Um grupo de pesquisadores norte-americanos e canadenses identificou a causa da elevada mortandade do salmão-prateado (Oncorhynchus kisutch) em rios próximos a áreas urbanas no noroeste dos Estados Unidos. A espécie, cujos estoques caíram de forma dramática nas últimas décadas, habita o oceano Pacífico, mas passa o primeiro ano de vida em água doce – parte de sua população retorna ao berço no final da vida para se reproduzir. Em artigo publicado na revista Science, o grupo liderado pelo engenheiro ambiental Edward Kolodziej, da Universidade de Washington, isolou uma substância responsável pela intoxicação e morte de 40% a 90% dos salmões quando eles retornam aos rios para desovar. O composto, chamado 6PPD-quinona, é gerado por uma reação química entre um estabilizante utilizado em borracha de pneus, o 6PPD, e o ozônio da atmosfera. Em estradas com alto fluxo de automóveis, a substância se concentra no asfalto e acaba sendo lixiviada por ação das chuvas para os estuários próximos.
O trabalho para identificar o composto que mata os salmões-prateados foi realizado por uma equipe multidisciplinar, que reuniu biólogos, ecólogos e químicos, e teve a participação de um brasileiro, Flavio Kock, que atualmente faz estágio de pós-doutorado no Departamento de Química da Universidade de Toronto, no Canadá, com financiamento da FAPESP. Kock utilizou ressonância nuclear magnética, seu campo de pesquisa, para elucidar a molécula da 6PPD-quinona. Em 2019, o pesquisador recebeu o Prêmio Capes de Tese na categoria Química, por sua pesquisa de doutorado sobre aplicações de ressonância magnética nuclear (ver Pesquisa FAPESP nº 297).
“Com base nessa informação, o próximo passo será avaliar detalhadamente a ação desse composto químico no sistema fisiológico dessa espécie de salmão. Assim, será possível compreendermos em um nível mais aprofundado as razões que levam esses animais à morte”, afirma o pesquisador. De acordo com ele, a descoberta deve desencadear uma pressão por mudança em normas ambientais a fim de que a indústria de pneus substitua o 6PPD por outro material. “Essa é a opção mais provável para deter a mortandade. A outra seria criar um sistema de filtragem da água da chuva em cidades da costa oeste, mas essa alternativa se apresenta financeiramente inviável”, afirma Kock.
De acordo com Edward Kolodziej, foram analisados mais de 2 mil compostos químicos encontrados na água de rios onde a mortandade é alta, descartando as que têm baixa toxicidade e se debruçando sobre aquelas com maior potencial para atingir organismos vivos. “As pessoas imaginam que sabemos quais produtos químicos são tóxicos e que basta controlá-los para garantir uma boa qualidade da água. Mas, na verdade, os animais são expostos a uma sopa química gigante e não conhecemos todos esses produtos”, afirmou o pesquisador, de acordo com material de divulgação da Universidade de Washington.
Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos.
Saiba mais