outra alternativa para a reciclagem desses resíduos, com a produção de fertilizante e gás de cozinha. Já existem versões de porte residencial, como o HomeBiogas, um sistema que pode ser facilmente instalado pelo próprio consumidor.

Além disso, existe outro resíduo que pode ser facilmente compostado e que pessoas que tem cachorros e gatos em casa conhecem bem: Os pelos dos animais domésticos! Leia como fazer esssa compostagem e descubra outras alternativas para esse resíduo na matéria “Pelo de cachorro é compostável?“.

Equipe eCycle

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